Enquanto José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) se digladiavam no início da corrida pela prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, candidato azarão do Partido Republicano Brasileiro (PRB), prosseguia na escalada ascendente nas pesquisas de intenção de voto. Depois de atravessar meses oscilando no patamar de 20%, Russomanno chegou ao último Datafolha, no sábado (21), com 26% – como a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, está empatado tecnicamente com o tucano José Serra, que lidera a disputa com 30%.
A resistência dos índices de intenção de voto surpreendeu quem apostava na queda imediata de sua popularidade com a saída da grade de programação da Record, onde apresentava o quadro “Patrulha do Consumidor” do programa Balanço Geral SP. Além disso, gerou rumores de que firmou um pacto de não-agressão com José Serra para impedir que a candidatura do petista Fernando Haddad ganhe corpo.
"Se me convidaram para os programas, e não foram só os da Record, é porque eu dou audiência. Quem não dá audiência não é convidado", afirmou em entrevista ao site de VEJA, na quarta-feira, dia 18.
Ex-companheiro de partido de Paulo Maluf nas fileiras do PP, Russomanno hoje diz querer distância do ex-prefeito, agora aliado do PT, a quem se refere como "aquele senhor". Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
O senhor foi deputado federal por 16 anos, mas nunca exerceu um cargo executivo. Por que será um bom prefeito? Antes de ser deputado, trabalhei muitos anos no Executivo. No departamento de trânsito, no Juizado de Menores, entre outros lugares. Também tenho uma experiência grande empresarial. No Legislativo, atuei tanto operacionalmente quanto na fiscalização, o que me deu ainda mais experiência. Com toda essa bagagem, estou preparado para ser prefeito. Mas mais do que isso, eu quero ser prefeito. Construí toda uma legislação junto com meus colegas parlamentares em defesa dos direitos do cidadão. Trabalhei nesses projetos, mas não vejo eles sendo aplicados na prática. Os serviços públicos não têm qualidade. O que adiantou a gente colocar no código de defesa do consumidor que fornecedor é toda a pessoa física e jurídica, pública ou privada? O governo, assim como as empresas privadas, é obrigado a fornecer serviço de qualidade.
O senhor acha que como prefeito conseguirá isso? Podemos e vamos fazer. Criaremos uma Secretaria de Defesa dos Direitos do Consumidor. Em São Paulo, não temos um órgão de defesa do consumidor municipal. O Procon é bom para cobrar a iniciativa privada, mas não as empresas estatais. Existe legislação. É só colocá-la em prática.
O que fez de mais importante na Câmara dos Deputados? Os projetos de lei relativos à cidadania, especialmente o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Temos mais de 26 milhões de pessoas com deficiência neste país. Tínhamos várias leis, municipais e estaduais, mas elas não conversavam entre si e não havia penação. Por exemplo: uma lei dizia que a pessoa com deficiência tinha prioridade no sistema de saúde. Se isso não fosse cumprido, o que acontecia? Nada. Essa é uma das cláusulas do texto que eu ajudei a aprovar. O estatuto prevê penações, inclusive para o administrador público.
O que mudou no Congresso Nacional? Por que a população está tão decepcionada com a política? O Congresso é o espelho da sociedade brasileira. Tem bons e maus cidadãos. Acredito que com a renovação politica, com jovens na política, estamos construindo um Congresso melhor, mais limpo, mais transparente.
O senhor acha que melhorou? Melhorou e melhora sempre que os escândalos são colocados de forma transparente pela imprensa. Antigamente eles aconteciam, mas por debaixo do pano e ninguém tomava providência.
O senhor destacaria algum nome? Poderia citar muitas pessoas, mas não quero ser injusto. Nós temos sem dúvida uma parcela de 25% do Congresso Nacional que é muito correta, mas prefiro não citar nomes.
Qual o perfil do seu eleitor? É o pessoal de menor poder aquisitivo, pessoas mais simples. Tem também um perfil feminino, de senhoras, pessoas mais velhas que me acompanham ao longo desses 22 anos de jornalismo. É um eleitoral pulverizado, mas que se concentra na periferia da cidade.
Qual a diferença da eleição de 2010 para a deste ano? A eleição de 2010 foi uma experiência numa campanha majoritária de grandes proporções. Serviu para que eu fosse visto de uma maneira macro. Quem me via falava: o Celso Russomanno é um ótimo defensor dos direitos do consumidor. Eu precisava mostrar um pouco mais sobre o que penso. Hoje estou mais maduro.
A campanha do senhor criou o slogan "Uma nova história para São Paulo". Qual é essa nova história? Os serviços públicos funcionando. Vamos ter duas coisas no gabinete: uma ouvidoria que vai estar do meu lado o tempo todo, porque eu quero acompanhar a qualquer momento quem está reclamando e do quê, e o órgão de defesa do consumidor, que vai apurar as reclamações e vai agir. As subprefeituras também terão de fato gestão e orçamento. O subprefeito terá, obrigatoriamente, que morar no bairro há pelo menos 10 anos e ser um bom técnico. Ele será indicado por associações de moradores e centrais de lojistas numa lista tríplice. Nada contra os oficiais da Polícia Militar que ocupam as 31 subprefeituras, mas eles estão capacitados? Todo o político sabe falar muito bem, mas é preciso ouvir.
