“O problema da sexualidade começa no problema que os pais têm com sua própria sexualidade, que precisam ser resolvidos para que possam orientar seus filhos de maneira adequada”, afirma o psicólogo Herbert Thomas Luckmann. “Vivemos numa realidade onde as pessoas têm muitas maneiras subjetivas de ver a sexualidade, dependendo de sua origem, de seu grupo social, de sua religião, de seus valores. Têm pessoas muito tranquilas com isso e outras não. Mas são essas pessoas que vão ajudar seus filhos a encontrar suas próprias respostas”, continua.
Segundo o psicólogo, a sexualidade é uma coisa normal, e crianças e adolescentes são, antes de qualquer coisa, pessoas. “É importante que o adulto não enxergue a sexualidade do jovem como algo de sua propriedade. Muitas vezes os pais tratam a sexualidade de seus filhos como algo que lhes pertence”, comenta.
O psicólogo afirma que é preciso tratar o assunto com naturalidade. “As pessoas não têm que se sentir constrangidas com uma coisa que é natural. Tenho um material de orientação sexual para crianças de três a oito anos. Crianças dessa idade já têm curiosidades sobre parto e diferenças entre meninos e meninas”, declara.
Luckmann conta que seu trabalho de conclusão de curso na faculdade foi de orientação sexual para crianças de 4ª. série. “Trabalhamos com as crianças com o consentimento dos pais. Foi impressionante ver tudo o que elas já sabiam. Talvez os pais ficassem surpresos com isso”, analisa.
“É preciso ter equilíbrio, não extorquir informação e nem ser omisso. Filhos de pais omissos fazem declarações assustadoras em consultórios. Eles sabem que os pais são omissos e sentem falta de controle, de conversa, de limite. Pode ser confortável para o pai não falar sobre isso, mas para o filho isso gera um problema de auto-estima”.
Fenômeno Social
Segundo ele, é preciso entender que o sexo é também um fenômeno social e que, ao mesmo tempo que em casa é tratado como tabu, na escola está todo mundo falando sobre. “O sexo tem acontecido muito cedo porque as pessoas estão com pressa de tudo e também muito mal orientadas”, declara o psicólogo, que acredita que o sexo também promove uma pressão muito grande nas pessoas. “Quando eu era garoto, vários pais levavam seus filhos nos prostíbulos. Acho que tudo tem seu momento”.
Ainda de acordo com ele, alguns jovens têm pressa de perder a virgindade para poder participar de um grupo diferenciado. “Existem grupos que, ao contrário, são muito conservadores, o que eu também não sei se é bom. Embora você possa optar por não fazer sexo, todo mundo é sexual, querendo ou não, isso é inerente ao ser humano”, analisa.
Problema da falta de informação
O psicólogo comenta que existem pesquisas que mostram que muitos adolescentes têm ideias malucas sobre engravidar, por exemplo. “Tem jovem que acha que se jogar ducha de coca-cola na vagina ou que se ejacular fora não vai engravidar. Pura falta de informação.
Luckmann também afirma que há uma grande incidência de doenças sexualmente transmissíveis, em algumas regiões, em crianças de 12 anos, por falta de informação. “Não é crime não estar à vontade com sua sexualidade, nem bem informado, mas se você não sabe, procure aprender sobre isso. Existem bons materiais nas livrarias, na internet. Você pode ‘esquecer’ esses materiais sobre a mesa”, diz. “Os jovens não querem saber de muita conversa, às vezes acham isso embaraçoso e constrangedor”, continua.
Segundo ele, o ideal é tratar o assunto de maneira natural, compartilhar e oferecer informações. “Eles querem respostas objetivas. Não use termos muito técnicos, não tenha medo do assunto. Aprenda sobre o assunto”, explica. “E não deixe pra pensar nisso quando seu filho tiver 18 anos, existe uma grande chance de um problema aparecer antes da conversa”.
Segundo ele, é muito importante que os pais falem sobre a responsabilidade de ter um filho, que não é como brincar de boneca, que aquela criança será uma pessoa que vai precisar de ajuda para se desenvolver, caso contrário será infeliz, complicada e problemática. “As pessoas tem mania de pensar ‘não vai acontecer comigo’. Prevenção não é uma questão de sorte e sim de planejamento”.