Ex-presidente da Câmara, deputado estadual e prefeito por três vezes, José Camilo Zito, depois de seis meses de silêncio, concede a primeira entrevista exclusiva. A conversa com o Capital abordou temas como o momento político do País, as manifestações de jovens, as eleições de 2014 e a gestão do prefeito Alexandre Cardoso, entre outros assuntos. “
Zito recebeu a reportagem em sua residência, no bairro Dr. Laureano e frisou que essa é a primeira entrevista que concede após deixar a prefeitura. Ele começou lembrando das dificuldades que enfrentou em seu último mandato. “Mas houveram avanços. Hoje, com quase seis meses de governo, as pessoas já estão percebendo que os avanços que nós alcançamos, estamos deixando de tê-los”. Sobre os momentos mais críticos no final de sua gestão, Capital quis saber como ele enfrentou a acusação de que estaria se vingando do eleitor por não ter ido para o 2º turno. “Isso é um jogo de factóides dos meus adversários. Na verdade eles têm medo do político Zito. E estamos vendo até hoje que o problema do lixo não está resolvido. Eu não estou feliz com isso, a população também não. Eu sempre oro a Deus para que o prefeito possa ter solução para os problemas existentes. Mas não é o que estamos observando e eu já previa isso, porque eu sempre disse que o problema maior do lixo foi o fechamento antecipado do aterro de Jardim Gramacho. Eu não quero ser leviano, mas houveram algumas peças que se encaixaram ,que hoje não sabemos se foi má fé ou não daqueles que tinham responsabilidade em ajudar a cidade. Por exemplo: logo em dezembro quando estávamos já nos despedindo, foi aberto o aterro de Belford Roxo. Como nós lutamos para que pudéssemos utilizá-lo, assim como o de Magé, o de Nova Iguaçu, mas só foi liberado para nós o de Seropédica. Foi proposital? Foi falta de querer ajudar o nosso governo? Ou foi uma jogada política eleitoreira?”.
- Outro momento difícil que enfrentamos foi quando o perfeito Eduardo Paes, depois de ter usado nossa cidade como lixeira, fez um contrato de ajudar a transportar o lixo, até o final de dezembro, e que foi estranhamente suspenso alguns meses antes, dando uma inequívoca demonstração de desrespeito e falta de colaboração com a cidade e com o nosso governo - assinalou Zito. “Uma coisa que falaram muito é que Duque de Caxias ia ter epidemia de dengue, motivada pelo fechamento do aterro, do lixo estar na rua e tal. O tempo passou e Duque de Caxias foi um dos poucos municípios que não tiveram esse problema. Parabenizo todos os funcionários que se dedicaram muito e graças a Deus o que falaram não aconteceu”, frisou.
ARRECADAÇÃO - Zito comentou ainda sobre o aumento da arrecadação do município, que hoje está em torno de R$ 6,3 milhões/dia. “Infelizmente, o discurso é um e a prática é outra. Ganharam a eleição e aumentaram a tarifa dos ônibus. Acabaram com a tarifa companheira, que nós implantamos, que garantia redução de 50% das passagens nos domingos e feriados. Quando falavam que o município era rico e que eu não fazia porque não queria, eu fiquei calado, deixei o tempo passar e hoje estou falando. Tudo que iniciamos está parado, não houve avanço. Cadê as escolas tempo integral, a que eu deixei pronta em Campos Elíseos, era só inaugurar e começar o estudo em tempo integral? A outra lá na margem da Rio-Magé, na Taquara, a que tinha sido iniciada no Pilar. Cadê a universidade pública municipal?”, indaga.
