Jeannis Michail Platon é um apaixonado inveterado pelo fundo do mar, mergulhador profissional e escritor, nasceu em Heraklion, na Ilha de Creta, na Grécia. Mudou-se para o Brasil ainda menino, com apenas 12 anos. Logo que chegou já se encantou.
Quando se mudou para o Brasil, em 1960, foi morar no Bom Retiro, em São Paulo, com seus pais. Depois de São Paulo, a família se mudou para Mogi das Cruzes, onde construiu uma fábrica de confecção de roupas para crianças.
E foi em 1967, quando pela primeira vez, a trabalho, pois nessa época, ainda era comerciante - Jeannis colocou os pés no Litoral Norte e se apaixonou pelas belezas naturais. Principalmente, pelo mar. Com brilhos nos olhos, ele conta que quando chegou aqui, se deparou com esse mar, e a beleza tão exuberante de Ilhabela não pôde resistir, e se apaixonou. Hoje em dia, aos 63 anos, ele ainda mergulha de vez em quando para não enferrujar, a paixão pelo fundo do mar será eterna.
Um pouquinho da história
O escritor contou que toda sua família, na Grécia, é formada por mergulhadores não profissionais. Seus tios eram escafandristas de esponjas na Ilha de Creta, tiravam as esponjas do fundo do mar com escafandro. Por possuir tamanha herança familiar, seu primeiro mergulho foi aos 10 anos. Não podendo resistir mais a sua paixão, em 1969, decidiu mudar-se para o litoral e fixar residência em São Sebastião.
Ele revela que, apesar de ter feito alguns mergulhos na Grécia, o arquipélago foi seu berço. Em Ilhabela que ele aprendeu a mergulhar, caçar e, posteriormente, desenvolveu sua paixão por arqueologia submarina, na qual se especializou em naufrágios. O mergulho, então, tornou-se sua paixão e sua profissão.
Quando Jeannis veio para São Sebastião, continuou trabalhando com feiras, e depois de três anos abriu sua primeira, em 1970, a Casa do Povo, que ficava localizada na rua Três Bandeirantes. Alguns anos depois, também em São Sebastião, inaugurou a loja esportiva SportMar, no centro. Na mesma época, acabou montando também uma em Caraguatatuba e Ubatuba. Ele relembrou sua trajetória, e falou que trabalhou por muitos anos no comércio náutico da região. A loja de Ubatuba existe até hoje, mas a do centro de São Sebastião, acabou vendendo para antiga gerente. Com a chegada da aposentadoria, preferiu se dedicar mais às pesquisas subaquáticas, e a sua outra profissão, a de escritor. Jeannis abriu também outra loja chamada SportMar Decorações Náuticas, um pouco mais afastada do centro da cidade. Ele confessa que o local é mais um passatempo, e que é lá que trabalha mais em seus estudos. Devido suas descobertas, estudos, pesquisas e publicações, tornou-se membro efetivo da Academia Brasileira Maçônica de Artes, Ciências e Letras. Além de ser também o presidente da Fundação Mar.
A paixão pela Princesinha
Mergulhador profissional, formado no 7º Grupo de Mergulhadores da Marinha do Brasil, Jeannis trabalhou muitos anos em Ilhabela com turismo náutico. Ele tinha um navio, um caça- minas, que comprou em um leilão da Marinha do Brasil, e fez dele um navio de mergulho. O “Hipocampo” foi comprado em 1974, e funcionava como uma escola de mergulho, naquela época a Ilha Alcatrazes era aberto à visitação pública. Ele conta que levava mergulhadores daqui do litoral, para passar o final de semana lá, com direito a pernoite e tudo. Eles iam na sexta-feira e voltavam no domingo.
Durante o tempo em que o Hipocampo esteve na ativa, 1974 a 1992, Jeannis formou cerca 3.500 mergulhadores. Então, em 1992, quando a Marinha fechou Alcatrazes, para seus exercícios de tiro, ele se viu obrigado a vender a embarcação, porque nem o mergulho contemplativo seria mais permitido, assim, infelizmente, não havia razão para manter o navio operando. Em sua trajetória, Jeannis já trabalhou com resgate de embarcações naufragadas, mergulhando nas plataformas da Bacia de Campos, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Trabalhou em toda a Costa Litorânea Brasileira, como mergulhador profissional por mais de 35 anos.
Realizações e frustrações
Jeannis escreveu três livros, e contou que já tem mais quatro prontos para serem publicados, apenas aguardando apoio culturalo. O livro Ilhabela e seus Enigmas, que já lhe rendeu uma aparição no programa global Jô Soares, teve como embasamento os principais naufrágios da região. Seu conteúdo foi adquirido durante 30, 40 anos, de mergulho. “Tudo que eu conheci eu coloquei no livro, que é especifico para o mergulho”. Os outros dois livros são Tesouro Sombrio, e Descubra São Sebastião, história, lendas, ilhas e praias.
Em seus mergulhos e viagens submarinas por Ilhabela, conseguiu juntar muitas peças oriundas de embarcações naufragadas. Foi também dessas expedições ao fundo do mar que conseguiu juntar seu acervo.
Ele já retirou peças do fundo do mar, que hoje fazem parte do Museu Naval da Marinha do Brasil. Existe uma estátua, um monumento que estava no navio Príncipe de Astúrias, recuperada por ele, que também foi requisitada para o acervo da Marinha.
O trabalho mais importante que ele já realizou aqui na região foi com o navio transatlântico Príncipe de Astúrias, que afundou atrás da Ilhabela na Ponta da Pirabura. O navio foi considerado o segundo maior naufrágio da história, em relação ao número de mortos, ficando atrás apenas do mundialmente conhecido Titanic. O Príncipe de Astúrias transportava 1.890 pessoas, e chegou a um número aproximado de 1.500 mortos. Ele conta que se salvaram apenas um pouco mais de 100. O naufrágio aconteceu em 5 de março de 1916.
A Fundação e o Museu
Há 18 anos, ele montou a Fundação Mar, localizada no Balneário dos Trabalhadores, na Praia Grande. “Eu e mais uns amigos, doamos peças de uns naufrágios mais antigos que nos mergulhávamos e montamos o Museu, com patrocínio da prefeitura de São Sebastião”.
Há mais ou menos um ano, montou em Ilhabela o Museu do Mar. Desta vez, toda a coleção exposta no museu é exclusivamente sua. Jeannis revela com um pouco de tristeza, que ainda não conseguiu nenhum tipo de patrocínio cultural, nem divulgação, por parte do poder público de Ilhabela. E que o Museu só está aberto ainda, devido a seus esforços em disseminar cultura. Porém, as despesas são grandes. “Estamos atrás do restaurante Deck, no bairro do Perequê, num salão grande, lá tem mais de 1.500 peças, todas minhas. Temos âncoras do ano de 1700. Certo dia, eu recebi um email de um turista que esteve em Ilhabela e sabia da existência do Museu, mas infelizmente a pessoa não conseguiu achar, pois não havia nenhuma indicação na cidade. Pretendo trabalhar até o final desta temporada, se não conseguir apoio cultural da cidade, vou ter que fechar as portas do museu”. O mergulhador também se mostrou um tanto quanto magoado com a região, como um todo, ao afirmar que a história não está sendo mais passada entre as gerações pelos caiçaras. Ele acredita que a cultura local esteja esquecida. Como por exemplo, a arte de fazer canoa, rede. Segundo ele, a pessoa que vai a Ilhabela fará um turismo comercial apenas. Não haverá mais história e cultura.