Um estudo realizado por Lykins, Meana and Minimim, em 2011, teve por base a pergunta: “estarão as mulheres que sofrem de perturbação da dor genito-pelvica mais distraídas dos estímulos eróticos ou são hipervigilantes a estes estímulos, porque suscitam pensamentos e expectativas de dor?” Este estudo teve como objetivo analisar a atenção das mulheres que reportavam dor persistente na penetração aos estímulos sexuais, assim como em mulheres com desejo sexual hipoativo e mulheres sem qualquer problema de cariz sexual.
Os resultados mostraram que as mulheres com dor aquando da penetração olhavam por curtos períodos de tempo e menos vezes para a cena sexual, comparativamente com os outros dois grupos de mulheres. As mulheres com dor também olharam mais vezes e por mais tempo para as imagens neutras, do que fizeram as outras mulheres. Os resultados suportam a ideia da distração cognitiva associada à disfunção sexual (mulheres com dor na penetração), com uma componente adicional de evitamento dos estímulos sexuais.
Estes resultados são importantes, na medida em que nos permitem saber que as mulheres que apresentam queixa de dor aquando da penetração prestam menos atenção aos aspectos sexuais. Estão tão focadas na dor, a antecipá-la, que acabam por não estar presentes no que está a acontecer, não vivem o momento no aqui e agora, nem desfrutam da relação sexual.
A distração da informação sexual e dos estímulos eróticos (ou componentes eróticos de uma situação sexual) têm um papel importante no desenvolvimento e manutenção da disfunção sexual, tal como referido. A distração cognitiva, causada por outra informação (trabalho, dor, preocupações do dia-a-dia), afeta frequentemente o desejo sexual, quer seja em homens ou mulheres, com ou sem disfunção. Ou seja, o indivíduo pode não ter qualquer tipo de disfunção, mas se não estiver focado e concentrado no que está a acontecer naquele momento, na informação que lhe chega através do parceiro (cheiro, sons, tacto, o prazer que está a ter), facilmente começa a perder desejo e a ter dificuldades, como por exemplo no orgasmo.
Nesta patologia em particular, algumas mulheres referem que quando se distraem do foco erótico da relação sexual começam a ter menos desejo sexual, menos lubrificação e, consequentemente, mais dor.
Portanto, uma forma de contrariar esta situação é focar-se no que está a acontecer. Por de parte os problemas do trabalho, as lides da casa, as dificuldades dos amigos/família, a escola dos filhos e viver o momento presente. Estar atento aos sinais que o(a) seu(sua) parceiro(a) lhe dá, o prazer que está a ter, usar os cinco sentidos, para descobrir novas sensações/informação.
Marta Cuntim – Psicóloga clínica especializada em Sexologia da Oficina de Psicologia