Nos extremos, temos duas teses de investimento. De um lado, companhias pré-operacionais com geração de caixa incipiente e, por isso, com baixa distribuição de dividendos. Os empreendimentos de Eike Batista são o melhor exemplo. De outro, companhias maduras com investimentos moderados e generosa geração de caixa. Qual tese escolher é uma decisão individual. Mas será que a virtude não está no meio?
Ações de empresas pré-operacionais apresentam maior risco e, em tese, possibilidade de maior retorno. A geração de caixa ainda está distante o que reduz a confiabilidade das estimativas. Comentei esses aspectos no post “A análise das empresas de Eike pelo fluxo de caixa descontado”, de 20 de janeiro. São opções de investimento para acionistas mais agressivos.Por outro lado, noto uma preferência dos investidores individuais pelas companhias boas pagadoras de dividendos. Embora o histórico de dividendos distribuídos deva ser monitorado, esse não pode ser o único aspecto observado. Alguns pontos vêm sendo negligenciados:
1) Custo de oportunidade – na reportagem, “Fundos jogam na ‘retranca’ e superam retorno do CDI”, do Valor de 27 de janeiro, a repórter Natalia Viri mostra que dos cerca de 400 fundos de ações analisados, apenas dez superaram o CDI em 2011. A maior parte desses fundos é de carteiras de dividendos ou focada no setor de energia elétrica e tiveram rentabilidade variando entre 12,4% a 19,8% com mediana de 13,0%. Foram bons investimentos? Se compararmos com títulos públicos, não. Em 2011, o índice IRF-M, que calcula a rentabilidade de uma carteira de títulos públicos pré-fixados, teve retorno de 14,6%; o IMA-B, com um portfólio de títulos indexados ao desempenho do IPCA, registrou 15,3%; e o IMA-S, carteira de títulos públicos atrelados à taxa Selic, marcou 11,7%;
2) Prêmio de risco para as ações – a rentabilidade com ações deve apresentar um prêmio sobre o desempenho dos títulos públicos. Não basta que os ativos apresentem a mesma rentabilidade. O ganho obtido com ações deve apresentar um adicional sobre a rentabilidade dos títulos públicos, chamado de “equity-risk premium”, pois o mercado acionário é mais arriscado. Os papéis públicos são considerados como “livres de risco”, embora também tenham um risco associado. Sob um ponto de vista de risco-retorno, até mesmo o índice IMA-S foi um melhor investimento do que a carteira de ações;
3) O conceito de beta – ações defensivas tendem a apresentar maior retorno do que o índice de referência (no caso brasileiro, o Ibovespa) no caso da bolsa em baixa, mas, por outro lado, podem apresentar pior performance em mercados altistas. Veja o conceito de beta no post “As ações defensivas do Ibovespa”, de 09 de agosto. Em uma recuperação do mercado, a carteira de dividendos deve apresentar pior desempenho do que o índice de mercado.
4) Acompanhe o preço da ação – o retorno de uma ação é composto por dois itens: os dividendos e o ganho ou perda de capital (preço de venda da ação – preço de aquisição). Cuidado, pois a queda da ação pode “roubar” boa parte do ganho advindo dos dividendos. É importante sempre atualizar a carteira para se ter exata noção do seu desempenho.
5) Olho no crescimento dos lucros – o preço da ação é positivamente afetado pelos dividendos, mas também pelo crescimento dos lucros. Companhias que postergam investimentos produtivos para pagar dividendos podem estar abortando o crescimento o que afetará negativamente o preço da ação no futuro;
Os gestores oferecem fundos de dividendos mais por uma demanda dos investidores do que por convicção pessoal. Carteiras de dividendos apresentam menor volatilidade, mas, por outro lado, tendem a apresentar menor retorno. Não vejo vantagens em qualquer cenário: ficam para trás em momentos de alta (observe o que está ocorrendo em janeiro) e não são competitivas perante títulos públicos na queda do mercado.
Além disso, o universo não se restringe a empresas pré-operacionais e às de dividendos. Há também aquelas já operacionais com geração de caixa, dividendos decentes e perspectivas de crescimento. Para o investidor médio - nem agressivo nem conservador - a virtude está no meio. O ideal é ter uma carteira balanceada, incluindo ações defensivas e de crescimento. Essas tendem a apresentar melhor desempenho na recuperação dos mercados enquanto as geradoras de caixa reduzem a volatilidade do portfólio.
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