GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

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Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

segunda-feira, 6 de março de 2017

FISCAIS DO SEXO


Mesmo com a overdose de sexo na internet e na TV, ainda tem gente que paga pra ouvir conselhos íntimos e seguir regrinhas de 'personal sex trainer'

Os paranaenses Roberto, 35, e Fernanda, 29, estavam quase se separando. A rotina corrida da médica colidia com o trabalho desgastante do advogado e os momentos íntimos do casal acabaram virando um balé sem graça debaixo dos lençóis, segundo eles. Mera necessidade.
"Ele botava a culpa em mim, na minha falta de tempo. Mas ele também não me procurava, se é que você me entende", conta Fernanda.
Um dia, aconselhado por colegas, Roberto levou para casa uma mulher que falava abertamente sobre diferentes posições sexuais e que carregava em sua mala aquela coisa toda de sempre: algemas, vibradores, você sabe.
Fernanda diz que achou estranho: "A gente estava cogitando a separação e meu marido ainda põe dentro de casa uma bonitona e que se dizia consultora sexual".
A intrusa era (ainda é) Elis Medeiros, 34, curitibana que se formou em administração de empresas e fez curso de "sex coaching" nos EUA.
As sessões com Elis, que se estenderam por três meses, rolavam três vezes por semana e duravam uma hora.
Nos primeiros encontros, ela ouviu as queixas de cada um separadamente. Depois, passou a dar dicas íntimas. Quais? Aquela coisa toda de sempre: mude o cenário, mude a roupa, você sabe.
"Somos professores, ensinamos, eles fazem a lição de casa", diz a "sex trainer".
Nem todas as lições têm sucesso. Uma noite, Fernanda foi dançar para o marido sobre a cama, como mandou a treinadora. "Acabei não vendo a beirada e caí no chão. O sexo terminou ali."
Mesmo assim, o casal pagou R$ 2.500 para descobrir aspectos multifuncionais do chuveiro e da cozinha.
"No começo, foi constrangedor, mas no fim, voltamos a ser como antes", diz o marido. E Fernanda completa: "Hoje, algema é rotina".

INSPETORES
Orientadores sexuais desse naipe não faltam na praça -se é que alguém precisa de um, tendo TV e internet.
Alguns desses fiscais da vida alheia, por sinal, se comparam aos conselheiros Tracey Cox e Michael Alvear, do programa inglês "Os Inspetores do Sexo", que até agosto esteve na grade do GNT.
No reality show, as relações sexuais do casal em crise são filmadas por câmeras instaladas na casa. Os apresentadores assistem às imagens gravadas, diagnosticam e depois passam a lição.
"A única diferença é que eu não tenho câmeras para acompanhar o casal o tempo todo. Só fico sabendo pelo que eles me contam", diz Rita Rostirolla, 45, que se apresenta como a "primeira personal sex trainer do Brasil".
Rita, que não concluiu curso superior (nisso ela é diferente dos fiscais da TV), diz que começou há 15 anos dando dicas "picantes" às amigas, no interior do Rio Grande do Sul. Hoje, cobra R$ 500, por uma hora e meia.
"Eu tenho o dom de falar abertamente daquilo que todo mundo faz, mas não fala", diz a gaúcha. Segundo ela, até 2.000 mulheres já se espremeram numa mesma sala para assistir às suas palestras, às vezes organizadas por corretoras de seguro.
E os homens, ela também treina? "Eles preferem bate-papo informal. Estão sempre interessados em modos de convencer a mulher a praticar posições diferentes", diz.
A paulista Fátima Mourah, 50, ex-professora de dança de salão, também entrou na onda de ensinar sedução para mulheres e vender conselhos sexuais a casais.
A empresária Sandra, 46, é uma de suas alunas. Casada há 30 anos, ela conta que sentia estar perdendo a intimidade com o marido. Correu, então, para aprender "dança sensual".
A instrutora Fátima resume seu trabalho: "Aqui as minhas alunas voltam a ser mulheres, para provar aos maridos que elas são a melhor opção da vida deles".

MUITA PRODUÇÃO
Esse investimento todo em agradar o homem pode ser um desperdício, na opinião da sexóloga e psicanalista Regina Navarro Lins, autora do livro "A Cama na Varanda" (Best Seller).
"O sexo tem que ser valorizado pelo prazer que ele proporciona, pela sua espontaneidade, e não a representação de um papel", afirma ela. A terapeuta acha "abominável" a mulher se fantasiar ou dançar apenas para se ajustar ao desejo masculino.
O papel de treinadores sexuais também é questionado por sexólogos, em especial quando envolve aconselhamento de casais.
"Elas dão conselhos sem ter nenhuma formação", critica Maria Luiza Macedo de Araújo, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana.
"Nós lidamos com coisas muito mais complexas do que isso de "beija aqui, põe a mão ali", conselhos que qualquer amigo de bar dá", diz.
Segundo a sexóloga, muitas insatisfações sexuais podem esconder problemas que só em uma psicoterapia a pessoa vai conseguir trabalhar, como traumas, repressões e até abusos.
A psiquiatra Carmita Abdo, do Programa de Estudos em Sexualidade do Hospital das Clínicas, concorda.
"O trabalho de "personal" pode ser interessante para casais que têm muita falta de percepção deles mesmos, mas se o problema é uma disfunção sexual ou um conflito psicológico, daí só o terapeuta é que pode resolver."
Regina Navarro Lins dispara: "O tesão não é refém da produção".

By, GUILHERME GENESTRETI

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