Marcos Pereira
"Não nascemos para ser legenda de aluguel"
Presidente nacional do PRB, o partido
criado pelo ex-vice-presidente José Alencar, diz que na campanha
municipal vai mostrar que é possível fazer política sem mensalões,
Cachoeira ou sanguessugaspor Mário Simas Filho
SUPERAÇÃO
"Não nascemos para
ser legenda de aluguel"
Pereira venceu os desafios de uma infância
sofrida e agora quer eleger o prefeito de São Paulo
"Em São Paulo, o Netinho de Paula (PCdoB) tem
conversado conosco e admite a possibilidade de
compor uma chapa que tenha o PRB como cabeça"
"Em apenas dois meses, Marcelo Crivella não
comprou nenhuma lancha e revolucionou o
esquema de gestão no Ministério da Pesca"
Istoé -
Muitos dos chamados
pequenos partidos servem como legenda de aluguel para os grandes, que
precisam obter maior tempo de televisão, por exemplo. Por que acreditar
que com o PRB será diferente?
Marcos Pereira -
Temos uma forma diferente
de encarar a política e gerir o partido. Vamos disputar a eleição
municipal com mais de 300 candidatos a prefeito em todo o País. O que
nos difere é que queremos efetivamente construir um partido. E para
desenvolver um partido é preciso disputar uma eleição majoritária. Foi
assim com os que hoje são grandes. O PT teve várias derrotas, mas
enquanto o Lula perdia o partido crescia. Nós não nascemos para ser
partido de aluguel.
Istoé -
Mas o PT nasceu com um
forte apelo ideológico, reunia uma ampla base sindical e abrigava boa
parte da esquerda. Qual é a pegada do PRB?
Marcos Pereira -
O partido foi criado por
pessoas que não aceitam o desrespeito com o dinheiro público. É o caso
do ex-vice-presidente José Alencar e outros líderes como o senador do
Rio, Marcelo Crivella, que deixaram o PL quando foi descoberto o
envolvimento do partido com o esquema do Mensalão. Nossa pegada será
mostrar que não estamos envolvidos com Cachoeira, Mensalão ou
sanguessugas. Todas as grandes legendas estão envolvidas com escândalos
que já cansaram a população. A origem do nosso partido deixa claro que
somos diferentes. O nome de partido republicano traduz exatamente o
nosso desejo de resgatar a questão da paixão pela república, do respeito
pela coisa pública, pelo bem público. E isso ficará claro para o
eleitor.
Istoé -
Será então a vez de o PRB empunhar a bandeira da ética na política?
Marcos Pereira -
Temos autoridade moral para
isso, mas vamos além. Vamos mostrar que é possível administrar como
gestores da coisa pública, com planejamento e priorizar a gestão sobre a
política.
Istoé -
que isso significa na prática?
Marcos Pereira -
Queremos mostrar para a
população a forma republicana de governar. É fazer e fiscalizar,
acompanhar o que está sendo feito. Cobrar para que cada passo do
processo seja cumprido com rigor. Isso é gestão. Isso é administrar. É
possível governar para todos e não para grupos com interesses
particulares.
Istoé -
O senador Marcelo Crivella tem feito isso no Ministério da Pesca?
Marcos Pereira -
Claro. O Crivella é um
sujeito honesto e trabalhador dedicado. Em dois meses, ele já mostrou
muito. Repito, em apenas dois meses, ele não comprou nenhuma lancha e
revolucionou o esquema de gestão no Ministério da Pesca.
Istoé -
O sr. pode citar um exemplo concreto?
Marcos Pereira -
No início de abril,
Crivella foi a Santa Catarina entregar as licenças da pesca da tainha,
que é muito forte para a economia do Estado e para a vida dos
pescadores. O período da pesca é maio, junho e julho. Em anos
anteriores, o ministério entregava a licença faltando um mês para
terminar a temporada, trazendo grandes prejuízos para a população local.
O Crivella entregou um mês antes do início. Isso é gestão. Um
empresário do ramo da pesca escreveu em um artigo que quem defendia a
proposta de extinção do Ministério da Pesca, para fusão com o Ministério
da Agricultura deve estar se moendo de raiva.
Istoé -
Para essa mensagem chegar
à população é preciso tempo de televisão e dinheiro para fazer uma
campanha com visibilidade. O PRB tem recursos para isso?
Marcos Pereira -
Esse é o nosso grande
desafio. Fazer uma campanha diferente, que nos impeça de, daqui a alguns
anos, passarmos por algo semelhante ao que condenamos. Precisamos de
uma reforma política para resolver essa questão.
Istoé -
Qual é a reforma política que o PRB defende?
Marcos Pereira -
Não somos a favor do
financiamento público das campanhas nos moldes que está proposto hoje.
Isso irá favorecer só os grandes partidos. Achamos que precisamos
assegurar a pluralidade de ideias. Queremos rever o tempo de televisão,
mas não acho que deve ser igual para todos.
Istoé -
Mas o que efetivamente o partido defende?
