RIO - Muricy Ramalho sempre diz que no futebol não há tranquilidade. Aquele em sua equipe que quiser calmaria, é melhor ficar em casa. Pois é neste clima de estresse e farpas para todos os lados que o tricolor se prepara para o Fla-Flu de amanhã. O presidente Peter Siemsen disse, em um almoço nas Laranjeiras, na última quinta-feira, que estava preocupado com o rendimento da defesa às vésperas do clássico e com as constantes reclamações do técnico sobre a estrutura do clube. Ontem, Muricy chamou o gramado das Laranjeiras de ruim e respondeu que o presidente tem apenas que torcer, quando falou sobre a perda da hegemonia de títulos estaduais para o Flamengo (31 a 30). A situação do técnico é delicada e ontem circulou pelas Laranjeiras notícia de que ele poderá entregar o cargo depois do jogo. O clube nega.
A vitória sobre o América por 3 a 1 não foi empolgou o presidente. Ele não engoliu as falhas de Gum e criticou o zagueiro nominalmente. A um conhecido interlocutor, disse que estava preocupado e pouco confiante em vencer o Fla-Flu. E manifestou o descontentamento com as críticas de seu treinador à estrutura do clube.
— O Muricy não pode criticar o clube todo hora, dizer que não temos CT. Sobre o Fla-Flu, estou receoso. Ainda mais com a defesa, porque o Gum não está bem — disse o presidente, que enfrenta dificuldade para contratar um zagueiro, como pediu Muricy. — Tem algum para indicar? O Digão não serve?
Serviria se o técnico optasse pela formação com três zagueiros. Mas Muricy nem quis dizer se Emerson, recuperado de um edema no tornozelo esquerdo, começa como titular. Ao falar da possibilidade, o treinador aproveitou para dar mais uma alfinetada na estrutura do clube.
— Vamos esperar até a hora do jogo para sentir como ele está. Emerson treinou forte dois dias em um campo como o nosso, que é ruim — criticou Muricy Ramalho.
Cobrança antiga por CT Há mais de um ano Muricy pede um CT. Ainda na pré-temporada, em Mangaratiba, o treinador expôs sua insatisfação com a academia das Laranjeiras e disse que não tinha cabimento o clube pedir para treinar em um local fora da sede, que nem sempre estava disponível. Em breve, o parque aquático das Laranjeiras fechará para ser reformado e os jogadores perderão o acesso à piscina. O treinador também cobrou a aquisição de um terreno para a construção do CT. Peter disse que não se faz um centro de treinamento da noite para o dia. Celso Barros, presidente da patrocinadora, afirmou que Muricy poderá até encerrar seu contrato, em 2012, sem que o clube tenha o seu local para treinar. A demora para encontrar uma solução para o problema irrita o treinador, que não faz questão de esconder o que pensa.
“Presidente tem que torcer” Em mais de cem anos de Campeonato Carioca, o Fluminense foi hegemônico em títulos, até ser ultrapassado pelo Flamengo, em 2009. Além da Copa Libertadores, o Estadual é considerado prioridade pelo presidente, diretoria, torcida e patrocinador. Com a eliminação antecipada na Taça Guanabara para o Boavista, cresceu a pressão para que o time vença o Flamengo amanhã, conquiste Taça Rio e ganhe o direito de disputar a final do campeonato com rival para, ao menos, tentar igualar o número de títulos.
— Não fizemos parte destas coisas do passado, de hegemonia. Para mim, o próximo jogo é o mais importante da minha vida. O presidente tem é que torcer — disse Muricy.
Apesar das declarações de Peter, o Fluminense divulgou uma nota na qual nega que a diretoria do clube esteja descontente com o técnico. “Ao contrário disso, o técnico Muricy realiza um trabalho sério e tem a plena confiança da nova gestão”, diz a nota.
Paralelo aos problemas internos, Fred voltou a treinar com bola ontem, mas não vai enfrentar o Flamengo. Ele sofreu a quarta lesão na batata da perna esquerda, a sua nona desde que chegou ao Fluminense, em 2009. O atacante poderá voltar contra o Boavista, no próximo sábado, ou contra o América do México, dia 23, no Engenhão, pela Libertadores. Deco, que voltou a treinar a parte física depois de se recuperar de uma lesão na coxa esquerda, continua sem previsão de volta.
O lateral direito Mariano, que disputou todos os jogos do Fluminense este ano mas que ainda não repetiu as boas atuações de 2010, disse que não assistiu à vitória do Flamengo sobre o Bangu, na quinta-feira, apesar de Muricy ter pedido aos jogadores que ficassem atentos à partida.
— Não assisti ao jogo, mas acompanho o Flamengo, vi o jogo deles contra o Olaria e estou ciente do que é a equipe do Flamengo e do que significa um Fla-Flu — disse o lateral.
Sobre a má fase, Mariano explicou:
— Nós somos seres humanos, não somos robôs para fazer a mesma coisa sempre do mesmo jeito. Às vezes a gente erra. E nós, jogadores, precisamos de uma vitória convincente — declarou o lateral.
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