No Carnaval de 1997, o gari Renato Lourenço foi escalado para trabalhar pela primeira vez no sambódromo do Rio de Janeiro, a Marquês de Sapucaí. Chegando ao local, ao invés de varrer a pista por onde passavam as escolas de samba, ele começou a sambar com sua vassoura atrás das agremiações. O chefe chegou a repreendê-lo, mas como público aplaudia aquele inusitado passista sorridente, a bronca perdeu força.
Ali "nasceu" o gari Renato Sorriso e, desde então, ele virou um dos símbolos do Carnaval carioca. A fama foi tanta que ultrapassou a avenida do samba. Renato fez uma participação na novela "América" (2005), comerciais com Gisele Bündchen e Zeca Pagodinho e integrou a comitiva brasileira no encerramento das Olimpíadas de Londres (2012). O samba, a alegria e descontração do gari Sorriso foram exibidos para o mundo inteiro.
E agora a trajetória ganhará as telas. A Ancine acaba de aprovar o projeto da produtora Caos e Cinema para o documentário "Sorriso". "Quando o Renato apareceu em Londres, tive a ideia. Ele é muito querido e um símbolo da cidade. Não encontrei muito material à altura dessa figura e achei que seria bacana tocar o projeto", conta o diretor J. C. Oliveira, que mora em frente à praça onde o gari trabalha, no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Modesto, Renato se surpreendeu com convite. "Fiquei feliz com ideia, mas achava que tinham outras pessoas mais importantes, que fizeram coisas melhores que eu. Não sou ninguém até hoje", brinca ele, que se formou no ano passado, aos 48 anos, na faculdade de Turismo.
"Dois momentos de muito orgulho na minha vida, inesquecíveis, foram quando eu entrei na faculdade de Turismo e quando me formei. Nunca irei me esquecer", diz Renato Sorriso, que não se deslumbra com o contato com famosos. "Não encaro as pessoas pelo status dela e, sim, pelo amor que ela transmite às pessoas ao seu redor", avalia.
Segundo J.C. Oliveira, o projeto será um curta-metragem. O filme será exibido em festivais, na web e em emissoras especializadas, como o Canal Brasil. A Ancine aprovou a captação de recursos para o documentário e o diretor espera iniciar a produção até o final do ano.
Questionado quem ele gostaria de ver interpretando-o caso o filme fosse de ficção, Renato Sorriso prefere não se comprometer. "Não posso fazer esse pré-julgamento. Pode ser meu filho ou meu irmão? Aí, sim (risos)", diz ele, casado há dez anos e pai de três filhos.
Uma coisa, no entanto, não o deixaria em cima do muro: um novo convite para atuar em novelas. "Faria correndo! Adoraria, interpretando um papel mesmo. Qualquer personagem que me derem, eu faço. Sou ruim de decorar texto, mas prometo me esforçar", promete, com um largo sorriso, sua marca registrada.