Hickey é presidente do comitê irlandês desde 1989 e tem grande trânsito com o presidente do COI, Thomas Bach. O dirigente está hospedado no mesmo hotel de luxo em que Patrick foi preso, na Barra da Tijuca.
Antes de ser levado pela polícia, porém, o veterano cartola passou anos esbanjando seu poder nos altos órgãos organizadores do esporte mundial e se gabando de ter uma reputação ilibada.
Sua confiança era tanta que lhe rendeu frases memoráveis, como uma que soltou durante os Jogos Europeus de Baku, no Azerbaijão, no ano passado. Na ocasião, exaltou a si próprio como um santo.
"Estou ficando preocupado... Estou chegando perto da santidade agora. Faz uns cinco anos que não brigo com ninguém!", sorriu o cartola, que certamente não imaginava o que o destino lhe reservava pouco mais de um ano depois, nos Jogos Olímpicos do Rio 2016.
Em lutador de judô na juventude, Hickey representou a seleção irlandesa durante muitos anos, mas nunca teve resultados de destaque e jamais disputou uma Olimpíada. Sua grande qualidade sempre foi mesmo o jeito político e a boa lábia, que lhe renderiam frutos.
Influente na Federação Irlandesa de Judô, ele foi recomendado por Michael Morris, compatriota que foi o 6º presidente da história do COI, para ser presidente do Conselho Olímpico Irlandês, e assumiu o cargo em 1989.
Ambicioso, ele demorou pouco para se tornar um dos mais poderosos dirigentes mundiais.Tudo por causa de uma reunião do EOC (Comitê Olímpico Europeu) que foi sediada em Dublin, capital da Irlanda, em 1991.
Como a União Soviética havia se desintegrado há pouco, diversos novos países que havia surgido enviaram delegados pela primeira vez para um encontro de tal magnitude. Hickey aproveitou para tirar vantagem e fazer "novos amigos".
"12 dos 14 países novos que apareceram não tinham dinheiro nenhum. Estava acabados, mal tinham o bastante para comer. Então, cuidei desses caras, e desde então eles estão do meu lado de maneira sólida. Eu fiquei muito popular no leste europeu, muito mais do que o oeste", contou, em entrevista ao jornal The Irish Times.
Ao mesmo tempo em que crescia como dirigente esportivo, Hickey ganhava importância também na política irlandesa, passando às vezes por cima de decisões até mesmo do ministério do Esporte do país.
Em 2006, chegou à presidência do EOC, o que lhe deu automaticamente vaga no Comitê Executivo do COI. Desde então, vive a vida que pediu a Deus, participando ativamente de todos os encontros da organizaçã - e aproveitando os hotéis de luxo e banquetes dos melhores chefs que vêm junto no pacote.
Na mesma entrevista que deu ao jornal irlandês, ele já havia dito que pensava em se aposentar dos cargos de dirigente antes dos Jogos do Rio. No entanto, resolveu seguir, e acabou preso na capital fluminense.
Na teoria, ele é o presidente do EOC até o ano que vem.
"Tenho sorte: sou membro do COI até completar 80 anos. Terei 71 quando minha gestão no EOC acabar. Então, se eu estiver com boa saúde, vou só relaxar e aproveitar minha vida como membro do COI. Ou posso até ser presidente do EOC de novo, ainda não sei", gabou-se, como de costume.
Julgando-se intocável, Hickey resolveu vir ao Rio de Janeiro para aproveitar tudo de melhor da cidade, mesmo estando na linha de tiro do senador Romário, que já o havia acusado de ser um dos membros da máfia de ingressos da Rio 2016, que comercializa ingressos olímpicos de maneira ilegal.
Tudo culminou na prisão desta quarta, quando o irlandês foi levado por facilitação de cambismo, marketing de emboscada e formação de quadrilha. Além dele, foram detidos Ken Murray, Michael Glynn e Eamon Collins, todos da empresa Pro 10, credenciada para venda de ingresso na Olimpíada.
Certamente agora a "santificação" ficou mais difícil...