SÃO PAULO - A tia do bebê abandonado pela mãe numa caçamba de lixo em Praia Grande, no litoral de São Paulo, manifestou o desejo de adotar a sobrinha. O promotor da Infância e Juventude, Carlos Cabral Cabrera, do Ministério Público de Praia Grande, disse ao GLOBO, que a tia é evangélica, tem 41 anos, é casada e mãe de dois filhos. Ela disse ao promotor que ficou envergonhada ao ver as imagens da sobrinha sendo colocada na caçamba. Cabrera pediu uma avaliação sobre as condições em que a tia vive numa cidade do ABC, na Grande São Paulo, e assim que a criança sair do Hospital Irmã Dulce, onde está internada tratando-se de uma infecção, deve encaminhá-la para a casa da tia.
- A tia manifestou ao Ministério Público o desejo de adotar a sobrinha. Pedimos uma avaliação das condições em que ela vive e o resultado parece positivo. É uma família estruturada, o marido se mostrou favorável a acolher a criança, e a tia disse que ficou envergonhada em ver a sobrinha ser colocada na caçamba. Ela afirmou que não tinha contato com a irmã (a mãe da criança) e não sabia que ela estava grávida. Assim que a avaliação da família, que está sendo feita por funcionários da prefeitura onde a tia mora, sair, meu desejo é que a criança saia do hospital e siga direto para lá - disse o promotor Cabrera.
O promotor afirmou que deve entrar na Justiça com uma ação de destituição do poder familiar da mãe do bebê, que continua presa. Em seguida, vai formular um pedido de adoção em nome da tia e do marido e um pedido de liminar para a guarda provisória.
O promotor alertou entretanto que se ficar comprovado que o vigia Miguel Lemos Ribeiro, de 58 anos, for mesmo o pai da criança, ele tem preferência em ficar com a criança. O vigia submeteu-se a um exame de DNA.
- O pai tem preferência em ficar com o bebê se manifestar esse desejo. O pai e mãe sempre têm preferência, depois são os parentes diretos, como a tia - disse o promotor.
Os três filhos que Rosineide de Salles Lins, de 39 anos, teve e não assumiu foram dados irregularmente a duas famílias, segundo o conselheiro tutelar Tadeu Costa.
Segundo o Costa, um casal de gêmeos de 1 ano foi entregue a duas irmãs, que moram na própria cidade, e ingressaram na Justiça com pedido de guarda das crianças. A outra filha de Rosineide é uma adolescente de 15 anos, que foi adotada por um casal da região de Campinas.
- Ela não colocou as crianças para adoção. Simplesmente entregou para pessoas que poderiam cuidar - afirma Costa.
O promotor Carlos Cabrera informou que o processo de adoção da garota de 15 anos já está concluído. O dos gêmeos ainda está em andamento, mas já houve o pedido de adoção e a criação de vínculo entre a família e as crianças, e elas devem mesmo ficar com os pais adotivos.
Costa explicou que Rosineide foi reconhecida por uma ex-patroa, que viu as imagens dela na tevê. Em depoimento à polícia, a mulher contou que Rosineide escondeu a gravidez da filha de 15 anos quando trabalhava em sua residência e tentou afogar a recém-nascida em um vaso sanitário. Flagrada pela patroa, ela desapareceu com a criança e as duas só voltaram a se falar na Justiça Trabalhista, pois Rosineide reclamou direitos.
Costa afirma que a existência dos gêmeos foi informada por funcionários da Unidade de Saúde da Família, onde Rosineide fez o pré-natal da gestação. Eles também reconheceram a mulher na tevê e encontraram os prontuários com registro da gravidez dos gêmeos, nascidos em março do ano passado.
O filho mais velho de Rosineide, de 24 anos, está com a guarda provisória dos outros irmãos. No total, Rosineide teve 10 filhos. Seis moram com ela - três maiores de 18 anos e três menores - de 13 anos, 7 anos e 3 anos de idade.
A acusada segue presa na Cadeia Pública Feminina de Santos e o advogado de defesa já entrou com pedido de liberdade.
Câmeras de segurança gravaram quando a criança foi abandonada. Às 21h50m da segunda-feira, uma mulher que caminhava pela rua vazia depositou um embrulho na caçamba de lixo e foi embora. As imagens mostram que, 23 minutos depois, um catador se aproximou da caçamba e começou a revirar o lixo.
Ele levou um susto e correu em direção a uma escola. Logo voltou acompanhado por um professor, que mexeu no lixo e retirou o bebê. Com a criança nos braços, o homem voltou à escola. Uma professora ajudou a reanimar a criança.