Há quem aposte que se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorresse nas eleições presidenciais novamente, se consagraria nas urnas. A mais recente pesquisa do instituto Datafolha mostra o petista empatado com Marina Silva em todos os cenários apresentados. O ex-presidenciável do PV (Partido Verde) Eduardo Jorge acredita que Lula teria seu fiel eleitorado ao seu lado e que apenas uma derrota nas urnas poderia decretar o fim da vida política do ex-metalúrgico.
“Lula tem seus 15%, 20% garantidos. Eu acho que seria muito bom se ele fosse candidato. Uma eventual derrota seria a verdadeira prova de que o Brasil superou esse falso mito que foi criado nos últimos anos”, disse em entrevista
Às vésperas da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, Jorge comentou sobre um eventual desembarque coletivo da base aliada. Nesta terça-feira (12), o PP anunciou o desembarque do governo e pode ser acompanhado por PR e PSD. O rompimento do partido presidido pelo senador Ciro Nogueira (PP) deve enfraquecer ainda mais o PT nos últimos dias de luta para tentar barrar o afastamento da petista. Para o ex-presidenciável do PV, a saída das outras duas legendas é apenas uma questão de tempo.
“É da natureza do PP ser governo. A saída do PP é sinal de que barco do governo está afundando. Se o partido está saindo é porque o governo não tem salvação”, afirmou Jorge. As bancadas do PV na Câmara dos Deputados e no Senado Federal decidiram votar unanimemente a favor do afastamento da petista.
Veja, abaixo, a entrevista na íntegra:
O senhor tem uma posição bastante firme nas redes sociais sobre o impeachment de Dilma. Com tantas simulações destoantes, o senhor aposta no afastamento da presidente?
Eduardo Jorge: O segundo mandato de Dilma ainda não começou. Ela não consegue governar desde que terminou a campanha. O Brasil vem sofrendo as consequências econômicas, sociais e ambientais de praticamente um terço de mandato jogado fora.
Havia várias possibilidades de solução para essa crise da democracia do Brasil. No ano passado, nós do PV considerávamos quatro caminhos: a renúncia, o julgamento de irregularidades via TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o impeachment ou a continuidade desse governo totalmente desvalorizado e enfraquecido.
A questão do impeachment é legal, constitucional. Esse coro de golpe é similar ao liderado por [Fernando] Collor [de Mello] em 1992.
O PV chegou a apresentar uma alternativa a essas opções no ano passado. Por que essa ideia não foi adiante?
Jorge: Em agosto de 2015, apresentamos uma 5ª via: Dilma se desfiliaria do PT, já que supostamente nada lhe atingia pessoalmente, montaria um governo de emergência como o de Itamar [Franco] para fazer um diálogo com a oposição e conseguir encaminhar algumas medidas econômicas necessárias e não interferiria nas investigações da Polícia Federal, nem no andamento das eleições de 2016 e 2018. Essa seria uma solução conciliatória que faria as coisas melhorarem imediatamente.
Ela nem sequer nos deu resposta. Hoje, em 2016, com a denúncia apresentada pelo jurista Hélio Bicudo, um dos ícones da redemocratização do Brasil, o PV decidiu votar a favor da admissibilidade e da saída dela pelo impeachment. Os nossos sete votos na Câmara serão pelo afastamento dela.
Como o senhor enxerga aqueles que estão indecisos até agora? Já não houve tempo suficiente para pensarem sobre o assunto?
Jorge: Isso é natural. Eles têm direito de ponderar. Muitos indicam indecisão, mas já definiram seu voto, só não querem revelar. A tendência é que a oposição atinja os votos necessários para que o processo seja encaminhado para o Senado.
É possível que esses que ainda não anunciaram sua decisão estejam apenas aguardando uma oferta do governo?
Jorge: O governo está leiloando cargos públicos visando sobreviver politicamente. A única finalidade do leilão de cargos é permanecer no poder. Não tem nenhuma finalidade técnica, nenhuma finalidade de defender políticas públicas. Isso é apenas mais uma coisa que o governo atual imita os piores governos que o Brasil já teve.
O PP está desembarcando do governo. PSD e PR podem ir pelo mesmo caminho. Como o senhor encara esse possível desembarque coletivo?
Jorge: É da natureza do PP ser governo. A saída do PP é sinal de que o barco do governo está afundando. Se o partido está saindo é porque o governo não tem salvação. Esse abandono do PP é um péssimo sinal para o governo sobre os próximos dias. A maioria dos parlamentares do PSD e do PR já declarou voto a favor do impeachment. Essa saída é inócua.
Como o senhor avalia um eventual afastamento do vice-presidente Michel Temer?
Jorge: Se for apresentado um processo que tenha argumentos convincentes, deve ser aprovado também. Ele também está sujeito a investigações constitucionais. Isso já é para depois do processo de Dilma. Vamos dar um passo de cada vez.
Diante do atual cenário, o que seria melhor: impeachment ou uma cassação via TSE?
Jorge: Não tem melhor, nem pior. O que importa é que o que está nas mãos agora é o impeachment. O julgamento via TSE é bem mais demorado, pode não acabar esse ano. Se a chapa de Dilma e Temer for cassada, esperamos que novas eleições sejam convocadas o mais rápido possível.
Se isso acontecer, o senhor virá como candidato novamente?
Jorge: Isso aí é o PV que vai decidir na hora certa. Não sou candidato profissional.
A mais recente pesquisa Datafolha mostra Marina Silva e Lula empatados na liderança da disputa presidencial. O que impede que Marina deslanche e o que ainda sustenta favoritismo do ex-presidente?
Jorge: Ninguém pode prever nada. Começa o jogo do zero. As pesquisas são muito voláteis. Marina tem que mudar muito e se tornar consistente para poder sonhar com a vitória.
E o Lula? Ainda tem fôlego?
Jorge: Lula tem seus 15%, 20% garantidos. Eu acho que seria muito bom se ele fosse candidato porque o mito só pode ser vencido numa eleição. Uma eventual derrota seria a verdadeira prova de que o Brasil superou esse falso mito que foi criado nos últimos anos. Se não perder nas urnas, Lula será um fantasma para sempre. Torço muito que ele participe da próxima eleição para que o brasileiro decida se quer ou não quer ele no governo.