“O casal já passou a lua de mel, está vivendo junto, casado, e o filho vai nascer”, responde Cesar Maia sobre a possível aliança entre o DEM e o PR, do ex-governador Anthony Garotinho, pela disputa da Prefeitura do Rio em 2012. “A nossa convergência é em função da derrota do PMDB”, esclarece. “Eduardo Paes corre o risco de nem ir para o segundo turno”, diz confiante.
Cesar sobre possível coligação com PR: 'A nossa convergência é em função da derrota do PMDB'
Perdeu para Marcelo Crivella (PRB) e Lindberg Farias (PT), e ficou atrás do ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani (PMDB). “Minha candidatura não tinha segundo voto, o Marcelo Cerqueira (do PPS, com quem estava coligado) não tinha voto nenhum. O Picciani cresceu com o Lindberg e perdeu por causa do Garotinho, que falou que sua prioridade era derrubá-lo. Mas pode ser que o eleitor tenha cansado de mim”, avalia.
A última candidata à prefeitura que tentou emplacar, a ex-deputada federal Solange Amaral, ficou em sexto lugar, com 3,92% dos votos (128,5) no pleito de 2008. Dois anos antes, na disputa pelo governo do Rio, em 2006, apoiou a ex-deputada federal Denise Frossard (PPS) e também saiu derrotado. Para o governador do Rio,
Sérgio Cabral (PMDB).
Agora,
Cesar acredita que vai ser diferente. O pré-candidato a prefeito do partido que lidera é seu filho, o deputado federal Rodrigo Maia. A provável vice, Clarissa Garotinho, filha do casal de ex-governadores Rosinha e Garotinho.
Cesar Maia e seu filho, o deputado federal Rodrigo Maia
Os termos que favorecem o acordo, segundo Cesar, são simples: “Há interesse mútuo”, resume. “A Prefeitura de Campos é estratégica para o PMDB e para o PR (
a ex-governadora Rosinha, mulher de Garotinho, é prefeita da cidade). É muito poderosa, recebe mais de R$ 1 bilhão de royalties. E tem (
a eleição de)2014, o Garotinho é o grande adversário do PMDB no interior do estado. Por isso, Campos é tão importante. E lá o DEM não tem candidato, mas tem tempo de TV, o que é bom para Garotinho e para o PR ”, esclarece.
Cesar afirma que em troca o DEM pensa em contar com o tempo de TV do PR no Rio. “O Garotinho é uma liderança forte, com 170 mil votos na capital no ano passado (quando se elegeu deputado federal com mais de 694.862 votos em todo estado), e traz o aval do eleitor evangélico e de um eleitor mais popular que vota muito conjunturalmente”, diz.
A seguir, Cesar Maia fala dos preparativos para voltar à vida legislativa da cidade do Rio de Janeiro, onde é pré-candidato a vereador. “Seu eu for eleito teremos um jogo político de alto nível. Hoje o que se tem (na Câmara Municipal) é uma eterna adesão”, esnoba.
Há resistências no DEM e no PR a uma chapa do deputado federal Rodrigo Maia e a deputada estadual Clarissa Garotinho à Prefeitura do Rio. O acordo está fechado?
Cesar Maia: O casal já passou a lua de mel, já está vivendo junto, casado, e o filho vai nascer. Agora, política no Brasil, você jurar por Deus... Mas não há nada que nos leve a ter qualquer desconfiança de que esse acordo não esteja consolidado. E por quê? Porque há interesse mútuo.
Não há conflitos entre as legendas?
Cesar Maia: O Rodrigo e o Garotinho foram mapeando o Estado e vendo que em municípios grandes, onde os dois partidos têm tempo de televisão, não há nenhum conflito que não permita ceder o tempo e o comando da chapa para o outro. Campos fica com o PR; Rio de Janeiro, com o DEM; São Gonçalo, PR; Nova Iguaçu, DEM; Volta Redonda, PR; Maricá, DEM. Em municípios pequenos, cada caso é um caso. Se for possível estar junto, excelente, mas não há obrigatoriedade. Está tudo mais ou menos arrumado. Falta um ponto aqui e ali.
O deputado federal Anthony Garotinho e sua filha, Clarissa, deputada estadual pelo PR e possível candidata a vice em chapa com Rodrigo Maia
Os eleitores do DEM e do PR não podem estranhar esse acordo?
Cesar Maia: Você faz coligações por duas razões: uma é a convergência no tempo, que é o caso que a gente tem com o PSDB nacionalmente. Em campanha presidencial estivemos juntos sempre. A outra é quando forças políticas se opõem a uma terceira que está no governo e entendem como prioritária a derrota dessa força. Foi o que aproximou o PR do DEM. A nossa convergência é em função da derrota do PMDB.
Não temem possíveis perdas de votos?