Ainda sobre o atual governo, disse que, de positivo, “Apenas o otimismo do povo, da população, principalmente os menos favorecidos, quando tinha aquela frase “jeito diferente de cuidar da gente, prefeito assim que eu quero pra mim”. Essa frase é de otimismo e que a população aceitou, ouvir aquilo era prazeroso. Só que na prática é diferente, nada aconteceu. Cadê a que eles prometeram? Hoje está saindo a notícia que eles pretendem inaugurar parte do Hospital Duque em dezembro, com uma verba que está vindo de Brasília, que dizem ser de R$ 9 milhões, se não me engano. E dizem que conseguiram - porque infelizmente nesse governo que aí está, não podemos ter confiança no que ele fala, porque o discurso é um e a verdade é outra - mas a promessa foi que abraçaram o hospital e que no primeiro mês seria inaugurado. “Ah, mas não é bem assim”. Então porque fala? Porque falou que a passagem de ônibus seria R$ 1 real e ao invés disso aumentou? A promessa era reduzir. E agora, como explicar isso para o povo?”.
PASSAGENS - Sobre a alegação de Alexandre Cardoso, de que apenas decretou aumento que o governo anterior havia decidido, Zito comentou: “Primeiro que ele está fugindo da responsabilidade dele. Não é verdade, mas mesmo que fosse, eu poderia ter qualquer prefeito anterior a mim que projetasse qualquer tipo de aumento de passagem de ônibus, eu não aceitaria, porque fui eu que assumi. Outra, se eu tivesse que fazer, teria feito até 31 de dezembro de 2012, e não fiz. Houve pedidos a mim, claro, mas não seria justo eu fazer isso, até porque eu quero cobrar deles, cobrar a licitação das linhas de ônibus que nós estávamos concluindo e que está parada. Nessa licitação é que encontraremos a solução. Há coisas que temos que rever, que é o seguinte: quanto maior a distância do centro, maior o valor da passagem, então quando você aumento 10% de R$ 3, é muito maior o aumento do que sobre R$ 2. Então você vai aumentando cada vez mais o valor para quem mora mais longe. No final, o menos favorecido é que paga mais. Isso estava previsto na licitação que estávamos concluindo. E demos isso a ele quando passamos tudo do governo”.
PROMESSAS – “Sinceramente, eu estou triste com a conduta do atual prefeito. Fomos decentes, honestos, abrimos o coração e achávamos que teríamos retorno dessa lealdade e responsabilidade com a coisa pública. Mas tudo que estamos vendo até hoje é dizer que não pode fazer o que prometeu por culpa nossa. Aí é muito fácil, até quando será isso? Até quando a grande imprensa irá esconder o desgoverno que aí está? Não vejo eles falarem mais do lixo, por exemplo. Eu tenho andado pela cidade. Vá ao Centenário, Vila São Luiz, Beira Mar e você verá. Logo em janeiro, o governo do Estado que tanto batia em mim fez uma estrada [para o lixão de Belford Roxo]. E eu fui parceiro deles até o final. Por que não fizeram isso antes, quando estavam pensando em fechar o aterro? Era um dever do Estado dar opção a Duque de Caxias até por questão de ser uma cidade que eles usaram por 40 anos, e foram embora deixando para trás todo um passivo ambiental. Então, é triste o que nós estamos vendo aí hoje, o prefeito querer melhorar a arrecadação tirando direitos dos funcionários que trabalharam por tantos e tantos anos. Infelizmente é o que nós estamos presenciando. Cadê a segurança que ele falava que ia trazer através do Proeis, que ia trazer policiais? É aquela história de quando o político quer vencer uma eleição e a população mais uma vez é enganada. Eu acho que o povo foi enganado, estamos vendo a educação capenga, falta de respeito aos profissionais. Estamos vendo uma cidade largada, onde você passa pelas praças públicas e vê que elas estão esquecidas, o mato crescendo. A cidade não está um caos maior porque demos um banho de asfalto. Se você vê principalmente o centro de Duque de Caxias, o primeiro distrito, nós conseguimos um avanço enorme. As obras que nós paramos não vejo continuidade, a não ser a escola em Nova Campina, como a Globo tem batido, eles iniciaram novamente as obras, mas o demais está paralisado. O CCM-Centro Comunitário Municipal, que era uma ideia que eu não pude concluir o primeiro, no Dr. Laureano, mas era uma ideia de fazer vários para acabar com o trabalho social politiqueiro. É triste ver os cursos profissionalizantes fechados. E tínhamos mais de 20. O jovem precisa de cada vez mais apoio, teria que abrir mais e não fechar. Agora dizer que hoje o município está com dinheiro, estou ouvindo até dizer que está com dinheiro em caixa. Aí é mole, se você não fizer nada, se você deixar de pagar as pessoas você vai ter dinheiro em caixa. E vai fazer o que com isso? Tirar do funcionário, tirar do aposentado como estão fazendo, é triste ver essa realidade”.
SEGURANÇA - O ex-prefeito questionou ainda a idéia da atual gestão de pagar policiais militares em horário de folga, através do Proeis. “Sou contra você fazer um contrato para retirar dinheiro da educação, da saúde, dos menos favorecidos, para pagar os policiais para fazer aquilo que é de responsabilidade do Estado. Sempre fui contra isso. Tem é que cobrar o estado para que eles possam dar segurança aos cidadãos. Sobre as câmeras que dizem que vão instalar. Nós deixamos 90% concluído, é só eles terminarem os 10%. Mas já se passaram quase seis meses”. E continua: “O atual prefeito parece ter uma grande aproximação com o Mistério Público e com a imprensa, não a imprensa de Duque de Caxias, mas a estadual, que vem sendo muito parceira do prefeito. Tudo aquilo que falavam antes se perdeu. Nos dois primeiros mandatos, tivemos muita ajuda da Câmara, no terceiro houveram muitas dificuldades. Eu não vi vereador levantar a voz para falar sobre essas últimas mensagens contra os trabalhadores, que foi enviada para a Câmara. Estranho, não é?”.
- A cidade tem um legado deixado por nós na educação, na saúde. Nós fomos pioneiros nos postos de saúde 24 horas, depois vieram as UPAs 24 horas, acabamos com a troca de voto por bolsas de estudo, fui o governante que mais escolas construiu, minha meta era implantar o estudo em tempo integral, porque você tem que ocupar o tempo da criança. Estou pedindo a Deus que não haja temporal, porque as enchentes estão com muita freqüência e ele que prometeu que no governo dele ia mexer com todo o sistema de esgoto, de prevenção às enchentes, espero que ele aja rápido e que nós não sejamos surpreendidos, as promessas feitas por ele eu espero que ele possa cumprir, mas se não o fizer, no futuro eu vou cobrar.
Sobre as manifestações que o Brasil está acompanhando, Zito disse que vê “como exercício da democracia. A população que está sofrendo despertou. E pergunta: quem manda no país? É o PT ou o PMDB? É uma interrogação. Quem tem o poder é o PT, mas quem manda é o PMDB. É hora de passar tudo a limpo, pois o momento é um momento de política viciada, esse modelo é um modelo falido, ultrapassado. Quanto custa uma eleição? E quem paga? Vocês viram campanhas e campanhas, e quem paga isso? Hoje o cara quer o poder não para favorecer o povo, mas para favorecer a si próprio. O povo acordou. Hoje eu converso muito com a minha filha [a deputada federal Andrea zito], e vejo a dificuldade que ela tem para manter o grupo político dela e aumentá-lo. E eu vejo hoje alguns políticos contratando a rodo. Como é que se consegue isso?“, indagou.
Antes de encerrar a entrevista, falou sobre seu futuro político. “Estou fazendo algumas reflexões, principalmente com o atual momento que vivemos. Poderei ser candidato a deputado estadual, deputado federal... Tenho convites de diverso segmentos. Fiquei muito triste com o partido que eu pertenço [PP], porque não vi nenhuma manifestação em favor de nossa cidade. Queriam tirar o Zito porque o Zito não era um governante que servia a esses senhores. Tem muita coisa ainda para acontecer. Tem que existir uma oposição, com alguma responsabilidade, ao sistema atual. Estou avaliando tudo isso e até dezembro irei definir”, concluiu.
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