Quarenta e dois estudantes da Escola Estadual de Educação Básica Pedro Joaquim de Jesus, em Teotônio Vilela, na região agreste de Alagoas, foram aprovados em universidades públicas por meio das provas do Enem 2016 (Exame Nacional do Ensino Médio). No ano passado, foram apenas quatro. A escola, que fica a cerca de 100 km da capital, Maceió, tinha 200 alunos matriculados no terceiro ano em 2016.
O salto da aprovação de estudantes é creditado ao Filme Lab, laboratório destinado a estudantes do 3º ano do Ensino Médio para preparação específica para o Enem. Iniciativa da própria escola, o laboratório começou a funcionar em 2016, à noite, no contraturno escolar.
Na primeira chamada do Sisu 2016 (Sistema de Seleção Unificada), foram 32 estudantes aprovados e, na segunda chamada, mais dez foram chamados para cursos em universidades públicas. Os aprovados conseguiram ingressar na Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Uneal (Universidade Estadual de Alagoas), na Uncisal (Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas) e UFS (Universidade Federal de Sergipe). A direção da escola afirma que dezenas de alunos também foram aprovados em vestibulares de universidades e faculdades particulares, sem especificar o número exato.
A estudante Maria Jackeline da Silva, 19, tentava pela terceira vez usar a nota do Enem para ingressar em um curso superior em universidade pública. No ano passado, ela participou do Filme Lab e, neste ano, foi aprovada em duas graduações: fisioterapia, na Uncisal, e letras, na Ufal.
"Estava havia dois anos tentando ser aprovada em fisioterapia. O diferencial desta vez foi a preparação que a gente teve durante todo o ano, além das dicas dos professores do Filme Lab, essenciais nesse processo de aprendizado", explicou a estudante.
Com 15 anos, Luiz Elias da Silva Filho concluiu o Ensino Médio e foi aprovado em primeiro lugar no curso de engenharia civil na Ufal. Ele conta que foi estimulado pelos professores a acreditar no potencial dele para terminar o ano escolar e ainda ser aprovado na universidade. "Não devemos desistir dos nossos sonhos e achar que não podemos realizá-los. É ter foco e dedicação nos estudos que todos conseguem, sejam pobres ou ricos", disse.
Filha de pais analfabetos, a estudante Maria Keliane da Silva Rocha, 16, vai cursar a faculdade de letras na Ufal e conta que será a primeira pessoa da família a ter um curso superior. Os pais dela são feirantes em Teotônio Vilela.
"Minha família está orgulhosa e eu também, pois venci a barreira ao mostrar que a universidade pública é para todos. Meus pais, mesmo analfabetos, sabem da importância de estudar e me incentivaram para eu não desistir e fazer um futuro diferente do deles", conta Rocha.
Escola criou meotodologia para entender o Enem
O Filme Lab foi idealizado pela coordenadora pedagógica da escola, Ana Carolina Vasco, em parceria com a diretora, Fátima Pimentel. Durante o projeto, Vasco decidiu se submeter ao Enem para entender melhor o processo do exame e, este ano, dar mais suporte aos estudantes da escola.
"É um incentivo para que os professores se atualizem e, além de pesquisar questões do Enem, prestem o exame também, se submetam ao estresse. É preciso entender o Enem para preparar o aluno", afirmou Vasco.
A diretora da escola, Fátima Pimentel, destaca que o resultado da aprovação dos alunos no Enem se compara a de escolas particulares, onde o ensino é voltado para os vestibulares. Segundo ela, entre 42 estudantes aprovados estão os primeiros lugares nos cursos de engenharia civil, química e letras na Ufal, campus Arapiraca, que está a cerca de 70 km de Teotônio Vilela.
Para Pimentel, o resultado se deve ao engajamento de funcionários da escola e à ajuda da Seduc (Secretaria de Estado da Educação de Alagoas), que cedeu quatro professores das disciplinas de português, matemática, química e física para atuar no projeto. As disciplinas de história, redação, geografia e filosofia foram ministradas por voluntários -- ex-alunos da escola que são professores ou graduandos nas áreas.
"Criamos o laboratório de aprendizagem e adotamos uma metodologia para entender a dinâmica do Enem. Além disso, criamos certificados de alunos-destaque para que eles se sentissem estimulados a manter o reforço noturno no laboratório", explica a diretora. Segundo Pimentel, a escola é formada por estudantes pobres e, em grande parte, moradores da zona rural, filhos de agricultores e feirantes. "Trabalhar a autoestima fez com que acreditarem que tinham potencial e que a universidade não é só para ricos. Isso foi essencial nas aprovações."
Simulados e material próprio
No laboratório, os estudantes encontraram material próprio, com questões de exames antigos, treinamento de raciocínio lógico e cronograma para resolução das questões e preenchimento do cartão-resposta.
"Fizemos simulados com o tempo similar ao do Enem para que os alunos fossem se preparando na organização do tempo. Mas, a nossa integração aluno e professor foi essencial", explicou Pimentel, que gastou R$ 700 do próprio bolso com a impressão das apostilas.
No ano passado, a escola tinha cinco turmas de terceiro ano do Ensino Médio com 40 alunos cada uma. No início do projeto, 120 alunos aderiram ao Filme Lab. Cerca de 50 chegaram à reta final. Em 2016, a escola tinha, ao todo, 2.200 estudantes matriculados e este ano contabiliza a matrícula de 1.887. A queda do número de matrículas se deve ao desmembramento de um anexo na zona rural, que atualmente se transformou em escola e atuará de forma independente este ano.
A escola funciona nos três turnos e tem 47 anos de fundação. A unidade escolar possui 12 salas de aula –todas com ar-condicionado --, laboratório de ciências e linguagem, biblioteca, auditório, refeitório, pátio, campo de futebol e quadra de esportes.
O efeito imediato foi o aumento na procura por vagas no terceiro ano. "Estamos com as turmas fechadas, pois todo mundo agora quer estudar aqui para ter acesso ao Filme Lab", relatou Pimentel.
O ano letivo de 2017 começa na próxima segunda-feira (6). As aulas do Filme Lab 2017 terão início em maio, após avaliação do projeto.
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