Em um mundo com Google Maps, é de se imaginar que todos os cantos da Terra já foram explorados, certo? Errado. Escondida entre a Índia e Mianmar, no sudeste asiático, está a Ilha Sentinela do Norte, lar de um povo nativo isolado, e proibida para visitação.
O lugar ganhou os jornais na última semana pois John Chau, um missionário norte-americano, morreu após ser atacado pelos habitantes de lá no última dia 16. De acordo com as últimas informações, ele foi levado ilegalmente por pescadores, que o deixaram na costa da ilha. Ainda não se sabe se vai ser possível resgatar o corpo de Jon.
Não é a primeira vez que um caso como esse acontece. Em 2006, um barco naufragou perto de Sentinela do Norte e dois pescadores foram mortos. Pouco se sabe sobre lá, mas uma coisa é certa: os nativos não querem saber de nenhum contato com o restante do mundo.
Atlas impreciso
Encontrar informações sobre a ilha é quase tão difícil quanto ser bem recebido pelos seus habitantes. Sentinela fica no Oceano Índico – mais especificamente, na Baía de Bengala, entre a Índia, Mianmar e Tailândia. Ela pertence ao arquipélago de Andamão e Nicobar, uma região sob administração da Índia.
A ilha é considerada por muitos como um dos locais mais isolados do mundo. Os primeiros registros históricos do lugar são documentos árabes e persas que diziam que as ilhas da região eram habitadas por canibais (afirmação provavelmente exagerada devido à recepção hostil daquele povo).
Em 1771, um explorador britânico mencionou a existência de Sentinela do Norte. O domínio britânico que transformou a Índia em uma parte do império cuidou de explorar a região de Andamão. No entanto, os moradores de Sentinela, assim como os de outras ilhotas, mostravam-se sempre contrários aos colonizadores.
Acordo de paz
Em 1967, quando a Índia já era um Estado independente, o governo indiano tentou contato com os sentineleses, sem sucesso. De acordo com uma reportagem do The Times of India sobre o assunto, a expedição foi recebida pelos nativos de uma forma, digamos, peculiar: eles viraram de costas para os barcos e ficaram em uma pose como se estivessem se preparando para fazer o número dois.
A Índia tentou estabelecer comunicações novamente em 1970 e em 2004, mas não deu em nada. Desde os anos 60, o governo proíbe qualquer tipo de visita à ilha. A medida busca proteger tanto os desavisados de uma recepção regada a flechadas e pedradas quanto os próprios sentineleses: vivendo isolados, eles não possuem os mesmos anticorpos (nem são expostos aos mesmos micróbios) que nós, e facilmente poderiam morrer de doenças com as quais já estamos acostumados.
A ilha misteriosa
Os 72 km2 da ilha são ocupados por cerca de 50 pessoas. Não, 250. Ou talvez 400. Não existe um número exato – nem uma estimativa realmente confiável – já que até hoje não há registros de alguém que tenha entrado na ilha e saído para contar a história. Em 2001, a Índia, durante o censo nacional, tentou contabilizar quantos sentineleses haviam por ali, mas a contagem não passou de poucas dezenas. Devido à agressividade dos nativos, as imagens existentes de Sentinela se resumem a gravações do litoral da ilha, como esse:
Os habitantes avessos a estranhos ainda preservam características pré-neolíticas – estima-se que a tribo de Sentinela do Norte exista há mais de 60 mil anos. As armas, rudimentares, são feitas de pedra, ossos de animais e fragmentos de metal. Não se sabe se eles são agricultores ou apenas coletores, e a moda de lá se restringe a folhas, cordas e pequenas tiaras na cabeça.
Isolados, mas nem tanto
Além dos sentineleses, há outras tribos isoladas pelo mundo, e a maioria está no Brasil. O que faz sentido, se pensarmos na dificuldade que é explorar uma floresta densa como a Amazônica. A ONG Survival International, que defende a preservação desses povos, diz que há pouco mais de 100 tribos desse tipo no planeta.
Após a morte do missionário Jonh Chau pelos sentineleses, a organização criticou o governo da Índia, alegando que eles deveriam reforçar a proteção da ilha, para que os sentilenses permaneçam isolados – mas não sozinhos.
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