Marcos Pereira -
Precisamos discutir
bastante com a sociedade. Trazer esse debate para público. Penso que
podemos fazer algo como nos Estados Unidos, onde as pessoas físicas
podem fazer doações e a coisa funciona. Aqui o limite para a doação de
pessoas físicas é muito pequeno. Se pudéssemos estimular os
simpatizantes a doarem nos moldes dos EUA talvez fosse uma solução.
Istoé -
Nas últimas eleições, o ex-presidente José Alencar foi a principal âncora do partido. E agora?
Marcos Pereira -
Mantemos vivos os ideais do
José Alencar e temos grandes puxadores de voto, como o Crivella no Rio e
o Celso Russomano em São Paulo.
Istoé -
O PRB aposta alto na eleição de São Paulo. Qual a estratégia?
Marcos Pereira -
Teremos candidatos próprios
em três capitais: São Paulo, Salvador e Maceió. Mas São Paulo é a única
eleição que tem repercussão nacional. Nossa dificuldade é o tempo de
tevê. Vamos ter cerca de um minuto apenas. Preciso buscar composição com
partidos maiores para superar isso.
Istoé -
Por que partidos maiores iriam abrir mão de uma candidatura para compor com o PRB?
Marcos Pereira -
Em troca temos a oferecer a
candidatura do Celso Russomano, que está em segundo lugar nas
pesquisas, perdendo apenas para o ex-governador José Serra. É um
candidato conhecido, sem rejeição. Esse é um patrimônio considerável.
Istoé -
O PRB apostava em um entendimento com o PMDB, mas isso não deu certo...
Marcos Pereira -
Continuamos a conversar com
o PCdoB , PSB e PDT. A proposta é formar um bloco e em junho o
candidato que estiver melhor representará o grupo como cabeça de chapa. A
ideia é fechar esse acordo até o fim do mês.
Istoé -
Mas o PDT e o PCdoB também têm candidatos próprios e com força eleitoral (Paulo da Força e Netinho de Paula)?
Marcos Pereira -
A única hipótese de não manter o candidato próprio é se algum outro desse grupo conseguir estar na frente de Celso Russomano.
Istoé -
E eles admitem abrir mão da cabeça de chapa? O deputado Gabriel Chalita, do PMDB, já disse não?
Marcos Pereira -
O Netinho de Paula, do
PCdoB, tem conversado conosco, inclusive com o próprio Celso Russomano, e
admite a possibilidade de compor uma chapa que tenha o PRB como cabeça
em São Paulo.
Istoé -
E o PDT?
Marcos Pereira -
O Paulinho diz que é candidato, mas o PDT não fechou as portas e estamos em conversação.
Istoé -
Em São Paulo, o PSB é a
noiva disputada pelo ex-presidente Lula e pelo governador Geraldo
Alckmin. Faz parte da base do governo federal e do secretariado do
governador. Por que fechariam com o PRB?
Marcos Pereira -
Somos a melhor opção para eles.
Istoé -
Por quê?
Marcos Pereira -
Vivemos a mesma situação,
pois apoiamos o governo de Dilma Rousseff e na Assembleia de São Paulo
compomos a base de apoio do governador Geraldo Alckmin.
Istoé -
E o PSB também pensa assim?
Marcos Pereira -
Falei para o governador
Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, que somos a melhor opção
para o PSB em São Paulo. Não desagradamos nem ao governo federal nem ao
governo estadual.
Istoé -
E como o governador reagiu?
Marcos Pereira -
Ele gostou da ideia. Falou
que viajaria para a China e voltaríamos a conversar na sua volta, o que
deve ocorrer nos próximos dias.
Istoé -
O ex-presidente Lula não procurou o PRB em São Paulo?
Marcos Pereira -
Falei com ele há poucas
horas. Ele comentou as pesquisas e manifestou que gostaria de ter nosso
apoio. Mas eu disse que não podemos abrir mão da candidatura própria,
pois queremos construir um partido e, para isso, precisamos disputar a
eleição, principalmente em São Paulo. O presidente Lula compreende muito
bem essa posição.
Istoé -
Quanto o PRB pretende gastar na eleição para prefeito de São Paulo?
Marcos Pereira -
Cerca de R$ 30 milhões. Isso é pouco em relação ao que os grandes pretendem gastar.
Istoé -
Como vão arrecadar esses recursos?
Marcos Pereira -
Estamos conversando.
Istoé -
Algum partido dos chamados grandes já ofereceu ajuda para a campanha do PRB em troca de eventual apoio no segundo turno?
Marcos Pereira -
Não. Todos sabem que
queremos mesmo fazer política de forma diferente. Esse tipo de coisa
pode estar na origem do Mensalão. O Brasil clama por algo novo, por algo
transparente e nós somos o novo.
Istoé -
Por seu tamanho, o PRB não participa da CPMI do Cachoeira, mas como o sr. avalia a atuação dessa comissão?
Marcos Pereira -
Somos a favor de que tudo
seja apurado. Mas acho que a CPI precisa melhorar. Não pode haver nada
secreto. A regra da legislação brasileira é a publicidade. O segredo é
exceção. E a CPI parece não estar atenta a isso.
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