GACC - Grupo de Assistência à Criança com Câncer

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Desde o início de suas atividades, em 1996, o GACC - então Grupo de Apoio à Criança com Câncer - existe para aumentar a expectativa de vida e garantir a oferta e a qualidade global do tratamento oferecido integral e indistintamente a crianças e jovens com câncer, diagnosticados com idades entre 0 e 19 anos incompletos, independente de sexo, cor, religião ou posição socioeconômica.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Eles ajudam os casais religiosos a discutir sobre sexo e tabus da cama



Masturbação, sexo anal, sexo oral, brinquedos eróticos... 


Casais religiosos de algumas denominações evangélicas que quiserem conversar sobre esses e outros temas de sexualidade podem encontrar aconselhamento na própria religião com pessoas preparadas para orientá-los. Eles são de prestígio dentro da comunidade ou até mesmo reverendos especializados em atender casais.

Lucia Figueiredo, 58 anos, é uma dessas pessoas. A bióloga é devota da Igreja Batista Betel, em São Paulo, e é o contato indicado pelo pastor para quem busca aconselhamento sexual. Casada há 35 anos, ela desempenha a função há 10, buscando desmistificar o sexo e a relação que os devotos têm com o próprio corpo.
Arquivo pessoalSua atuação começou com o combate à violência contra a mulher, mas isso abriu espaço para papos sobre sexualidade e hoje atua com noivos, casais e jovens. Recentemente, ela organizou um evento chamado “Sexo se aprende na igreja”, com a presença de médicos para tirar dúvidas dos adolescentes.
Mas seu foco mesmo são os casais, já que para sua crença, o sexo fora do casamento é considerado pecado. Dentro dele, vale quase tudo que dê prazer aos dois e fortaleça a relação do casal. “Uma vez em um encontro, o pastor falou que sexo oral é algo sujo. Eu falei ´a nossa boca tem mais bactérias que um órgão genital limpo´", conta. 
O mesmo vale para acessórios sexuais usados a dois e lingeries. Mas uma coisa que ela observa é que a lingerie sexy ainda é uma questão entre os religiosos. “Uma vez, fui procurada por uma mulher que vestiu a lingerie para o marido que pensou ´se ela está vestida como uma prostituta, vou tratar como tal´, e violentou a esposa”, conta Lucia, que já teve de lidar com outros casos de violência sexual dentro de casamentos.
Outro tabu recorrente nas conversas é a masturbação. Mas para Lúcia – e na verdade para todos os demais entrevistados -, isso exige cuidado, porque fantasiar pode ser pecado. “Fantasiar com outra pessoa ou outra situação que não é real pode ser errado”, afirma. Com o sexo é algo que só pode acontecer dentro do matrimônio, é ideal que seja sempre a dois.
“A igreja não pode ir contra a ciência”
Arquivo pessoal “Pesquisas comprovam que casais que têm uma vida sexual ativa, e aqui falo de qualidade, não de quantidade, vivem mais felizes. E a Igreja não pode ir contra a ciência nesse ponto, portanto apoia esse pensamento. Vale salientar portanto, que sexo faz bem para a saúde dos indivíduos e do casal, além de ser abençoado por Deus”, quem diz isso é o reverendo da Igreja Anglicana Rogério de Assis, 40 anos.
Especializado na celebração de casamentos, ele está sempre em contato com casais a quem aconselha sobre as mais diversas questões, inclusive sexuais. Sem perder a fidelidade aos dogmas de sua igreja, ele acredita que não pode dizer que alguma prática consensual de marido e mulher seja pecado. “Afinal, são eles os senhores desses assuntos entre quatro paredes”.
Rogério atua há dez anos como reverendo, mas sua relação com a religião é bem anterior. Já na adolescência entrou para o seminário católico, em busca de se tornar padre. No caminho, porém, começou a sentir que essa não era sua vocação, pois queria formar família. Foi estudar filosofia, mas nunca perdeu a vontade de ser padre. E foi um antigo mentor do seminário que apresentou a ele a igreja Anglicana, onde o celibato não é obrigatório e ele pode se tornar reverendo sem abrir mão do sonho da família.
Sonho que realizou há seis anos, quando se casou. Mas ele prefere não falar muito da sua vida pessoal – o foco aqui é sua atuação na religião. E se o assunto é sexo, ele acredita que só é pecado o prazer pelo prazer. “O ficar por ficar, curtir a vida adoidado é pecado. No carnaval, por exemplo, passei pelo metrô e havia uma pessoa distribuindo camisinhas. Ótimo do ponto de vista da saúde, mas isso não basta. Para a Igreja, o distribuir camisinhas já é o ponto extremo de uma situação que revela a falta de amor-próprio que as pessoas têm para consigo mesmo, quem dirá para com o outro”, explica.
E usar acessórios eróticos, buscar alternativas para apimentar a relação? Ele acha que vale sim, mas é preciso ter cuidado. “Se o casal sente a necessidade de apimentar a relação, se faz bem para os dois dentro de sua fidelidade e respeito conjugal que podemos fazer? Afinal, somos seres livres. Quem sou eu para julgar? Mas é preciso ter a consciência de que quando isso acontece para dar prazer somente a um dos dois, não é mais um casamento conforme o propósito de Deus”. Para ele também, a palavra de ordem é consenso.
Os donos do sex shop para evangélicos
Arquivo pessoal
Lídia e João Ribeiro vão um pouco além da consultoria para casais. Sim, eles orientam casais e conversam sobre sexualidade, mas também são donos de um sex shop voltado para evangélicos no interior de São Paulo e lançaram recentemente um romance erótico – que tem até um personagem gay.

Lídia é terapeuta sexual formada, mas a ideia da sex shop veio meio por acaso, quando viram uma reportagem sobre como produtos eróticos podiam auxiliar casais. Há seis anos começaram vendendo alguns produtos entre conhecidos e até nos encontros da igreja, até que o volume foi aumentando e, há três anos, abriram a loja física.
Entre vendas, conversas e palestras em igrejas, eles procuram sempre desconstruir tabus e reforçar para os casais a importância da relação sexual e do prazer para o casamento. “Sexo e sexualidade são tabus em toda a sociedade, mas obviamente é mais potencializado no público evangélico”, conta João.  
No dia a dia deles, tabus não faltam e o maior e mais recorrente é o sexo anal. “90% dos homens querem fazer, 90% das mulheres se recusam. E isso é para nós uma zona de areia movediça, porque a maior parte das religiões coloca o sexo anal como pecado”, explica João.
O que eles estimulam é que o casal busque outras formas de se satisfazer. Para isso vendem uma grande variedade de produtos, menos filmes pornográficos ou outros itens para estimular a masturbação, já que ela é considerada pecado. Géis, óleos e vibradores para uso a dois, como anéis penianos, são os produtos que mais saem na loja – e a procura tem sido cada vez maior.
O cenário que eles experimentam, na verdade, não é exceção. Cada vez mais as religiões evangélicas têm se aberto para discutir sexualidade. “Há uns 10 ou 15 anos existe uma postura interessante de algumas denominações evangélicas de maior abertura para falar sobre o tema. Claro que sempre dentro dos limites do casamento, explica o doutor em sociologia pela PUC, Luis Mauro Sá Martinno. 

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