Ladeado por outros onze homens em uma longa mesa, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) recebeu nesta quinta feira em Brasília o apoio formal do Centrão, bloco formado por PP, PR, DEM, PRB e Solidariedade, a sua candidatura à Presidência da República.
A ampla aliança garante ao tucano o maior tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV, aposta para elevar seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto, que hoje não chega a 10%. Também representa mais capilaridade nacional para a campanha, assim como sinaliza para o eleitor condições de governabilidade em caso de vitória.
Não à toa, esses partidos, ou parte deles, foram disputados também por outros pré-candidatos, como Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PSL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em seu discurso, o tucano disse que estava "feliz" e que o "sentimento" em torno de seu nome hoje é diferente do de 2006, quando perdeu a disputa para a reeleição do então presidente Lula.
"Estamos aqui, para minha honra, recebendo o apoio de cinco grandes partidos que têm responsabilidade para com o povo brasileiro e para com o nosso país. Seria fácil de ir para o pré-candidato se eu estivesse em primeiro lugar, disparado nas pesquisas, mas não, estão vindo por convicção de que nós temos de estar juntos num grande esforço conciliatório", agradeceu.
No entanto, apesar desse apoio ser considerado importante para alavancar sua candidatura, pode não ser determinante caso prevaleça nos eleitores um voto de oposição ao atual governo, acreditam analistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil. Os cinco partidos que anunciaram apoio a Alckmin, assim como o próprio PSDB, fazem parte da base do presidente Michel Temer, administração que enfrenta indíceis recordes de impopularidade.
Para o cientista político Antônio Lavareda, da Universidade Federal de Pernambuco, o apoio do Centrão "melhorou muito a capacidade de comunicação" de Alckmin, mas o resultado disso "vai depender da mensagem que a campanha vai vincular".
"Desde de a derrota de Ulysses Guimarães (candidato do PMDB em 1989), há diversos casos que mostram que o maior tempo de propaganda eleitoral não assegura necessariamente intenção de voto. Mas, embora não seja automático, em geral contribui para melhorar o desempenho eleitoral", nota o professor.
O peso de Temer
O cientista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências, acredita que será uma estratégia natural dos outros adversários tentar desgastar Alckmin associando sua imagem à do atual presidente. Além de estar rodeado de aliados de Temer, a plataforma do ex-governador inclui uma agenda de reformas parecida com a defendida pelo emedebista - entre elas, a impopular reformulação da Previdência.
"O apoio do Centrão pode não ser suficiente para Alckmin. Eleição presidencial costuma ser plebiscito sobre a continuidade ou não do governo. Como a maioria da população rejeita Temer, isso pode prejudicá-lo", ressalta.
Lavareda, por sua vez, considera que esse desgaste pode recair mais sobre Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda que pretende disputar a presidência pelo MDB, partido de Temer.
Na campanha tucana, a estratégia para tentar evitar o rótulo de candidato governista, por enquanto, tem sido ressaltar que Temer chegou ao planalto com os votos de Dilma Rousseff, já que era seu vice-presidente. Alckmin usou esse argumento em entrevista ao programa Roda Viva, no início da semana, e diversos aliados fizeram coro ao discurso nesta manhã.
"O adversário que jogar a pedra (de que Alckmin é continuidade de Temer) tem que ter cuidado para ela não cair na sua cabeça. Ele foi eleito na mesma chapa (de Dilma)", respondeu à BBC News Brasil o deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP).
"Temer não vai ter muita presença na campanha, mesmo na do candidato do MDB (Henrique Meirelles). Vai ser esquecido", argumentou ainda.
Alckmin quer ser visto como moderado
Outro desafio da candidatura tucana, ressalta o cientista político Rafael Cortez, será conquistar eleitores fiéis a Lula, em especial no Nordeste, ao mesmo tempo que recupera votos perdidos para Bolsonaro entre um eleitorado mais conservador.
Hoje, esses dois pré-candidatos lideram as pesquisas de intenção de voto, mas o petista corre risco real de ser barrado pela Lei da Ficha Limpa, o que provavelmente levará seu partido a indicar outro nome para a disputa presidencial.
A estratégia para tentar ganhar espaço entre Bolsonaro e Lula é posicionar Alckmin como candidato de "centro", "conciliador". Esse tom prevaleceu hoje nos discursos dos presidentes das siglas do Centrão, que destacaram em suas falas a trajetória do tucano como governador de São Paulo e seu perfil moderado.
"O caminho não é nem autoritarismo, nem populismo, mas democracia, a boa política que leva ao bom convívio social, ao diálogo e ao entendimento", reforçou também o próprio tucano.
À BBC News Brasil, o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG) reconheceu que Alckmin não é um político que "desperta paixões". Na sua avaliação, isso acontece porque ele não é um "populista radicalizado". Diante dessa realidade, acredita que o ex-governador adotou "o único caminho possível" - construir uma ampla aliança que lhe dê tempo de propaganda para mostrar suas realizações no comando de São Paulo e suas propostas para as diversas regiões do país.
"O cidadão médio não quer aventura. Diante das ameaças reais, ele quer equilíbrio, sensatez. O caminho não é Bolsonaro, nem o PT radical. O PT que vem nessa eleição não é Lulinha paz e amor, é com faca nos dentes", argumentou Pestana.
Para atrair o eleitor nordestino, majoritariamente lulista, a intenção é apresentar na campanha propostas concretas de desenvolvimento regional. Alckmin voltou a enfatizar que o foco de seu eventual governo será "emprego e renda" e sinalizou com grandes obras de infraestrutura no Nordeste, assim como investimentos em saneamento básico e moradia.
"O sinal mais forte (no discurso de Alckmin) para o Nordeste é uma decisão dele de que os investimentos têm que ir para o local onde a população mais precisa. Quando sinaliza fortes investimentos da Petrobras, em logística e atrativos tributários para o Nordeste, mostra com clareza que é gerando emprego e renda que se atende a uma população de mais de 50 milhões", disse o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), ex-ministro das Cidades de Temer.
Ainda sem vice
Com a recusa do empresário Josué Gomes (PR), filho do ex-vice-presidente José Alencar, em compor a chapa presidencial com Alckmin, a coligação em torno do tucano ainda discute quem será seu companheiro na corrida presidencial.
O que é dado como certo é que não será um nome de São Paulo, nem do PSDB, conforme o próprio tucano assegurou nesta manhã. Um nome que está sendo cotado é do alagoano Aldo Rebelo, que recentemente trocou o PCdoB pelo Solidariedade.
Outro cogitado, o deputado federal Medonça Filho (DEM-PE), ex-ministro da Educação de Temer, confirmou à BBC News Brasil que não pretende desistir de disputar uma vaga no Senado por Pernambuco para compor a chapa com o ex-governador paulista e disse que Rebelo seria um bom nome para o posto.
"Ninguém vota em vice. O vice ajuda muito quando não atrapalha, mas ele leva elementos de percepção no imaginário popular de complementação. Um candidato de São Paulo, como é o caso de Geraldo Alckmin, precisa nacionalizar o seu nome, sua mensagem. E para isso tem que ir além das fronteiras de São Paulo", disse, ao comentar melhor perfil para a dobradinha.