Coelhinhas, bailarinas, punks, abelhas e perucas coloridas sobressaíam-se entre a multidão de fantasias de bolinhas pretas na manhã deste sábado (18) no centro do Rio, no mais tradicional e repleto bloco de rua carioca, O Cordão da Bola Preta. Devido ao forte calor de mais de 30 graus Celsius (ºC), a maioria optou por roupas leves e curtas, sobretudo, os homens cujas sainhas e sutiãs eram mais ousados que os das foliãs.
A concentração começou às 8h. Às 10h, quando o bloco saiu, a Avenida Rio Branco estava tomada de pessoas sambando e cantando marchinhas. Pela segunda vez no carnaval carioca, a paraense Rosiclea Margalha disse que o Bola Preta foi tão marcante no ano passado que este ano ela trouxe a filha e a irmã.
“Foi emocionante. É um carnaval muito nostálgico. A gente lembra da infância, das músicas daquela época e se arrepia. Ano passado viemos eu, meu marido e meus cunhados. E este ano trouxemos o resto da família”, disse a fisioterapeuta, com um vestido branco de poá preto, estampa idêntica a do restante dos parentes.
Para Sidney Souza de Assunção, este é o sétimo ano no Bola Preta. Precavido, trouxe uma caixa de isopor com rodinhas, carregado de bebidas para ele e os amigos. “São mais de dez engradados de cerveja. Dá para este e os outros blocos para onde iremos depois. Ainda não sei qual. Na hora a gente vê”, disse o jovem coberto por uma espessa barba e peruca preta, numa mescla entre o chefe da Al Qaeda Osama Bin Laden e o Brutus, o algoz do Popeye.
O secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório, garantiu que a prefeitura se preparou para receber cerca de 2 milhões de pessoas no bloco, com centenas de garis e banheiros químicos. “A Bola Preta talvez seja o maior desafio de logística do carnaval. E acredito que irá arrastar mais de 2 milhões de foliões e bater o recorde em número de pessoas no mundo inteiro. São mais de 500 garis da Comlurb [Companhia Municipal de Limpeza Urbana] espalhados por toda a [Avenida] Rio Branco, além da última ala do bloco que é composta pelos garis, que vão fazendo a limpeza à medida que o bloco avança”, explicou Osório.
Moradora de Bangu, zona oeste, Renata da Silva de Mattos aprovou a organização do bloco. Na fila para um dos banheiros químicos com a filha Yasmim de 2 anos, a dona de casa disse que pretende voltar no ano que vem. “Como não estou trabalhando este ano, aproveitei a oportunidade e vim conhecer. Gostei muito”.
O Cordão do Bola Preta foi fundado em 1918. Suas cores são o Branco e o Preto, e o uniforme oficial é qualquer roupa branca com bolinhas pretas. O bloco toca apenas marchinhas, a última delas é a Cidade Maravilhosa, composta por André Filho em 1935.
O Ministério Público Federal propôs, no último dia 13, uma ação civil pública por improbidade administrativa contra os ex-governadores do Rio Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho, além de outras 17 pessoas. Os acusados são, segundo o MP, envolvidos num esquema que desviou verba pública federal em favor de campanhas eleitorais do casal Garotinho. Se condenados na Justiça Federal, entre outras penas, o casal Garotinho poderá perder os direitos políticos por até dez anos.
O procurador da República Edson Abdon sustenta que o “Esquema das ONG's”, supostamente montado na gestão da governadora Rosinha, envolvendo a contratação irregular de organizações não governamentais pela Fundação Escola do Serviço Público (Fesp) — órgão estadual — também desviou recursos de uma empresa pública federal: a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). O Ministério Público estadual já apontara o desvio de recursos públicos estaduais no “esquema”.
O MPF constatou que a CPRM contratou, em 2 de janeiro de 2004, a Fesp, num contrato emergencial e sem licitação, para prestar serviços técnicos de informática. O valor do contrato foi de R$ 780 mil. Um mês antes, no entanto, a Fesp, incapaz de prestar ela mesma o serviço, já tinha recebido três orçamentos de organizações para a subcontratação. O escolhido foi o Instituto Nacional de Aperfeiçoamento da Administração Pública (INAAP), que cobrou R$ 757 mil. O MPF constatou que o serviço nunca foi realizado.
“(...) a inevitável conclusão que se chega é a de que os recursos empregados pela empresa pública federal possuíam um único destino: o financiamento das campanhas eleitorais dos réus Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho”, diz o procurador na ação.
O procurador lembra que, num processo anterior, o Ministério Público estadual constatou também a remessa de dinheiro repassado a essas ONGs pelo governo Rosinha para as campanhas do casal Garotinho.
Procurado, o ex-governador Anthony Garotinho disse que não tinha conhecimento da ação movida pelo MPF. Disse ainda: “Não dá para acreditar que seja sério (a ação). Todo ano de eleição é assim. Ficam esquentando coisas antigas”.A ex-governadora Rosinha não foi encontrada.