Cambridge, Massachusetts – Todos os dias, em salas de aula através dos EUA, estudantes tomam notas silenciosamente em laptops e antiquados cadernos, ou pelo menos fingem. Recentemente, porém, 250 acadêmicos e leigos se reuniram na universidade de Harvard para um exercício mais autoconsciente: uma oportunidade de tomar notas sobre a tomada de notas.
A ocasião era a "Take Note", conferência que concluiu uma iniciativa de quatro anos para explorar a história e o futuro do livro, patrocinada pelo Radcliffe Institute for Advanced Study. O evento atraiu historiadores, estudiosos de literatura, psicólogos e cientistas da computação – incluindo diversos "criadores de notas" (como diria a terminologia atual) ávidos por brincar com as possibilidades de papel e tela.
"Pensei que tomaria minhas notas de uma nova maneira hoje", declarou Judith Davidson, professora de educação da Universidade de Massachusetts, em Lowell, que usava o software Penultimate e uma caneta stylus para escrever notas cursivas em seu iPad – isso quando não estava preenchendo espaços vazios com desenhos abstratos. "Muitas coisas passam por sua cabeça quando você está tomando notas", explicou ela.
As longínquas ideias que passam pelas cabeças de acadêmicos quando eles pensam em notas ficaram claras no encontro, que durou um dia todo. As apresentações abordaram os tópicos anotados na mão de Sarah Palin durante um discurso, folhetos de postes e publicações no Twitter sobre a conferência que foram lidos no palco (o evento foi transmitido ao vivo pela internet), muitos dos quais expressando preocupação sobre as habilidades de tomar notas dos próprios ouvintes.
Mas a conferência foi mais do que uma celebração de anotações extravagantes e egocentrismo acadêmico. O estudo das notas – sejam elas feitas em livros comuns, em fichas ou em apostilas – é parte de uma pesquisa acadêmica mais ampla da história da leitura, um campo que ganhou terreno conforme o crescimento da tecnologia digital fez o encontro entre livro e leitor parecer mais frágil e fugidio do que nunca.
"A nota é o registro que um historiador possui das leituras passadas", afirmou Ann Blair, professora de história em Harvard e uma dos organizadores da conferência. "O que significa ler, afinal? Mesmo analisando de forma introspectiva, é difícil saber o que você está levando consigo em dado momento. Mas as notas nos dão esperança de nos aproximarmos do processo intelectual."