RIO - Numa reunião com diplomatas americanos na Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, em 18 de novembro de 2009, o então secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota - atual ministro das Relações Exteriores -, foi franco. Alertou, em tom de queixa, que havia no país uma crescente sensação de negligência do governo americano em relação ao Brasil. E acenou com uma proposta:
(Camarotti: Planalto quer tom certo para visita de Obama)
(Qual o tema mais importante da visita de Obama ao Brasil?)
O nosso relacionamento pode melhorar muito, mas isso vai exigir um pensamento novo e criativo de ambos os lados
A documentação confidencial sugere que esse é o desafio que está em jogo na visita do presidente Barack Obama, sob o risco de sua passagem pelo Brasil se tornar apenas um show sem mais consequências. Sorrisos e declarações de amizade deverão ser abundantes. Alguns acordos serão assinados, para emprestar solidez à ocasião.
Mike Forman, vice-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, deixou claro o objetivo da visita: aumentar as exportações americanas para o Brasil, e obter uma fatia do petróleo do pré-sal e das obras de infraestrutura para a Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos.
Os dois lados mencionarão a perspectiva de “um novo começo” ou “uma nova parceria”. Mas, sob essa fachada, há empecilhos a serem dissolvidos para que as relações prosperem. “O relacionamento precisa ser mais estratégico”, insistiu Patriota na mesma conversa vazada pelo WikiLeaks.
“No geral, o engajamento (do Brasil) com os EUA tem sido pragmático, em vez de estratégico”, avaliou, em seguida, Lisa Kubiske, encarregada de negócios da embaixada americana. “Muita gente encarregada da política externa brasileira permanece cautelosa e desconfiada em relação aos Estados Unidos”.
A julgar pelos informes oficiais, o governo dos EUA não se conforma com o fato de o Brasil buscar posição de influência no mundo, de acordo com os seus próprios interesses, e não segundo a visão de Washington. “Embora Patriota conheça bem os EUA, e esteja pronto para nos engajar, ele fará isso não a partir de uma perspectiva pró-americana, mas com base na tradicional perspectiva nacionalista do Itamaraty, que permanece cauteloso e frequentemente desconfiado em relação às ações e aos motivos dos EUA”, diz um telegrama. E completa: “Patriota deixou claro que, à medida que o Brasil busca engajamento com os EUA, fará isso de acordo com os seus próprios termos”.
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