RIO - Ao som de “Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós” a Imperatriz Leopoldinense abriu, na última quinta-feira, seu ensaio técnico de rua. O samba é um clássico da verde e branca e seria mais um esquenta da bateria, se não fosse o lugar e as circunstâncias do ensaio: a Estrada do Itararé, com a concentração na entrada da comunidade da Grota, no Complexo do Alemão, área desde novembro ocupada pelas forças de segurança do estado.
O samba de 1989, que se tornou um dos símbolos da ocupação, lembrado e evocado por moradores que se viram livres do poder paralelo do tráfico, é só o início de uma explosão de alegria, dos componentes da verde e branca e do público, que acompanha a escola até sua quadra, em Ramos. Tudo em clima de paz, sob o olhar atento dos militares do Exército. O enredo da escola para este ano é “Imperatriz adverte: sambar faz bem à saúde”.
Desta vez, a comunidade veio em peso. E muito mais gente de fora apareceu, sem receio algum da violência
Companheiro dele na bateria, João Alves Porto Filho desfilará pela primeira vez em sua escola do coração tocando cuíca. Antes, ele saía de Ramos, onde mora, para se apresentar em agremiações como a Caprichosos de Pilares. Mas desta vez, sem medo de frequentar a Imperatriz, resolveu integrar a bateria nota 10 do Mestre Marcone:
— Não desfilava na agremiação por causa da violência. Agora, a ansiedade é grande para estrear na bateria.
Cria do Complexo do Alemão, o Mestre Marcone — vencedor do Estandarte de Ouro de Revelação do carnaval de 2008, logo em seu primeiro ano à frente da bateria da Imperatriz— , lembra que, mesmo antes da ocupação do Alemão, não havia registros de violência nos ensaios na quadra, nem nos de rua. Ele diz, no entanto, que o histórico de violência na favela assustava quem não era da comunidade:
— A verdade é que não existia só violência. Havia revelações do esporte e da cultura. E muito samba. Na minha bateria, 90% são jovens, de 15 a 22 anos, a maioria do Complexo. Ramos e o Alemão sempre foram terra de bambas.
Na última quinta-feira, enquanto ele ensaiava os seus 270 ritmistas, muitos assistiam ao desfile das janelas e escadarias à beira da Estrada do Itararé. Militares do Exército circulavam por perto, às vezes conversando com moradores ou recebendo aplausos dos sambistas.
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