CAIRO e LONDRES - Autoridades financeiras do Egito anunciaram ter levantado nesta segunda-feira US$ 2,2 bilhões no mercado mediante um leilão de títulos do Tesouro do país, num esforço do governo para manter a confiança dos investidores após a onda de manifestações pela renúncia do presidente Hosni Mubarak. Diante de protestos que tomam conta das ruas das principais cidades do país desde o fim de janeiro, a libra egípcia viu seu valor despencar para o menor patamar em seis anos.
As iniciativas do Tesouro revelam esforços frenéticos do governo para controlar os danos à economia de uma nação que já foi vista como pilar da estabilidade na região. Turistas fugiram aos milhares do Egito, ao mesmo tempo em que bancos e a Bolsa foram fechados por mais de uma semana, à medida que os protestos resultaram em violência. Ontem, o governo anunciou que a Bolsa vai reabrir no próximo domingo.
O leilão dos títulos T-bill do governo arrecadou 13 bilhões de libras egípcias (US$ 2,2 bilhões) em ofertas, oferecendo ao governo um raro momento de boa notícia, numa semana em que se estima que o impacto dos protestos abateu até 25% do valor da libra egípcia e um corte no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) de 5,3% para 3,7%. Os títulos T-bill de três meses foram negociados com ágio médio de 11%, segundo o site do Banco Central.
Segundo operadores e economistas, os compradores dos papéis foram essencialmente bancos domésticos, já que as instituições internacionais permaneceram relutantes em entrar no mercado em meio à convulsão que toma conta do país e às incertezas sobre o futuro.
- Havia uma expectativa no mercado de um ágio bem mais alto do que o que se verificou no leilão - disse Khalil el-Bawab, chefe de renda fixa do banco de investimentos com sede no Cairo EFG Hermes. - Graças à liquidez do sistema bancário foi possível conter o ágio.
Apesar do sucesso do leilão, a falta de confiança era evidente, com os bancos entrando em seu segundo dia de negócios, após uma semana em que o setor ficou fechado. Analistas disseram esperar uma grande saída de recursos, com os investidores se desfazendo de libras egípcias ou transferindo suas aplicações para o dólar.
Portos ainda não operam normalmente no país
O Banco Central (BC) havia previsto uma onda de retirada na reabertura dos bancos no domingo, dando aos egípcios a primeira chance de sacar seu dinheiro das contas. O BC injetou cinco bilhões de libras egípcias e estabeleceu tetos de saques a 50 mil libras e câmbio a 10 mil libras. Mas a temida corrida aos bancos não ocorreu, apesar dos sinais evidentes de nervosismo entre os correntistas.
Na segunda-feira, a libra voltou a cair ante o dólar, recuando para 5,95 por moeda americana. Esse patamar é o menor desde janeiro de 2005.
A restrição dos serviços bancários e os atrasos nos portos reduziu o volume de embarques para o Egito, embora o país não enfrente qualquer escassez de grãos, revelaram fontes navais e do setor mercante. Segundo essas fontes, as operações nos portos mediterrâneos de Alexandria, Damlet e Port Said, que administram embarques a granel e contêineres de grãos, ainda não voltaram a sua plena capacidade.