O grande músico e mestre Hans-Joachim Koellreutter dizia que a história é como uma espiral: sempre volta-se para o mesmo lugar alguns degraus acima.
De certo modo a espiral brasileira remete para 1989.
O primeiro ponto em comum é o desencanto, o fim das utopias e a gravidade das crises que se prenunciam.
Lá, havia a interrupção do sonho da redemocratização e dos pacotes econômicos e o fantasma da hiperinflação; aqui, o desencanto com o sonho do desenvolvimento com equidade social e o fantasma da crise da água.
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O segundo ponto é a decepção com as instituições públicas. Aliás, nos dois momentos, o raio-x nítido das razões porque o país sempre se fez tão lentamente: a pobreza das instituições públicas, partidos políticos, três poderes e mídia; a imensa dificuldade em pensar grande, em desenvolver uma visão estratégica.
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O terceiro, a ausência de figuras referenciais. Lá, a desmoralização da oposição com a enorme caça ao butim que se seguiu à posse de Sarney. Aqui, a falta de propostas do governo e da oposição e a pobreza de lideranças.
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Em cima desse quadro, nos próximos anos se enfrentará a crise de água, problemas econômicos, radicalização social, a crise do velho modelo de articulação da informação, com o advento das redes sociais e, principalmente, a falta de perspectivas.
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Dependendo do desenrolar da crise, estarão feridos de morte os dois partidos que dividiram a hegemonia política brasileira nas últimas décadas: PT e PSDB. A paciência do eleitor não suportará por tanto tempo o discurso do “mal menor”.
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De quem é o protagonismo político?
Do lado do governo, da presidente Dilma Rousseff. Nas últimas eleições Dilma foi premiada com a segunda oportunidade – uma tradição no jogo político brasileiro, mas que tornará o eleitor muito mais exigente – e com a extraordinária fragilidade do seu opositor, o PSDB.
Indicou um Ministério político para se defender das tentativas de impeachment que virão, mas terá que desenhar um projeto de país para se defender do alastramento do anti-petismo e do anti-governismo.
Terá os próximos meses para mostrar a cara de seu governo.
O balanço do primeiro governo não sugere uma obra à altura dos desafios atuais de um país convivendo com múltiplas crises. Até poderá emergir uma nova Dilma, com uma estatura política até agora impressentida. Mas seria uma surpresa.
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O PT tornou-se um partido político sebastianista, agarrado à imagem de Lula. Lula de 2018 será como Getulio de 1950: novos tempos, novas circunstâncias com o peso da idade contando.
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Do lado da oposição, vai sobrar quem? Mesmo que mantenha os votos do antipetismo, Aécio Neves não demonstrou fôlego para assumir a empreitada de liderar a oposição. A crise de água irá expor em toda intensidade o nível do provavelmente mais medíocre governador da história moderna de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Entre as lideranças alternativas, Marina Silva tem a consistência de uma libélula perdida.
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Em 1989 surgiu a surpresa Fernando Collor, embalado nas ideias de Margareth Tatcher.
Agora, não apenas o Brasil mas o mundo está perdido na ausência de propostas.
Vem tempos bicudos pela frente.
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