Cesar Maia: Alguma perda na zona sul, mas essa perda não vai para o Eduardo (Paes, prefeito do Rio que tentará a reeleição pelo PMDB), vai para o Freixo (deputado Marcelo Freixo, PSOL, apontado como pré-candidato da legenda à sucessão municipal), que é forte na região. Então, onde a gente perde, não perde para quem está no governo, não perde para o PMDB. O Eduardo tem cometido erros que são fatais no Rio de Janeiro, como, por exemplo, perseguir servidor público. O segundo erro é confundir lei e ordem com repressão aos pobres, que gera uma rejeição muito grande na área popular. O terceiro é privatizar educação e saúde.
O prefeito Eduardo Paes entrou na vida pública como afilhado político do senhor. Ele tornou-se um rival ou as suas artilharias são apenas contra o PMDB?
Cesar Maia: O Eduardo quando era do DEM (PFL à época) achava que o Rodrigo (Maia) roubava o espaço dele na legenda. Foi para o PSDB, mas viu no PMDB opção para crescer, virou prefeito. Em relação à carreira política não acho que tenha agido errado. Mas como prefeito erra muito. Como disse, persegue servidores, privatiza educação e saúde. Mesmo com a boa vontade da mídia ele está com uma taxa de rejeição de 25% (segundo pesquisa de opinião encomendada pelo DEM há cerca de um mês). Por enquanto, ele está bem porque está surfando sozinho. Quando os outros candidatos aparecerem, ele cai.
O governador Sérgio Cabral (PMDB) foi reeleito no primeiro turno com mais de 60% dos votos. Ele não será um forte cabo eleitoral do prefeito Eduardo Paes?
Cesar Maia: A eleição do ano que vem será competitiva, muito diferente de 2010, quando o Lula estava santificado e isso ajudou o Cabral. Numa eleição municipal, a influência federal é menor. O Cabral sofreu um forte prejuízo moral com a
queda do helicóptero na Bahia e a
crise dos bombeiros, as pesquisas mostram. Foi seu governo que piorou muito? Não, o governo do Sério Cabral é ruim desde sempre, as pessoas avaliavam bem em função de publicidade, UPA, essas coisas que não funcionam, mas geram um destaque. O que mudou? O impacto do boca a boca em relação a esses casos que citei. E as pessoas que fazem da sua parceria um elemento de propaganda, como Paes e Cabral com essa história de “estamos juntos (
aperta as mãos, em referência ao slogan da campanha para a reeleição do governador Sérgio Cabral em 2010), estamos juntos (
simula um abraço)", se comprometem. Na hora que (
uma crise) pega uma parte a outra também é atingida.
O deputado federal Anthony Garotinho já manifestou vontade de disputar o governo do Rio em 2014. O DEM irá apoiá-lo?
Cesar Maia: Não se discute 2014 na nossa aliança com o PR. Está completamente fora de discussão.
Por quê? O senhor pode vir candidato ao governo do Estado em 2014?
Cesar Maia: Posso.
Essa possibilidade não ameaça a aliança de 2012? Se Rodrigo e Clarissa forem eleitos, é natural que cada um apoie o candidato de suas respectivas legendas em 2014...
Cesar Maia: Às vezes é bom que os dois partidos tenham candidatos. O (senador) Lindberg é um candidato forte do PT, que faz muito bem a campanha eleitoral. A especialidade dele é fazer campanha. O (vice-governador Luiz Fernando) Pezão vem com a máquina do PMDB. Então, muitas vezes interessa para o Garotinho, que é favoritíssimo no interior e na região metropolitana, ter uma eleição espalhada para haver imprevisibilidade de a respeito de quem vai para o segundo turno. Pode interessar para ele, pode interessar a nós.
De aliados a rivais: Cesar diz que PSD, partido fundado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, após deixar o DEM, 'é o baixo clero do governo'
O senhor sairá candidato a vereador. É para dar sobrevida ao DEM na capital fluminense, o senhor será o puxador de votos? Muitos integrantes da legenda migraram para o PSD...
Cesar Maia: A grande perda é sempre o potencial eleitoral de campanha majoritária, e isso nós não tivemos. Por exemplo, a (vereadora) Rosa Fernandes me procurou e disse que o tipo de representação comunitária que ela faz há mais de 30 anos depende de estar junto ao governo. A Rosa tem muito voto, é muito forte e muito boa. É interesse do prefeito tê-la na base de apoio puxando voto? Claro. Agora, não é perda política. Tivemos, sim, perda de votos na Câmara. O deputado federal Arolde de Oliveira foi para o PSD. Apesar de considerá-lo uma grande figura, não foi perda. A liderança evangélica que ele representava o Garotinho, que faz composição com a gente, tem.
E tempo de TV e fundo partidário?
Cesar Maia: Só vamos saber em 2014. Se o PSD eleger bancada maior do que a nossa eles terão um tempo de TV maior do que a gente. Mas, do ponto de vista dos deputados federais, o PSD é o baixo clero do governo. Tenho dúvidas sobre o sucesso deles em 2014, porque não têm nomes expressivos. No Senado ainda tem a Kátia Abreu...Então, o que eles vão fazer em 2014? Vamos esperar. Até lá, o tempo de televisão é nosso, o fundo partidário é nosso, a estrutura do Congresso é nossa.