"Dilma Rousseff durante visita a Sófia "
A presidente Dilma Rousseff viaja nesta quarta-feira a Gabrovo, na região central da Bulgária, a cidade natal do seu pai. Após cumprir uma agenda política e de negócios na quarta-feira na capital Sófia, Dilma tirará o dia para fazer turismo e para conhecer pela primeira vez a terra das suas raízes familiares.
O motivo familiar foi o pretexto da viagem da presidente, que recebeu convite do presidente Georgi Parvanov no ano passado.
O dia da presidente começa no Forte de Tsarevets, na cidade de Veliko Tarnovo, um destino turístico popular da Bulgária. O local serviu como palácio do reino búlgaro na era medieval. Após um almoço com o prefeito de Veliko Tarnovo, ela segue para Gabrovo.
A pequena cidade de 60 mil habitantes é conhecida entre os búlgaros como capital do humor. Por isso, Dilma trouxe em sua comitiva o escritor brasileiro Ziraldo, que contou a jornalistas que quer criar um salão de humor, a ser realizado alternadamente no Brasil e na Bulgária.
Para a presidente, no entanto, Gabrovo tem um peso emocional. O pai de Dilma, Petar, nasceu na cidade em 1900.
Em 1929, depois de ganhar a vida como comerciante, ele deixou a Bulgária rumo à França e depois Argentina. Nos anos 30, ele se estabeleceu no Brasil, onde morreu em 1962, quando Dilma tinha apenas 15 anos.
O jornalista búlgaro Momchil Indjov, que escreveu uma biografia de Dilma em conjunto com o repórter brasileiro Jamil Chade, afirma que não se sabe exatamente o motivo que levou Petar a deixar a Bulgária.
Petar era simpatizante do comunismo em uma época em que o movimento era perseguido no país, mas especula-se que ele possa ter deixado a Bulgária por problemas econômicos. Ele deixou para trás sua esposa grávida.
Apesar das poucas informações que se tem sobre Petar, Momchil conta que após escrever a biografia ficou com uma impressão boa sobre a personalidade do pai da presidente.
'A Bulgária é uma nação pequena. Muitos vão ao estrangeiro, mas nem todos têm êxito. Petar foi bem-sucedido, e é motivo de orgulho para os búlgaros', disse Indjov à BBC Brasil. O jornalista búlgaro, que fala português fluentemente, viajou a Porto Alegre em 2004, onde entrevistou Dilma sobre as raízes familiares da presidente.
Emoção
Em Sófia, a presidente disse que está muito emocionada com a viagem à Gabrovo. Em Sófia, em encontro com jornalistas na quarta-feira, ao ser questionada por Indjov sobre qual fora o maior legado de seu pai, Dilma sorriu e disse: 'Tudo. A vida.'
Na última década, Dilma havia começado a se corresponder com seu meio-irmão búlgaro, Luben, o filho que Petar deixou para trás. Nos anos 60, enquanto Dilma militava na esquerda brasileira, Luben foi perseguido pelo regime comunista búlgaro.
Nos últimos anos, a presidente chegou a enviar dinheiro para ele e planejava um dia conhecê-lo, mas Luben suicidou-se em 2007, e ela acabou nunca o conhecendo.
'Luben era uma pessoa muito modesta', disse Momchil Indjov, que trabalha no jornal Chasa 24, o principal do país. Ele entrevistou o meio-irmão de Dilma antes da sua morte.
'Ele nunca ligou a qualquer jornal, a qualquer televisão, buscando dar entrevistas. Quando eu o encontrei, ele não falou muito. Ele era discreto, preferia ficar na sombra, como se diz aqui na Bulgária. Em seu comportamento, ele nunca procurou exibir que era irmão da Dilma.'
Os jornais búlgaros destacaram que o túmulo de Luben estava abandonado, mas que na última semana as autoridades locais arrumaram o local, para a visita da presidente.
Segundo o Chasa 24, a presidente enviou, antes da viagem, uma coroa de flores que foi depositada no local, com um recado em português: 'Ao meu irmão Luben, unidos pelo sangue e separados pela história, uma abraço da sua irmã Dilma Vana'.
Em Gabrovo, há pouca memória de Petar. A casa onde ele nasceu e viveu foi demolida, por isso as autoridades municipais escolheram a escola Vasil Aprilov - onde ele estudou - como ponto de visita da presidente. Ela se encontrará com integrantes da comunidade e receberá uma árvore genealógica - um documento com três metros de cumprimento, com detalhes em inglês e búlgaro sobre dez gerações e 598 pessoas da sua família, desde 1735 até os dias de hoje.
Uma cópia do documento está no museu de História Regional, como parte de uma exposição especial sobre Dilma, que será visitada pela presidente nesta quinta-feira. A presidente deve também se encontrar com sua única familiar viva, Toshka Kovacheva, que foi casada com um de seus primos, já falecido.
No final do dia, Dilma segue direto de Gabrovo para Ancara, na Turquia, o último país do seu giro internacional.
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