GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

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Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Otimismo moderado ou André Lara Resende

O Blog O Estrategista tem apostado em um cenário externo sem rupturas o que acabaria beneficiando a bolsa brasileira. Contudo não há como ficar indiferente ao artigo do economista André Lara Resende, publicado no Valor da última sexta, 20 de janeiro.
Primeiro é preciso explicar o título do post. Ele faz referência (e uma homenagem) a dois grandes escritores brasileiros: Nelson Rodrigues e Otto Lara Resende, pai de André Lara Resende. Nelson foi um dos maiores dramaturgos brasileiros e deu a uma de suas peças o título de “Bonitinha, mas Ordinária ou Otto Lara Resende”. Qual foi a razão do inusitado título? Um dos protagonistas acredita que o ser humano é solidário somente em situações extremas. Ele, durante a peça, repete exaustivamente a frase que seria de Otto: “O mineiro só é solidário no câncer”. Segundo o biógrafo de Nelson Rodrigues, Ruy Castro, embora amigos, Otto reclamou da homenagem.
Ao longo dos últimos meses, embora reconheça a possibilidade de uma ruptura, tenho publicado alguns posts (como, por exemplo, “Para onde vai o Ibovespa?”, de 19/10, ou “Com que cenário macroeconômico eu vou?”, de 29/11), apostando em um cenário mais brando, no qual o Banco Central Europeu (BCE), conjuntamente com os governos, lidera uma saída negociada, evitando que a crise dos países avance sobre os bancos. Estados emergentes com uma dinâmica mais saudável, como o Brasil, atrairiam investimentos, provocando um reflexo positivo sobre o mercado acionário. Chamo esse cenário de “otimismo moderado”.
Por outro lado, no artigo “Os novos limites do possível”, publicado no Valor de 20/01, André Lara Resende acredita em um cenário de ruptura econômica com consequências imprevisíveis. Tendo em vista o prestígio do autor não há como ficar indiferente. Dou um exemplo do respeito que André Lara merece. Quando cursava economia, no início da década de 90, um livro muito utilizado era “Ordem do Progresso”. A edição era de 1990. O livro tratava da política econômica empreendida pelos governos republicanos desde 1889. Dionísio Dias Carneiro e Eduardo Modiano, responsáveis pelo capítulo dedicado a política econômica entre 1980-84, comentam que no início da década de 80 começaram a surgir estudos indicando que o problema da inflação era inercial. Trecho do livro: “A generalização do entendimento do caráter inercial da inflação suscitou o aparecimento de sugestões de políticas visando à redução do nível de indexação da economia brasileira. Dentre as mais ousadas destacaram-se as propostas da ‘moeda indexada’ de Arida e Resende (1985)”. Em resumo, o trabalho de Pérsio Arida e André Lara Rezende já delineava o arcabouço do que seria o Plano Real dez anos antes!
Com essas credenciais, a leitura do artigo é obrigatória. Terei a inglória tarefa de resumi-lo. Segundo André Lara, não há soluções simplistas para a resolução da crise. Ela se encontra na quarta fase na qual os governos, após assumirem as dívidas dos agentes privados, estão excessivamente alavancados. “Há três formas de eliminar o excesso de endividamento”. A primeira é provocar uma recessão com custos inaceitáveis. “A segunda é a monetização das dívidas”, o que provocaria inflação, solução descartada pela Alemanha, vítima de um processo hiperinflacionário na década de 30. “A terceira é a retomada do crescimento”. Contudo o remédio keynesiano de estímulo à demanda está esgotado em decorrência do endividamento dos países.
Mas o problema não reside apenas na questão da alavancagem. O espaço de incentivo ao crescimento é restrito, pois atingimos o “limite físico do planeta”. E sem crescimento não há como sustentar o alto endividamento dos países desenvolvidos. Nesse ponto, Resende recorre à teoria de Paul Gilding, elaborada em seu livro “The Great Disruption”. “A tese de Gilding é de que a economia mundial será obrigada a parar de crescer. Como não houve uma transição antecipada, como não nos preparamos para uma economia estacionária, seremos obrigados a enfrentar uma parada brusca, profundamente traumática”. Quando isso ocorrerá? André Lara não se compromete com o tempo: “como é sempre o caso de previsões, é mais fácil acertar a direção do que o momento”.
Segundo ele, o sistema de preços não será de valia, logo formas de racionamento serão imperativas. “A reorganização da economia será compulsória e profunda. Indústrias inteiras vão desaparecer. As de carvão, petróleo e gás, muito antes do fim das reservas conhecidas”. “O crescimento baseado na expansão do consumo de bens materiais está no seu capítulo final”. O lado positivo é que a ruptura promoverá inovações tecnológicas.
Saio do artigo, além de assustado, com algumas indagações. Talvez por motivos de espaço, André Lara trata da economia chinesa em menos de um parágrafo. Mas tem uma opinião forte: “o crescimento recente da China tem todas as características de uma bolha”, o que impediria a economia do país asiático de sustentar o crescimento mundial. Esperemos que André Lara nos brinde com um artigo mais extenso sobre a economia chinesa.
Outro questionamento: será que o Japão já não é um exemplo de economia sem crescimento, mas que mesmo assim vem mantendo um excelente padrão de qualidade de vida? Essa experiência não poderia nos ensinar algo?
Por fim, qual é o limite para o endividamento? Quem diria há 30 anos que o endividamento dos países alcançaria os patamares atuais?
Desnecessário dizer que caso o cenário traçado por André Lara Resende se materialize, o investimento no mercado acionário é uma péssima escolha. Espero que o conceituado economista esteja enganado. Quem sabe ele mesmo não torça para que, dessa vez, esteja equivocado.

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