O carcará é uma ave de rapina, lamentavelmente
em extinção. É um bicho astuto, acompanha sua presa do alto e, no
momento certo, ataca-a, mata e come. Mas essa é a lei do mato,
instintivamente cumprida pelos irracionais apenas para sobrevivência.
Ao contrário do carcará acima citado, existe uma raça de racionais que,
após o raiar do século 21, vem se proliferando numa proporção “nunca
vista em nosso país”. A esses indivíduos costumo dar a nomenclatura de
“carcarás do poder”. São figuras travestidas de bonzinhos, honestos,
que chegam de mansinho e prometem sempre o melhor para o município alvo.
Sorriem muito quando chegam para conquistar, e gargalham quando saem
com maletas cheias de dinheiro sujo, comprando com grana viva imóveis,
aqui, ali e acolá, em nome de laranjas, divertindo-se a fazer o povo de
trouxa. E tudo fica por isso mesmo.
Toda época de eleição, tais figuras se aproximam em revoadas e
agasalham-se no ninho daquele grupo político que melhor chance tem de
lhes fazer chegar lá. Ideologia deles? Zero. Interesse no bem estar da
população? Nenhum. Espírito público? Jamais. O pior é que ainda tem
gente no Brasil que continua apostando nesses conhecidos criminosos!
Essa corja de espoliadores não tem interesse em municípios pobres, sua
mira é somente cidade onde haja rico orçamento e cuja receita não exija
muito esforço nem competência para produzi-la. Cidades pequenas e médias
onde há instalações de petróleo, no mar e em terra, gerando riqueza em
abundância – riqueza essa que deveria ser para todos, mas quase sempre o
povo fica fora da partilha – é um prato cheio para o apetite desses
“carcarás”.
A renda por habitante desses municípios é muito alta. É muito dinheiro
para pouca população. Em seus Estados, essas cidades quase sempre estão
no topo da arrecadação em relação aos demais municípios. Onde afinal
estaria tamanha grana, que deveria ser revertida em benefício de sua
gente, o povão? Foi pro ralo? Desintegrou-se? Sumiu? Não! Está nas mãos
sujas e nos bolsos, nos carrões importados, nos investimentos
imobiliários, nas luxuosas lanchas, nas contas bancárias dos “carcarás”
que roubam o povo, ontem sujeitos pobres, hoje milionários, empoleirados
no poder, muitos deles se dedicando a montar suas “lavanderias” em
forma de estabelecimentos comerciais de fachada... Velhacos da nação
brasileira.
Ao contrário daquelas aves que, por instinto, atacam somente para matar a
fome, esses insaciáveis racionais agem com muita consciência, sangue
frio, planejamento e extrema falta de vergonha na cara. São criminosos
que roubam o dinheiro que deveria servir para os remédios dos idosos e o
leite das crianças pobres, boa estrutura com qualidade para saúde e
educação, capacitação dos trabalhadores voltada para o mercado de
trabalho local e infraestrutura compatível com a gorda receita
municipal.
Se a sociedade não se mobilizar já e o povo não for para a rua exigir a
punição desses criminosos hediondos, nada mudará neste país. Leis
específicas estão sendo criadas para enquadrar esses canalhas. Será
ótimo se elas forem para valer! Sim, porque até hoje a Lei que não pune
esses vagabundos é a mesma que bota na cadeia a mulher que furtou um
litro de leite para seu filho com fome. Que justiça é essa? É a lei do
cão?
Os “carcarás” municipais, somados aos seus companheiros estaduais e
federais roubam do povo mais de 80 bilhões de reais por ano. E eles
riem, riem, aqui, ali e lá. E o povo? Vota! Um governo danoso, mais o
silêncio dos bons, mais a indiferença ou conivência dos imbecis, é igual
a um desastre e a vergonha do município vítima.