A autora inicia o estudo citando o caso conhecido como da Escola Base,
onde, em síntese, aconteceu o seguinte: em 28 de março de 1994, duas
mães prestaram queixas na delegacia do bairro Cambuci, São Paulo,
aduzindo que seus filhos de quatro e cinco anos estavam sendo molestados
sexualmente na escola e talvez levados dentro de um veículo Kombi para
prática de orgias em um motel, onde seriam fotografados e filmados. Os
acusados seriam os proprietários da Escola Base, Icushiro Shimada e sua
mulher Maria Aparecida, além do motorista Maurício Alvarenga.
O
delegado Edélcio Lemos e a maior parte da mídia encamparam a denúncia
como fato comprovado. Noticiários de televisões e grande jornais
extraíram do episódio o que de mais sórdido puderam supor, circulando
com manchetes do tipo “Perua escolar carregava crianças para orgia”
(Folha da Tarde) ou “Kombi era motel na escolinha do sexo” (Notícias
Populares). “Escola de horrores”, sentenciou a revista Veja, da editora
Abril, de circulação nacional e semanal. Em pleno jornal do meio-dia,
emissoras de televisão pediam a um menino de quatro anos que contasse
detalhes sobre o suposto molestamento sexual. “A tia passou a mão em
você?”, sugeria a repórter da TV Globo à criança que inocentemente
brincava com o microfone.
Ao final do inquérito os acusados foram
declarados inocentes. Nem denunciados foram. O fato foi parar na
Justiça. As três vítimas receberam indenização do Estado por terem sido
injusta e criminosamente acusados de molestar alunos. A indenização
concedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, inicialmente, era de
apenas cem (100) salários mínimos distribuídos entre o casal e o
motorista. Com o recurso apresentado, fixou-se R$100 (cem) mil reais
para cada um, a título de reparação moral e uma quantia a ser calculada
para cobrir danos materiais. A mulher, Maria Aparecida, receberá pensão
vitalícia por ter sido obrigada a abandonar o ramo da educação. Quanto
ao delegado Lemos, este recebeu a condenação de pagar do próprio bolso
R$ 10 (dez) mil reais pela denunciação caluniosa. Ações também foram
ajuizadas contra os veículos de comunicação.
Em suma, o Estado
“resgatou sua dívida com a sociedade”; o delegado arcou com as
consequências de seus atos abusivos, mas e a imprensa? Esta não tirou da
lição tudo o que podia e devia, pois continua condenando, destruindo
sonhos e projetos de vidas.
No caso típico da Escola Base, os
supostos réus nunca mais serão os mesmos; perderam emprego, saúde e paz.
Isolaram-se da comunidade. Sofreram rigorosamente um assassinato
social.
O Blog do Guilherme Araújo é um canal de jornalismo especializado em politicas publicas e sociais, negócios, turismo e empreendedorismo, educação, cultura. Guilherme Araújo, CEO jornalismo investigativo - (MTB nº 79157/SP), ativista politico, palestrante, consultor de negócios e politicas publicas, mediador de conflitos de médio e alto risco, membro titular da ABI - Associação Brasileira de Imprensa.
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