A família de Kelly Cristina Arruda Martins, de 37 anos, grávida de 8 meses, vive desde sexta-feira passada uma situação dramática: a mulher desapareceu ao sair de casa para se encontrar com uma amiga. De acordo com a mãe de Kelly, Sandra Regina Bueno de Arruda, de 57 anos, a filha foi vista pela última vez ao embarcar em um veículo da Uber. Ela chamou o carro com destino ao Metrô Penha, na Zona Leste da capital paulista.
Moradora do bairro de Vila Formosa, Kelly deveria ter embarcado na estação rumo à Vila Madalena, onde uma amiga a esperava. Elas haviam combinado de se encontrar às 19h30 para que participassem de uma pesquisa de mercado sobre uma marca de perfumes. Pelo trabalho, receberiam 150 reais cada uma.
Sandra conta que Kelly passou o dia inteiro em casa pois já estava em licença maternidade e organizava os preparativos do chá de bebê, que aconteceria na tarde do sábado. Por volta das 17h50, ela chamou o Uber e, segundo Sandra, embarcou às 18h05, na porta de casa, em um veículo Ônix prata. “Ela se despediu da filha, que tem 11 anos, e disse que voltaria para casa por volta das 22 horas”, contou a mãe, acrescentando que a filha participava de pesquisas de mercado com frequência. “Ela costumava ir com o carro dela, mas estava quebrado, por isso ela chamou o Uber para leva-la até o Metrô Penha, que é a estação mais perto da nossa casa”, disse Sandra.
De acordo com Sandra, Kelly telefonou para a amiga por volta das 18h35 dizendo que estava chegando no metrô, e que era para ela esperar na estação Vila Madalena às 19h30. Mas ela nunca chegou ao local combinado. A amiga tentou telefonar nos dois celulares dela, mas só um deles atendeu: o que Kelly havia deixado em casa com a mãe. “O outro telefone chamava, chamava e não atendia”, contou a amiga, que preferiu não se identificar. Ela conta que esperou até 20h20 na estação e foi embora sem imaginar o que estava acontecendo.
Como Kelly não apareceu e não voltou para casa, a família passou a ligar para vários amigos. A funcionária pública Andreia Ferreira, de 38 anos, amiga de Kelly há 15 anos, foi para a casa da mãe, onde passaram a madrugada ligando para hospitais, Samu, Bombeiros, Polícia Militar e Instituto Médico Legal (IML), sem sucesso. No sábado, às 7 horas, foram para o 41º Distrito Policial para registrar a ocorrência sobre o desaparecimento.
Amigos e família se dividiram e foram pessoalmente visitar IMLs da cidade, mas nada encontraram. Também não há informações de que Kelly tenha entrado em trabalho de parto e ido para algum hospital. “Ligamos para vários, públicos e privados, e Kelly não está em nenhum”, diz a amiga Andreia. Uma mensagem nas redes sociais sobre o caso, com foto de Kelly, também foi postada. Segundo Andreia, a família está buscando informações com a operadora do celular e com a empresa Uber, sem sucesso. “Fui pessoalmente à sede da Uber, levei o boletim de ocorrência e a foto dela, mas disseram que só poderiam passar informações com uma ordem judicial”, disse.
Imagens de uma câmera de segurança de um vizinho de Kelly mostram a placa de um veículo prata estacionado em frente à casa no horário aproximado. Ao consultar dados da placa no site do Departamento Nacional de Trânsito, consta que o veículo pertence à locadora de carros Localiza. A assessoria de imprensa da empresa confirmou que o carro pertence à frota, disse que eles têm parceria com a Uber, mas informou que não poderia passar detalhes sobre o cliente que locou o carro. Esses dados, só com pedido da polícia ou da Justiça. “Ninguém aqui está dizendo que foi o motorista do Uber que desapareceu com a Kelly. Mas, se soubermos quem é o motorista, ele pode nos dizer onde ela desembarcou, que horas, para que possamos ir atrás de mais imagens”, disse Andreia.
“Estou desesperada. Desde sexta-feira ninguém come e ninguém dorme nesta casa. Já fizemos o B.O., mas a polícia não tem informações. Só quero saber onde está minha filha”, pediu Sandra, que nesta tarde estava indo até o Fórum do Tatuapé tentar ajuda do Ministério Público.
Kelly é servidora pública, foi casada por 15 anos e ficou viúva em janeiro deste ano, depois que o marido reagiu a uma tentativa de assalto. Ela é mãe de uma menina de 11 anos, chamada Iara, e está grávida do segundo filho, Ivan Lorenzo, que deve nascer no dia 12 deste mês. No sábado, haveria uma festa de chá de bebê no salão de festas da tia de Kelly. A decoradora contratada pela gestante chegou a ir até o local arrumar as coisas, assim como alguns convidados, sem saber que ela estava desaparecida. Sandra disse que o RG da filha já está bloqueado e que os cartões de crédito também. Eles não foram usados entre sexta-feira e esta segunda.
Procurada, a Uber disse que investiga o caso, mas preferiu não se pronunciar. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que a Polícia Civil investiga o caso, mas não pode dar detalhes “para não atrapalhar as investigações”. A L’Occitane au Brésil, empresa de cosméticos à que Kelly atribuiu o trabalho que faria, informou que nenhuma pesquisa estava agendada na sexta-feira – e que não costuma pagar pela participação das entrevistadas.