O ex-gerente executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco disse, em depoimento à Justiça Federal do Paraná, na tarde de terça-feira, que não sabe precisar se pediu propina para as empresas que prestam serviço para a estatal ou se partiu delas a iniciativa de fazer pagamentos a ele e ao ex-diretor Renato Duque.
Foi uma coisa que foi acontecendo dos dois lados. Tanto um oferece, quanto outro recebe, vai estreitando o relacionamento e vai surgindo e, quando a gente vê, está no meio desse processo. Uma coisa continua, quando a gente vê já está acontecendo, respondeu, ao ser indagado sobre o assunto pelo juiz Sérgio Moro.
Barusco também acusou novamente o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto de levar aos representantes da diretoria de Serviços da estatal queixas das empresas envolvidas no esquema de propina.
Questionado por Moro sobre o que era discutido nas reuniões que ocorriam entre ele, Vaccari e o ex-diretor de Serviços Renato Duque, Barusco respondeu:
Eram aquelas questões: a empresa está reclamando que não consegue receber, que tem um aditivo que não sai, reclamando que foi passada para trás, diz que pegou terceiro lugar (numa licitação) e quer ver se não dava para pegar primeiro.
Em seguida, o magistrado indaga quem trazia esse tipo de assunto para as reuniões.
O douto Vaccarri, responde Barusco.
Nessas reuniões, segundo o delator, também era discutido o pegamento de 0,5% do valor dos contratos da diretoria de serviços, mas esse “não era o tema central”.
Barusco contou que conheceu Vaccarri entre o final de 2010 e 2011. Inicialmente, as reuniões envolviam apenas Duque e o tesoureiro do PT. Depois desses encontros, o gerente recebia do diretor bilhetes com as pendências levantadas por Vaccari.
Depois, ele (Duque) passou a me levar nas reuniões.
O ex-gerente também declarou não saber de que forma exata era feito o pagamento da propina para o PT.
Eu imaginava que seriam das formas tradicionais: lá fora, em espécie.
Barusco confirmou ainda que em todos os contratos da Petrobras em sua área havia pagamento de propinas “de forma quase que endêmica”. As empreiteiras que obtinham obras na estatal pagavam 2% de propina sobre cada contrato, dos quais 1% ia para a diretoria de Serviços e 1% para a diretoria de Abastecimento, dirigida por Paulo Roberto Costa. Dos 1% para a sua diretoria, metade era destinado a ele próprio e ao diretor Renato Duque, enquanto que a outra metade ia para o PT.
Um dos procurados do Ministério Público Federal questiona, durante o depoimento, por que uma parte das propinas ia para o PT.
Para mim sempre foi uma espécie de incógnita. Não sei como começou, mas foi um crescente. Havia um costume de se pagar a propina. Era uma coisa quase que endêmica, disse Barusco, em depoimento que foi divulgado no site da Justiça Federal do Paraná na manhã desta quarta-feira.
O delator foi ouvido na condição de testemunha no processo em que são réus Duque, Vaccari e Augusto Mendonça, presidente da construtora Setal, a primeira a fazer acordo de leniência.
Segundo Barusco, o pagamento de propina aconteceu nas obras dos Terminais de Caiúnas II e III, nas Refinarias Revap, Replan e Repar. Essas obras foram feitas pela Setal, Mendes Junior e MPE.
Em todas essas obras houve pagamentos de propinas. Na Petrobras, quem recebia a propina era eu e o Renato Duque, tendo como intermediário o Mário Goes (dono da Riomarine). O percentual do PT era recebido pelo João Vaccari. Antes dele, não sei quem recebia.
Barusco reafirmou que se reuniu com João Vaccari e Renato Duque algumas vezes para discutir os valores das propinas.
Eu não fui a todas as reuniões. O (Renato) Duque ia a mais reuniões. As reuniões aconteciam no Hotel Widson, no Rio, e no Hotel Meliá, na Alameda Santos, em São Paulo.
O procurador do MPF quis saber se a indicação de Renato Duque para a diretoria de Serviços teve apoio do PT.
Todos os diretores tiveram apoio político. Eu entendo que, uma vez o PT no governo, caberia ao partido indicar as pessoas nos cargos. Eu e o Duque eramos de carreira. Era natural que Duque pudesse ser escolhido ou eu. Indicação política sempre houve.