UBERABA (MG), BRASÍLIA e RIO — Diante do repique da inflação no país, a presidente Dilma Rousseff voltou nesta quinta-feira a afastar a possibilidade da volta de um aumento de preços indiscriminado. Segundo ela, o governo federal vai continuar empenhado em políticas que visam ao crescimento econômico, rejeitando a tese de que o controle da inflação devesse passar pela redução do ritmo da atividade econômica, para reduzir a demanda. Taxativa, Dilma mandou um recado aos que apostam em mudanças na forma como a política econômica vem sendo conduzida.
— Tem muita gente que acha que você só controla a inflação derrubando o crescimento econômico. Mas se controla a inflação controlando a inflação, não negociando com ela. Controla-se a inflação também fazendo o país crescer, aumentando a oferta de bens e serviços — disse Dilma, durante a assinatura do protocolo de intenções para implantação de um gasoduto e uma fábrica de amônia, em Uberaba, Minas Gerais.
Dilma: ‘Passamos todo o tempo olhando isso (a inflação)’ Em entrevista publicada nesta quinta-feira no jornal “Valor Econômico”, Dilma disse que o governo vai continuar perseguindo o centro da meta de inflação de 4,5% para este ano. Ela defendeu a autonomia do Banco Central (BC) e disse que talvez os agentes financeiros estejam tentando diminuir a importância do BC de Alexandre Tombini “porque não tem gente do mercado na sua diretoria”.
A ênfase de Dilma na entrevista com o comprometimento de seu governo no controle da inflação reforça o recado que passara pessoalmente na véspera do carnaval, quando foi divulgada a expansão recorde da atividade econômica em 2010. Na ocasião, Dilma foi incisiva ao dizer que o ritmo de 7,5% era incompatível com uma baixa inflação, meta perseguida em seu mandato. Ela garantiu ainda que as condições para 2011 ainda não estão dadas:
“Depende da gente. Nós mostramos que não estava dado na hora da crise (de 2008) e vamos mostrar que não está dado também na hora da inflação e do crescimento sustentado da economia brasileira. Quando eu digo que tenho firme convicção de que não se negocia com a inflação, é para você saber que nós passamos todo o tempo olhando isso. Por isso eu acredito no que faz o Banco Central, no que faz o Ministério da Fazenda”, disse ao “Valor”.
As declarações de que a demanda interna não está pressionando a inflação foram duramente criticadas por economistas. Na avaliação de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o governo Dilma deverá ter uma inflação “sistematicamente acima da meta”.
— Não há esforço real em trazer essa inflação para 4,5% e pela primeira vez essa leniência parece ser integralmente aceita por todo o governo — comentou Vale. — O governo está sendo leniente. Não é culpa de uma ou outra parte. Mas no fundo a responsável final por isso é a presidente. O momento em que ela faz análise de que a inflação não é demanda e logo vai desacelerar é baseado numa crença, numa aposta muito arriscada que coloca em risco a politica econômica equilibrada que se espera — disse Vale.
Melhoria na renda aumenta a demanda por serviços A economista Laura Haralyi, do Itaú Unibanco, lembra que a demanda da nova classe média brasileira pressiona a inflação — que, para 2011, está prevista pelo banco para fechar em 6,3%. Isso permite o repasse das altas das commodities.
Com os números positivos do mercado de trabalho — mais emprego e renda —, o setor de serviços vem apresentando altas nos preços, comenta José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
— O diagnóstico de que não há problema de demanda não é coerente com os dados da inflação. A alimentação não é o principal problema da inflação hoje, mas sim o que a demanda tem pressionado, principalmente via aumento de salários — acrescentou Vale.
A presidente admite desequilíbrios em alguns setores: “Achamos que há alguns desequilíbrios em alguns setores, mas é inequívoco que houve nos últimos tempos um crescimento dos preços dos alimentos, que já reduziu. Teve aumento do preço do material escolar, dos transportes urbanos, que são sazonais”, disse ao “Valor”.