Daniel Cabrera, de 9 anos, chega em casa e, com orgulho, conta que acabou de fazer uma prova na escola. "Tirei nota máxima", diz ele.
O resultado é fruto de muito esforço: há três meses, ele foi fotografado fazendo seu dever de casa na calçada de um estacionamento, aproveitando a luz de uma lanchonete da rede McDonald's. A imagem viralizou no Facebook e foi vista por milhões de pessoas. Mas como está o menino atualmente?
Logo após a foto ficar famosa, Daniel começou a receber diversas doações: ganhou mesa, uniforme e sapatos para ir à escola.
Não só a vida dele, mas a de toda a família mudou. Hoje, eles moram em uma casa alugada e a mãe dele, Maria Christina Espinosa, recebeu ajuda para montar uma barraca de comida.
Daniel também não precisa mais estudar na rua. A família consegue bancar até uma lan house quando ele precisa fazer pesquisas para a escola.
'Quero ser policial'
Antes do episódio, o menino e sua família "moravam" no minimercado em que a mãe dele trabalhava, depois que a casa deles, em uma favela nas Filipinas, tinha sido destruída por um incêndio.
Como o local não tinha luz, o menino usava uma mesa improvisada construída por seu irmão para estudar perto da lanchonete.
Maria Espinosa ganhava cerca de 80 pesos filipinos (R$ 5,60) por dia trabalhando como atendente na loja e era empregada doméstica na casa dos donos do estabelecimento. Ela também vendia cigarros e doces nas ruas para complementar a renda.
A situação da família piorou quando o pai de Daniel morreu.
"Eu disse que ele poderia estudar até a 6ª série se eu tivesse dinheiro e ele perguntou por que tinha que parar de ir à escola tão cedo", contou a mãe.
"Às vezes, eu falava para ele ficar em casa porque não tinha dinheiro para o almoço na escola, mas ele falava que não queria, que a professora havia dito para ele ir", diz.
E por que era tão importante ir à escola? "Quero ser policial", diz ele.
Segundo sua mãe, o sonho veio do pai, que dizia para Daniel ser um bom menino e se tornar policial.
A história de Daniel começou a mudar no final de junho, quando foi fotografado pela estudante Joyce Torrefranca, de 20 anos, fazendo seu dever de casa. Ela afirmou ter sido "inspirada" pela criança.
O post original foi compartilhado por mais de sete mil perfis do Facebook, que exaltavam, em diversas línguas, a importância dos esforços do garoto.
Para a mãe do menino, as primeira doações foram uma surpresa.
"Fiquei nervosa, pensei 'isso é real?'. Mas estou feliz, agradecida a Deus, porque antes os vizinhos diziam que Daniel nunca ia terminar a escola, porque eu não tinha emprego fixo e o pai dele morreu", conta ela.
Pesquisa no YouTube
Além das doações que chegaram para Daniel, um padre da região está pagando o aluguel da família, de 2.200 pesos filipinos, ou US$ 45, que agora mora em uma outra favela.
A família de Daniel, a mãe, os irmãos e sobrinhos, vive agora em uma pequena casa com dois quartos simples. Ainda que apertados, todos conseguem se deitar para dormir à noite.
Com a ajuda de uma emissora de rádio local, Christina montou uma barraquinha de comida na própria favela, onde há bastante movimento de pedestres. Com isso, já consegue suprir as necessidades básicas do menino.
E ele não precisa mais da luz do McDonald's para fazer sua tarefas. No dia em que conversou com a reportagem, Daniel precisava fazer uma pesquisa no YouTube sobre terra e água para a aula de geografia. Conseguiu dinheiro com a mãe para fazer o trabalho em uma lan house próxima.
"Espero que Daniel continue na escola. Espero viver muito para ver ele alcançar seus sonhos e sua vida melhorar", disse a mãe