Se a decisão desta terça-feira, 17, do Palácio do Planalto resultar num adiamento, e não no cancelamento da visita de Dilma Rousseff a Washington, a relação bilateral poderá beneficiar-se do incidente provocado pela espionagem dos EUA. Por ora, há o embaraço de Barack Obama e a frustração de Dilma, que trabalhou nos últimos anos para reconstruir o diálogo com Washington - detonado ao fim do governo Lula - e entende que uma relação mais produtiva com os EUA ajuda o Brasil.
Sendo mesmo um adiamento, a líder brasileira faturará duas vezes. Agora, ao demonstrar que não leva desaforo para casa. E mais tarde, quando realizar a visita, que só acontecerá se as dificuldades de hoje forem superadas. Para isso, Obama e Dilma terão que promover agora um diálogo franco e efetivo, que crie um clima de confiança mútua hoje inexistente e sem o qual não se produzirá o estreitamento das relações.
O argumento segundo o qual a postergação da visita teve motivações políticas é fraco. Supondo que o Planalto pensa, de fato, em reprogramar a visita para abril ou maio do ano que vem, como se ouve por lá, Dilma terá que estar muito bem nas pesquisas de opinião. Se não estiver, Washington resistirá, sob o argumento de não se intrometerá numa disputa à presidência no Brasil.
Nesse caso, ou no caso de a visita ficar para 2015, restará aos que recomendaram à Dilma nas últimas duas semanas fazer gestos fortes, como chamar de volta o embaixador a Washington para consultas e cancelar pura e simplesmente a visita, provar sua tese, ou seja, que ter uma relação fraturada com os EUA rende votos entre os eleitores da crescente classe média consumista, que adora emular usos e costumes americanos e provavelmente decidirá as eleições.
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