Há três anos, a fotógrafa holandesa Claire Felicie se perguntou: “Será que o rosto dos soldados muda por causa da guerra?” Para tirar a dúvida, ela decidiu retratar 20 marinheiros da 13ª infantaria de seu país que serviriam no Afeganistão. Ao longo de quase um ano, entre 2009 e 2010, Claire compôs a série a partir de três momentos decisivos: clicou os jovens cinco meses antes da partida, durante a guerra e dois meses depois da volta para casa, na base de Doorn.
Assim surgiu o projeto “Here are the young men” (“Eis os rapazes”), que desde semana passada está arrecadando fundos no site de crowdfunding Indiegogo (veja aqui). A ideia é angariar € 12 mil até o final de março de 2013, para que os trípticos ganhem forma de livro ainda no primeiro semestre.
Em entrevista ao site “Boom”, Claire explica que a primeira foto dos soldados, todos na faixa dos 18 aos 26 anos, foi tirada num clima tão risonho que ela precisava pedir que se concentrassem. Eles estavam eufóricos, faziam piada o tempo todo. A fotógrafa passou 30 minutos com cada um, clicou-os três ou quatro vezes e pediu que escrevessem uma carta para alguém que amassem. Conversaram sobre a escolha da profissão, suas ambições.
No segundo momento, desta vez com pouquíssimo tempo, Claire tinha direito a apenas um clique para cada um. Foi aí que ficou nítida a mudança de atmosfera. As evidências do “durante”, no Afeganistão, aparecem na pele exposta ao sol, conforme explica a holandesa: “É claro que eles ainda faziam piada, mas vi que as experiências de combate e de morte dos seus companheiros tiveram impacto sobre eles. O ambiente era severo, e os garotos estavam exaustos das patrulhas diurnas e noturnas.”
Na volta, os soldados não queriam falar sobre o que passaram, disseram apenas que não tinham mudado com a guerra. De fato, à primeira vista, Claire não viu muita diferença. Até que revelou os negativos e comparou o primeiro retrato com o último. Embora os rostos pareçam neutros, com o mínimo possível de expressão, aquele entusiasmo não estava mais lá. O olhar endureceu, ficou mais fundo.
As transformações não são chamativas em todas as imagens, às vezes aparecem nuançadas. No entanto, olhando da esquerda para a direita, é inegável que alguma coisa se passou por ali, uma experiência de vida brutal que se materializa no rosto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário