Aécio Neves: "Defendo que o candidato do PSDB a presidente seja referendado por uma prévia nacional"
"Nós temos que emoldurar o discurso local com propostas nacionais do
PSDB para que as pessoas tenham a percepção de que o PSDB disputa uma
eleição municipal, mas tem a perspectiva de um projeto nacional para o
futuro"
Apontado como "candidato óbvio" do PSDB à Presidência da República pelo
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Aécio Neves media
forças com José Serra até o último dia 25. Mas bastou o ex-governador
vencer as prévias do PSDB para a prefeitura de São Paulo para Aécio dar
seu grito de liberdade. E assumir, assim, sem constrangimento, tampouco
cerimônia ou adversários internos, o papel de presidenciável e líder da
oposição.
Na prática, porém, Aécio já havia vestido os trajes de protagonista há
algum tempo. Em meados do ano passado, foi escalado pela cúpula tucana
para percorrer o Brasil com o objetivo de resgatar a militância e dar um
novo gás ao partido. Aécio deu início ao giro pelo país no segundo
semestre do ano passado e já esteve em mais de quinze estados, entre
eles Paraná, Bahia, Ceará, Goiás. A mais recente visita foi a Rio
Branco, no Acre.
Na pauta oficial, a discussão sobre os problemas brasileiros. Nos
bastidores, porém, a preocupação dos tucanos com dois pontos
específicos: a estruturação dos palanques e a ampliação das alianças,
não só com os partidos de oposição, mas também - e principalmente - com
os da base do governo Dilma; e a formação de um novo discurso nacional
do PSDB, que unifique a legenda para chegar em 2014 como uma alternativa
viável à gestão do PT. Temas como saúde e segurança pública são tidos
como prioritários para os tucanos.
Em entrevista ao site de VEJA, o senador fala sobre o seu papel nas
eleições municipais deste ano, da importância de o PSDB reestruturar sua
base em todo país e formar um novo discurso. Mas prefere manter o
discurso oficial, de que ainda não é o momento de discutir 2014. Leia abaixo a entrevista:
Qual será o seu papel nas eleições deste ano? Obviamente
será o papel que o partido determinar. E não será diferente do papel
dos outros líderes partidários. Acredito que nosso papel é manter a
chama acesa de que o PSDB tem um projeto nacional, que o PSDB considera
que este modelo que está ai se exauriu, perdeu a capacidade de
iniciativa. E nós vamos começar, paulatinamente, a nos contrapor à
posição do governo na saúde, para mostrar o que o PSDB faria, a omissão
do governo na questão da segurança, para mostrar como o PSDB agiria. E
também na questão da infraestrutura, da ausência de planejamento, no
engodo que é esse PAC [O Programa de Aceleração do Crescimento, vitrine
do governo federal]. E não serão apenas críticas feitas pelo Aécio.
Serão feitas pelas principais lideranças do partido.
O senhor começou a percorrer o país no segundo semestre do ano passado. É o início da agenda de presidenciável? Eu,
na verdade, continuo fazendo o que faço desde o ano passado, desde o
início do meu mandato, que é me colocar à disposição dos companheiros do
partido para ajudar na reorganização do partido nos estados. Não apenas
eu, como outras lideranças do partido, também devem desempenhar este
papel. E eu continuarei fazendo isso. Onde o partido achar que a minha
presença, levando suas ideias nacionais, os contrapontos que devemos
fazer em relação ao governo que está ai, eu, sem prejuízo para o meu
mandato, vou estar à disposição dos companheiros. Sempre com a lógica da
reorganização partidária e das eleições municipais. Tirando a tônica de
2014 porque ainda não é momento dessa definição na minha avaliação.
O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra, diz que,
além de um pedido da direção nacional, o senhor está atendendo a uma
demanda das lideranças estaduais. Tenho convite para participar
de eventos do partido em praticamente todos os estados brasileiros, mas
não tenho condições de ir a todos. Por isso, discuto com a direção onde
é mais estratégica a minha presença. São nesses lugares que vou estar. E
nós, as lideranças principais do partido, vamos estar à disposição
principalmente nas eleições municipais. Nesta semana, inclusive,
conversei com o presidente Fernando Henrique, que também se disporá a
viajar por algumas capitais do Brasil. O próprio Sérgio Guerra
[presidente nacional do PSDB] também fará isso. Nós temos que emoldurar o
discurso local com propostas nacionais do PSDB para que as pessoas
tenham a percepção de que o PSDB tem um projeto nacional, que disputa
uma eleição municipal, mas tem a perspectiva de um projeto nacional para
o futuro. E é a perspectiva de poder que move a política.
E qual é o foco dessas agendas? Sempre procuro mesclar
uma atividade na sociedade, em organizações suprapartidárias, com
eventos da militância, onde se fala com mais liberdade das propostas do
partido. Mas normalmente essas visitas têm esse equilíbrio e normalmente
elas são demandadas ou por companheiros do PSDB, ou por aliados do
PSDB, como aconteceu na Bahia, no Rio Grande do Norte, onde estive em
eventos promovidos em conjunto pela governador Rosalba Ciarlini e por
lideranças do PSDB. E eu tenho buscado falar para alguns segmentos da
sociedade e focando muito em gestão, falando muito das nossas
experiências exitosas em Minas. Acredito que gestão pública eficiente
tem que estar na liderança da nossa agenda, tem que ter um papel de
destaque no nosso discurso.
A confirmação da pré-candidatura do ex-governador José Serra a
prefeito de São Paulo deu mais liberdade para começar a percorrer o
Brasil e ser apontado como presidenciável? Não porque não estou
fazendo como candidato. Eu já fazia esse movimento. É só ver o número
de cidades e estados que visitei antes da confirmação da pré-candidatura
do Serra e comparar com o que eu fiz depois. É um processo natural.
Venho fazendo isso como militante partidário. O que aumentou foi a
demanda por minha presença em vários locais. Mas é importante registrar
que a candidatura do Serra em São Paulo foi um gesto partidário, foi um
de solidariedade dele para com o partido e assim tem sido compreendido
por nós porque, querendo ou não, a candidatura em São Paulo tem, sim, um
espaço de discussão nacional. A candidatura do Serra une o partido, a
questão das prévias legitima essa candidatura e o PSDB larga para essas
campanhas municipais em até melhores condições que o nosso principal
adversário, que é o PT.
As prévias podem ser adotadas de vez pelo partido? Se
dependesse de mim, já teriam sido adotadas lá trás. Eu defendo que o
candidato do PSDB a presidente, independentemente do número de
candidatos, seja referendado por uma prévia nacional.
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