A decisão do ex-governador José Serra de permanecer no PSDB, nos termos acordados e vocalizados por ele e pelo presidente da legenda, senador Aécio Neves, devolve o partido a uma disputa que parecia resolvida com relação à candidatura presidencial.
Há ainda dois potenciais candidatos, leitura que as declarações de ambos permite, um deles a ser escolhido em 2014, "no momento apropriado".
O Dia do Fico do ex-governador, após uma reunião segunda-feira com seu rival mineiro, produziu uma versão sugestiva de que Serra permanece num cenário em que reconhece a supremacia de Aécio no partido, mas não sua liderança eleitoral, esta contestada agora amenizado por uma espécie de pacto de convivência.
Serra justifica sua decisão como resultado de uma reflexão que o fez concluir ser o PSDB a melhor trincheira de combate ao inimigo comum a ele e Aécio - o PT. Mas há uma outra trincheira que pode ter ficado implícita - a que servirá à sua resistência à candidatura do presidente do partido em favor de uma nova tentativa sua ao Planalto.
Um liderança expressiva do partido admite que o encontro adiou as diferenças e que Aécio prosseguirá priorizando as alianças estaduais, que o ocupam diuturnamente, e Serra está liberado para fazer "o seu proselitismo", como definiu literalmente. A sucessão , subitamente, é tema precipitado que deve ser resolvido na hora oportuna.
Esse desfecho autoriza também a leitura de que Serra jamais considerou seriamente a possibilidade de deixar o partido. Se chegou a pensar, de fato, dela deve ter desistido há mais tempo do que sugere o anúncio formal feito anteontem. Faz tempo que a lógica indica que a candidatura pelo PPS só serviria para dividir os votos tucanos, o que configuraria canibalismo político. Sem estrutura, o PPS não serviria para nada além disso.
A longa exposição do conflito, hoje apenas adiado, serviu ao propósito de Serra de discutir a indicação de Aécio para candidato do partido sob o ângulo de sua densidade eleitoral - e não do lugar na fila, que não pode ser contestado. Depois de restabelecer um debate que estava aparentemente superado, pediu e foi atendido pelos institutos de pesquisa para que seu nome fosse incluído entre os potenciais candidatos e registrou índice igual ou superior ao de Aécio.
É verdade que seu recall, como observou o ex-presidente Lula (para quem Serra ainda prepara alguma para Aécio), é maior do que o do rival, o que explica os índices mais favoráveis. É verdade também que o índice de rejeição de Serra é bem maior, é expressivo nas pesquisas, e também em boa medida extensivo a parceiros como o DEM, sequelas da última campanha.
Mas o que Serra quis distinguir, e conseguiu, foi a liderança interna de Aécio e a eleitoral, onde fica claro que está atrás do ex-governador no quesito conhecimento nacional. Nada que não possa ser superado por uma boa campanha, mas o suficiente para justificar para Serra a postulação à candidatura em 2014.
À parte o mérito da persistência, que a ele não se pode negar, são poucas as chances de Serra conseguir êxito nessa tentativa. Seus próprios aliados históricos dentro do PSDB recomendam a campanha ao Senado - alguns até para a Câmara, que seria mais certa, pois na primeira hipótese teria de enfrentar rivais tucanos que postulam a mesma coisa e também adversários políticos como Eduardo Suplicy (PT-SP).
Mas nada é impossível e os últimos dias reafirmaram a leitura de que Serra não desistiu de pleitear a condição de candidato do PSDB à sucessão de Dilma Rousseff.
Os adversários tucanos também dão a entender que contam com essa possibilidade. Lula foi explícito e, mesmo que de forma estratégica, se disse incerto quanto a quem disputará pelo PSDB, estimulando a dúvida no eleitor. Mas mesmo para fazer isso, precisava contar com os sinais de divisão interna do adversário, agora consumada.