Enquanto os 94 deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo gastam, em média, cerca de R$ 18 mil ao mês para manterem seus gabinetes, o deputado Orlando Bolçone (PSB) consegue fazer o mesmo com menos de R$ 1 mil ao mês. Em seu primeiro cargo eletivo, o economista de 62 anos gastou 30 vezes menos do que a deputada que mais utilizou a verba indenizatória no primeiro semestre do ano. Desde que assumiu, Bolçone poupou mais de R$ 20 mil por mês, já que o limite mensal de uso da verba é de R$ 21.812,50 por deputado. Se mantiver a média de gastos, poderá economizar R$ 952 mil até o final do mandato.
O segredo da eficiência com o dinheiro público, segundo o deputado, é austeridade e organização. “Se você programar sua viagem, por exemplo, sai mais barato. Eu sempre pesquiso os preços. Compro passagens por R$ 69”, diz. Todas as sextas-feiras, Bolçone volta para sua base eleitoral, em São José do Rio Preto, a 440 quilômetros da capital paulista. Lá, atende eleitores e aliados em seu escritório político e, às 19 horas, leciona economia regional em uma faculdade da cidade. “As aulas não impactam meu trabalho na Assembleia. Fico em São José na segunda-feira e depois vou para a capital”, conta.
Por ser proprietário do apartamento que divide com a filha, Orlando Bolçone doa os R$ 2.250 que recebe de auxílio-moradia. “Temos um apartamento que comprei num consórcio. Como pela legislação não tem como devolver o dinheiro, faço doações mensais”, afirma. Em 2002, o benefício foi incorporado ao salário de R$ 20.042,34 mensais. Com isso, todos os parlamentares recebem automaticamente o valor, mesmo que tenham imóveis na capital.
As quatro instituições de São José do Rio Preto indicadas pelo deputado - todas voltadas para o atendimento de crianças e adultos com problemas de saúde - confirmaram depósitos dos valores referentes ao auxílio-moradia. “Não fiz essas doações com o objetivo de publicidade. Eu sempre fiz doações”, garante. Segundo o deputado, quando foi secretário municipal, repassava os valores recebidos como pagamento extra por participação em comissões, o chamado jeton, a entidades sociais. Em média, ele recebia um salário mínimo a mais por cada reunião do Conselho da Criança e do Adolescente.
Admirador do sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho, Orlando Bolçone se classifica como um político sem militância partidária. “Não tenho militância, não vou pra rua”, diz. O deputado, que já foi do PMDB, PPS e hoje está no PSB, trabalhou com o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e com o ex-presidente da Câmara dos Deputados Ulysses Guimarães, morto em 1992.
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Eu sempre pesquiso os preços. Compro passagens por R$ 69
Atuação parlamentar
Para a organização não-governamental Transparência Brasil, 96,7% dos projetos apresentados por Orlando Bolçone desde que assumiu a cadeira na Assembleia, em 15 de março, podem ser considerados “sem relevância”. Foram 114 requerimentos de congratulações pelo aniversário de municípios do interior paulista, um requerimento pelo “elevado significado dos trabalhos da revista Unesp Ciência” e um projeto que dá nome a uma passarela em São José do Rio Preto.
Outros quatro requerimentos, ou 3,3% do total, podem ser considerados “relevantes”, segundo a ONG. Um dos projetos de lei de Bolçone dispõe sobre a segurança em parques de diversões. Foi aprovado em plenário e aguarda sanção do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Outra proposta apresentada, mais polêmica, autorizaria o Poder Executivo a manter sob sua tutela e internar compulsoriamente crianças e adolescentes em situação de risco por uso de drogas. O projeto está em tramitação na Assembleia.
Bolçone apresentou, ainda, um projeto de lei que obrigaria fabricantes de celulares a incluírem um alerta sobre riscos do uso continuado do aparelho. O projeto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e encaminhado à Comissão de Saúde. Outro requerimento do deputado, encaminhado à CCJ, é um projeto de lei complementar que criaria a Aglomeração Urbana de São José do Rio Preto.
O deputado esteve presente em todas as seis reuniões da Comissão de Finanças, Orçamento e Planejamento, da qual é membro permanente. Desde que assumiu, participou de sessões em plenário como orador por 12 vezes. Na grande maioria das vezes, aproveitou para falar sobre questões relacionadas ao seu município e à região noroeste do Estado de São Paulo.
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