A Rede Globo, que hoje dá todo espaço para as violência dos Black-Blocs, proibiu a cobertura do Diretas Já. É como se a emissora estivesse dando a entender ao telespectador que o recurso à violência é legítimo
Neste ano, precisamente no dia 15 de junho, completam-se 30 anos do primeiro comício pelas Diretas Já. Foi aqui em Goiânia. Adolescente, 16 anos, recém-chegado do interior e estava lá. Eu e milhares de outros jovens. Sem máscaras. Sem violência, mas com muita esperança de mudar o país.
De Brasília, o ditador de plantão, João Baptista Figueiredo, impunha dura censura ao tema. Os arapongas do SNI (Serviço Nacional de Inteligência) sob comando do general Newton Cruz, filmavam e fotografavam tudo. Naqueles dias, falar de Eleições Diretas Para Presidente era proibido. Figueiredo insistia na tese da abertura lenta e gradual. Ou seja, “democracia” sem povo.
Relembrar os 30 anos do movimento Diretas Já é importante sob vários aspectos, principalmente porque foram atos em que todos foram DE CARA LIMPA, SEM MÁSCARAS. Foi um momento de efervescência da democracia, onde a juventude se empenhou na reconstrução das entidades populares. É deste período a retomada dos sindicatos, da construção da CUT (Central Única dos Trabalhadores). No meio estudantil, a volta dos Grêmios, da UMES (União Municipal dos Estudantes Secundaristas), UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), UNES e outras entidades.
Os jovens da minha geração foram vitoriosos SEM APELAR PARA VIOLÊNCIA. Fomos aos milhões para as ruas de todo país conquistar o direito de votar para presidente. E mais: a eleição de um Congresso Nacional Constituinte que legou ao país uma Constituição moderna, democrática e pluralista.
É forçoso lembrar também, quem estava do lado de quem naqueles dias. A Rede Globo, que hoje dá todo espaço para as violência dos Black-Blocks, proibiu a cobertura do Diretas Já, como confessa o poderoso ex-vice-presidente das Organizações, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.
Em entrevista ao jornalista Roberto Dávila, Boni conta que Roberto Marinho, fundador da emissora, determinou a censura ao primeiro grande comício da campanha pelas Diretas-Já em janeiro de 1984, em São Paulo.
Segundo Boni, àquela altura "o doutor Roberto não queria que se falasse em Diretas-Já" e decidiu que o evento da Praça da Sé fosse transmitido "sem nenhuma participação de nenhum dos discursantes" -"quer dizer, a palavra, o que se dizia, o conteúdo estava censurado".
Nesta semana, Fábio Raposo Barbosa, 22 anos, estudante de contabilidade e tatuador, foi indiciado pela polícia do Rio como coautor pelo crime de tentativa de homicídio ao cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes. Ele se apresentou depois de ter sido identificado num vídeo que registra o momento em que ele passa a um outro rapaz o morteiro que acabou atingindo Santiago — que agora jaz morto, após dias em coma no hospital Souza Aguiar.
Até a confissão e indiciamento do black-block, a reportagem da Rede Globo e de outros veículos da mídia conservadora insistiam na tese de que o cinegrafista havia sido alvejado por bombas da Polícia Militar.
Nas coberturas anteriores, a Globo deu ampla divulgação aos quebras-quebras e ao movimento NÃO VAI TER COPA. Era como se a emissora estivesse dando a entender ao telespectador que o recurso à violência é legítimo e que manifestantes com máscaras fosse coisa normal na democracia. Não. Não é. Quem quer mudança, faz as coisas às claras, sem máscaras ou subterfúgios.
O movimento black-block está contaminado. Seus atos de violência atentam contra a democracia. O que fazem não são manifestações, mas atos de terrorismo. Não há uma pauta clara que vise melhorias para o país. O que se vê é a tentativa de sabotar um governo legitimamente eleito pelo povo. Querem parar o Brasil. Quem ganha com isto? O povo? Claro que não. Pergunte a qualquer trabalhador se ele é à favor da Copa. Que povo ou país em sã consciência rejeitaria receber um evento, que pelos cálculos feitos pela Fundação Getúlio Vargas, em parceria com a Ernest & Young, deve injetar R$ 142 bilhões na economia brasileira?
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Povo nas ruas é uma coisa. Movimentos armados e promovendo a violência, outra. Há 30 anos trás, ninguém portava paus, pedras ou rojões na Praça Cívica, em Goiânia, na Candelária no Rio ou na Praça da Sé em São Paulo. As mobilizações eram feitas com festa, alegria, presença de artistas, cantores e lideranças políticas das mais diversas matizes partidárias. Era um movimento plural, democrático e por isto foi sucesso.
É preciso renegar com todas as forças a violência black-block. Governo e entidades da sociedade civil como a OAB, Fenaj, ABI, dentre outras, devem trata-los como são: terroristas. Toda rede de apoio a estes neofacistas deve ser denunciada, e seus líderes enquadrados nas leis que tratam de terrorismo e perturbação da democracia. O mesmo deve valer para as emissoras, que como concessionárias de serviço público cedido pela União, devem ser responsabilizadas por promover movimentos que atentem contra o Estado de Direito.
Há 30 anos atrás os jovens foram às ruas e derrotaram os generais e a Globo. É hora da democracia derrotar aqueles que querem o retrocesso.
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