Enquanto ocorria a abertura da Copa do Mundo nesta quinta-feira, 12, em Itaquera, na zona leste da cidade, um grupo de cerca de 200 sem-teto do Movimento de Moradia da Região do Centro (MMRC) ocupava um prédio residencial na Rua Pamplona, no Jardim Paulista, região central da capital.
A ocupação do edifício de 15 andares em um dos bairros mais nobres da capital teve o apoio de outros grupos, como o Movimento Passe Livre (MPL) e a Fanfarra do Mal. Apenas um dos cerca de 30 apartamentos era habitado. “Ocupamos na hora do jogo porque sem-teto não tem o que comemorar”, disse Nelson da Cruz Souza, um dos coordenadores do MMRC.
Parte das famílias que está no prédio veio de outras ocupações da região central e a outra parte afirma que não conseguia mais pagar aluguel. A escolha pelo horário e local da ação foi planejada. “Acreditamos que seria muito propício mostrar essa disparidade dos gastos com a Copa do Mundo em relação a tudo que se deixa de fazer por moradia”, afirmou Guilherme Land, outro coordenador do movimento. “Esse prédio, nessa região, tem um fator político: há apartamentos com metros quadrados absolutamente caros e uma vizinhança que não está acostumada a lidar com esse tipo de problema. A gente achou que seria fácil fazer uma ocupação aqui porque ninguém esperava isso”, explicou.
Segundo o coordenador, Andy Marshall, um dos pontos diferenciados dessa ocupação é a presença de movimentos artísticos. “Nós queremos destinar espaços para a arte.”As divisões dos quartos ainda não estão definidas e, por enquanto, os recentes moradores estão “acampados” nos amplos apartamentos de 110m².
Com o filho Bernardo, de apenas 5 meses, no colo, a autônoma Luciola Rodrigues, de 23 anos, disse que espera que ali seja mesmo a sua futura casa. “Há cerca de um ano que moro em ocupações e tive sempre de sair, vamos ver o que vai acontecer. Quero muito ter uma casa.”
Controvérsia. Em frente à entrada do prédio, uma bandeira do MMRC foi amarrada e chamava a atenção dos moradores e comerciantes da região. “O prédio estava fechado. Eles não poderiam ter entrado. Está todo mundo da rua abismado com a situação”, disse Rodrigo Domingos Martins, de 33 anos, gerente de uma loja de digitalização de documentos que fica ao lado da entrada do edifício. Durante a ocupação, os sem-teto arrombaram a porta da loja, para ver o que era o local, mas nada foi danificado - versão confirmada por Martins.
A zeladora Maria José Almeida Silva e o seu marido eram os únicos que habitavam o prédio no momento da ocupação. “Na hora da invasão, eu não estava aqui. Cheguei hoje por volta das 13 horas e eu, como zeladora, conversei com eles e me disseram que eu podia entrar”, afirmou Maria, que mora no local há 30 anos.
Segundo a zeladora, os apartamentos estão sendo vendidos e, por isso, o prédio não está abandonado. “O edifício não está abandonado nem largado. Há quatro anos foi pedida a desocupação para a venda do prédio”, explicou. “Eu estou muito assustada com isso. Eu jamais imaginei que aconteceria. O prédio está sempre limpo”, insistiu.
Maria disse que a imobiliária responsável pela venda dos imóveis é a RMF. Procurada às 17h30, a empresa não havia retornado até as 20h. A Prefeitura informou que o imóvel “é de propriedade particular e não tem inscrição na dívida ativa do município”, ou seja, o pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) está em dia. Os proprietários não foram identificados para comentar.