O inquérito da Operação Guilhotina, que prendeu 20 PMs e dez policiais civis, levantou suspeitas sobre a morte do segundo sargento do Exército Volber Roberto da Silva Filho, de 28 anos. Supostamente, ele teria reagido à prisão e morrido em confronto com policiais da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), em 30 de junho do ano passado, mas a Polícia Federal encontrou indícios de que o segundo sargento foi morto numa espécie de “acerto de contas” por não ter quitado uma dívida gerada em uma compra de armas desviadas por policiais do Rio de Janeiro.
Apontado como traficante internacional de armas, Volber foi morto num motel em Jacarepaguá. Na época, o caso foi registrado como auto de resistência, ou seja, morte em confronto, mas seria, de acordo com a PF, um homicídio. Depois de comprar fuzis desviados de operações, Volber não teria pago aos sócios de farda. A cobrança chegou à bala. O registro de ocorrência número 902-00110/2010, de 1º de julho de 2010, ao qual o EXTRA teve acesso, foi lavrado por dois policiais: o sargento PM Ivan Jorge Evangelista de Araújo, adido na Dcod, e o inspetor Robson Rodrigues Alves da Costa, da mesma unidade operacional.
Evangelista foi preso na Guilhotina e apontado pela PF como integrante do grupo dos PMs Floriano Jorge Evangelista de Araújo, o Xexa, Wellington Pereira Araújo e Carlos Eduardo Nepomuceno Santos, o Edu ou Nepô, indiciados por terem, segundo a PF, furtado pertecentes de traficantes na ocupação do Complexo do Alemão, em novembro de 2010 — entre os quais, sete pares de tênis.
No dia em que Volber foi morto, os policiais teriam levado todo o dinheiro e armas com maior poder de fogo — fuzis e metralhadoras — que estavam com ele. Na delegacia, foram apresentadas duas pistolas Glock 380, registradas em nome do militar, dois carregadores, dois cartuchos e dois estojos de munição. Os policiais alegaram que “ao chegarem no local, foram alvo de disparos de arma de fogo, sendo o agressor atingido, vindo a falecer no hospital”.
Titular da Delegacia de Repressão ao Tráfico Ilícito de Armas da Polícia Federal, o delegado Allan Dias afirmou que o caso de Volber, por se tratar de um homicídio, será compartilhado com a Corregedoria Geral Unificada. Um processo administrativo vai ser instaurado e os policiais envolvidos podem ser expulsos.
De acordo com um dossiê elaborado pela 2 Companhia de Inteligência do Exército (CiaIntlg), Volber Roberto Filho era fornecedor de armas (matuto) para traficantes da facção que domina a Favela da Rocinha e milicianos da Região Metropolitana. Ele fazia a ponte entre policiais e bandidos, estabelecendo o que o relatório chama de "jogo duplo". À Justiça, ele admitiu que começou a se relacionar com criminosos quando conheceu Paulo César Silva dos Santos, o Linho, morto em 2003. Informes da 2 CiaIntlg também apontam Volber como um dos executores do plano para a instalação dos explosivos no carro do contraventor Rogério de Andrade. No atentado, ocorrido em 8 de abril de 2010, na Barra, morreu o filho do bicheiro.
Lotado no 21º Batalhão Logístico do Exército (BLog), em Deodoro, ainda fazia segurança para a milícia de Realengo e Magalhães Bastos, na Zona Oeste. Volber tinha ligação com o matuto Valdenício Antunes Barbosa, o Val ou João Grandão, que foi preso em 1 de novembro de 2007 e responde a processo, na 40ª Vara Criminal da Capital, por tráfico de armas e formação de quadrilha. O dossiê revela que o segundo sargento "desviava armamento do BLog e chegou a ter 30 fuzis em sua casa, em Padre Miguel, onde fazia manutenção e revenda".
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