Se o senhor tivesse que escolher um único projeto para realizar, qual seria? Quero fazer com que os serviços públicos funcionem e que as pessoas sejam respeitadas, não tratadas como se fossem pedintes. O nome já diz: servidor público, a serviço do público.
O prefeito Gilberto Kassab deu nota 10 para a própria gestão. Que nota o senhor daria? Acho triste, até antiético a gente se dar nota. Não vou dar nota para o Kassab, mas vou dizer que ele não deveria ter feito isso.
Em 2010, na disputa pelo governo estadual, políticos do PSDB acusaram o senhor de celebrar uma aliança oficiosa com Aloizio Mercadante (PT) para impedir que Geraldo Alckmin ganhasse no primeiro turno. Acho o segundo turno importante. Ele possibilita aos candidatos discutir melhor os problemas da cidade e eu achava que isso era importante para o estado de São Paulo. Não existia uma aproximação maior para um lado. Eu me dou bem com todo mundo.
Também na última eleição, o senhor falou em transferir a capital do estado para outra cidade. A ideia continua de pé? Essa ideia não é minha. Vem, se não me engano, do Adhemar de Barros. O Brasil só cresceu, só se desenvolveu, só conheceu os seus problemas e as suas mazelas a partir da mudança da capital para Brasília. Foi uma ideia cara para o país, mas deu mais equidade no tratamento dos estados. Os municípios mais afastados de São Paulo são os mais apenados. Mas essa mudança dependeria de estudos.
O PRB sofre grande influência da Igreja Universal. Não teme ser visto como o candidato dos evangélicos? No nosso partido, 80% dos filiados são de várias denominações religiosas, e 20% são evangélicos. De 780 vereadores no Brasil, apenas 70 são evangélicos e, desses, 55 são da Igreja Universal. Então, essa colocação não existe. Sou católico praticante. O PRB é um partido político com cristãos das mais variadas denominações que têm o objetivo de construir um país melhor.
O senhor conseguiu ampla visibilidade com seus programas de televisão. Fora do ar, teme perder eleitores? É só andar do meu lado para ver o carinho que recebo nas ruas. Isso não se constrói da noite para o dia. Não é um programa de televisão que vai ao ar às 7h da manhã que vai mudar esse processo. Isso é fruto de uma imagem construída ao longo de 22 anos.
O senhor foi acusado de usar a Record para se promover como candidato, já que participou dos programas de maior audiência da emissora. Se me convidaram para os programas, e não foram só os da Record, é porque eu dou audiência. Quem não dá audiência não é convidado. Em nenhum programa eu falei sobre politica. Falei sobre defesa do consumidor, participei de gincana. Sou conhecido por 92% dos eleitores. Minha imagem está construída. O resto é intriga da oposição.
O senhor aceitaria o apoio de Paulo Maluf num segundo turno? Não existe essa hipótese. Tenho uma dificuldade muito grande para conversar com ele. Tive todos os problemas do mundo com este senhor. E tentei. Só Deus sabe como eu tentei. Agora ele não é mais problema meu.
Por que o senhor demorou tanto tempo para de deixar o PP? Primo muito pela fidelidade partidária. Sempre me elegi com quociente eleitoral próprio, mas mesmo assim tinha um mandato para o qual fui eleito quando estava no partido. Respeitei isso até o fim. Só saí quando estava livre da fidelidade partidária. Só por isso aguentei tanto tempo. E tenha certeza, eu aguentei.
Como o senhor viu a saída de Luiza Erundina da chapa de Fernando Haddad após o ingresso de Maluf na coligação? Ela é coerente com o que prega, com o que fala. Foi adversária politica do Paulo Maluf durante muitos anos. Eu bato palmas para ela.
Parte considerável de seus eleitores vive em antigos redutos malufistas. Isso não o transforma num herdeiro do malufismo? É muito difícil dizer que determinado eleitor veio de A, B ou C. Tenho consciência que os eleitores que acreditam no meu trabalho são pessoas de menor poder aquisitivo. Na sua maioria, são pessoas que estão cansadas de não verem os serviços públicos presentes na vida delas.
O senhor recebe algum tipo de recurso público para os seus programas? Nunca. Jamais tive um programa meu patrocinado por um órgão público. Seria até mais fácil, mas não seria ético.
O senhor considera elogiável a atitude de José Sarney na Presidência da República, que pediu para o povo ajudar a gestão pública indo aos supermercados fiscalizar os preços dos produtos. Pretende fazer algo parecido? Não tenha dúvida. Começando pelos buracos nas ruas. O cidadão vai fiscalizar na porta da casa dele. E quem não arrumar será multado. Se continuar, oficio a delegacia de polícia para instaurar um inquérito policial de dano ao patrimônio. Mas sabe contra quem? Não é contra o pedreiro, o funcionário, mas contra o presidente da empresa. Garanto que depois de cinco ou seis multas não haverá mais um buraco em São Paulo. Mas tem que funcionar, porque se a pessoa denunciar e não ver resultado, acaba o crédito. Foi isso que o Sarney teve num primeiro momento: crédito da população. As pessoas vão monitorar os serviços públicos. Esse é o exercício da cidadania que eu quero trazer para São Paulo.