A CPI da Petrobrás, cujo pedido de instalação deve ser lido em plenário amanhã, promete ser daqui em diante o palanque principal da campanha eleitoral, onde oposição e PT se enfrentarão.
O esforço do governo para evitá-la parece ter chegado ao fim, ainda que assinaturas de apoio possam ser retiradas até que o pedido vá a plenário. Mesmo o governo, porém, é cético quanto a isso.
O que se desenha para os próximos dias é uma etapa preliminar em que o PT tentará ampliar seu escopo para expor também a oposição, inserindo na pauta os casos de formação de cartel para a compra dos equipamentos do metrô paulista em gestões tucanas.
Do ângulo estratégico, uma vez consolidada a CPI, é o que resta ao partido fazer. Porém, o caso Alstom, como ficou conhecido o processo do cartel dos trens, já tem investigação em curso, com participação do Ministério Público, o que torna uma CPI com o tema redundante.
O caso da Petrobrás, além de não ter gerado nenhuma iniciativa do governo para desvendá-lo, durante oito anos, ganhou componente político que justifica a investigação parlamentar, desde que a presidente Dilma Rousseff se disse enganada por um parecer técnico falho e omisso da diretoria da empresa.
Já produziu a prisão de um ex-diretor da empresa e a demissão de outro - ambos diretamente envolvidos com a operação de compra da refinaria de Pasadena, no Texas. O preso, Paulo Roberto Costa, frequentava o gabinete presidencial na gestão Lula, como mostram fotos publicadas desde o estouro do escândalo.
A compra tem indícios de um propinoduto, não só pelo valor em jogo, mas pelo superfaturamento que representou em ano de campanha presidencial - a que reelegeu Lula. Foi em 2006 que os valores da operação comercial transitaram por caminhos que a CPI pretende mostrar.
Pasadena não navega só no mar farto das operações da Petrobrás. Há, ainda, a investigação a ser feita sobre as denúncias de suborno de funcionários por uma empresa holandesa e as ramificações do mesmo grupo de Costa na refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco - um empreendimento marcado pelo calote do governo da Venezuela, parceiro que deixou a sociedade com o Brasil já iniciada a operação.
A queda da Petrobrás da 12ª para a 120ª posição no ranking das empresas de maior valor de mercado no mundo, indica que há mais a ser descoberto. Na melhor da hipóteses, tem-se aí gestão temerária; na pior, muita corrupção que, se confirmada, tem o poder de desfazer a imagem tanto da gestora Dilma, quanto da faxineira ética.
O abalo político da ruinosa administração da Petrobrás e muito grande. Está claro que o aparelhamento político está por trás da bilionária desvalorização da maior empresa nacional. A declaração da presidente Dilma debitando a conta na gestão do ex-presidente José Gabrielli, compromete não só o PT, mas a própria gestão do ex-presidente Lula, que também terá que recorrer ao desconhecimento do assunto para novamente esquivar-se da responsabilidade pelo resultado final.
A estratégia comparativa, a que sempre recorre o PT, pode estabelecer a confusão necessária ao partido para que a CPI não produza resultados antes das eleições de outubro, mas não evita mais o desgaste político.
O governo precisa se defender das informações vazadas da Petrobrás por ele próprio.
A comparação com o nível de comprometimento dos adversários em episódios estaduais de corrupção não o livra de suas próprias mazelas.Apenas estabelece uma tentativa de impor desgaste ao outro lado.
Mas aqui há um ex-presidente e uma presidente, ambos do partido, em cujas gestões o escândalo de Pasadena se desenvolve. Há uma acusação direta do Planalto à diretoria da Petrobrás, cuja presidente, Graça Foster, nega ciência de tudo o que se passou, numa versão cada dia mais desgastada.
Há claramente um conflito a separar dois governos - o de Dilma e o de Lula, embora não tenha afetado diretamente os dois. Mas a acusação a Gabrielli está produzindo mal estar político. Até aqui, gerando declarações , de parte a parte, de ironia medida, tal como a indagação feita por petistas sobre onde andava Graça Foster quando tudo acontecia.
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