Nos últimos seis anos, a cena se tornou recorrente. A imprensa informa os deslizes de Adriano e os clubes passam a mão na cabeça do jogador. Técnicos e dirigentes que já trabalharam com ele o descrevem como um bom sujeito e admitem que, por isso, é difícil tratá-lo com rigor. Mas o atacante não encontra amparo na frieza do mercado. De 2006 para cá, o Imperador sofreu uma desvalorização de 97%.
Segundo estudo divulgado em março pela Pluri Consultoria, o atacante, que chegou a valer 31 milhões de euros há seis anos, passou a valer 1,5 milhão de euros quando foi demitido pelo Corinthians, em março. Mas de lá para cá, a espiral não parou. Adriano está há seis meses parado, com novos problemas físicos — operou o tornozelo esquerdo em abril — e acima do peso. O preço do artilheiro caiu ainda mais no mercado.
— Com toda a certeza, hoje ele vale menos de um milhão de euros — garantiu Fernando Ferreira, diretor da Pluri. — O Adriano já atingiu a casa dos 30 anos e ficou quase seis meses sem clube, fora de forma, e protagonista de notícias negativas.
As histórias às quais Fernando se refere são muitas. Em sua segunda passagem pelo Flamengo, Adriano foi acusado de ter amarrado sua então noiva Joana Machado em uma árvore em 2010. Também no Rubro-negro, teve que dar explicações à polícia sobre a moto que deu de presente à mãe de um traficante. Somam-se a essas tantas outras, como o tiro disparado dentro de seu carro que atingiu a mão de uma mulher e as inúmeras ausências em treinos.
— Falta a ele entender que precisa de apoio médico — afirmou Marco Aurélio Cunha, ex-superintendente de futebol do São Paulo, que trabalhou com Adriano em 2008, referindo-se à depressão do atacante, que o leva a beber. — Ele só vai perceber isso na hora que não tiver mais volta. Daqui a cinco ou seis anos, quando o dinheiro dele acabar.
Os números de Adriano desde que deixou o Flamengo, em maio de 2010, ajudam a entender a profundidade da queda. Desde então, o Imperador só participou de 16 partidas oficiais e fez dois gols. Levando em consideração os minutos jogados, a contagem se torna mais impressionante. Somadas as passagens por Roma e Corinthians, o atacante só atuou em 700 minutos, o que equivale a sete jogos e mais 70 minutos de um oitavo. Isso em dois anos e três meses.
— O jogador é o que se apresenta hoje e não o que foi no passado. É preciso fazer o Adriano recuperar o tesão de jogar futebol — alertou Reinaldo Pitta, empresário de Emerson Sheik.
De acordo com o estudo, Adriano já não é mais capaz de dar retorno de marketing. Como atrativos, restam a ele a capacidade de decisão e a força física. O Flamengo, devido à identificação entre jogador e torcida, é sua última chance em um clube de primeira linha.
— Se não der certo, eu não vejo mais espaço para ele em um grande clube do futebol brasileiro. Apenas naqueles de segunda linha que quiserem aparecer na mídia — alerta Fernando Ferreira.
Todos os olhares estão voltados para o comportamento do Imperador, que, por contrato, não pode cometer mais indisciplinas no Flamengo sob risco de demissão. Para quem trabalha no mercado do futebol, não há dúvida de que só o próprio Adriano pode se salvar.
— Ele é uma boa oportunidade no preço de hoje. Cabe a ele mesmo voltar ao seu valor original — afirmou Eduardo Uram, empresário de Leo Moura. — O Adriano ainda é um risco que vale a pena porque o potencial dele é muito grande.
Histórico de confusões
2006/2007
Ficou quase nove meses sem marcar pela Internazionale. Começam a surgir fotos com mulheres e bebidas. Foi barrado na Inter após se apresentar de ressaca.
2008
No São Paulo, abandonou treino e, na saída, ameaçou um fotógrafo.
2009
Não voltou para Milão e anunciou que interromperia a carreira. No Flamengo, faltou a treinos e ficou fora de jogo decisivo após queimar o pé em uma moto.
2010
Faltou a 13 treinos no Flamengo e foi liberado de tantos outros. Envolveu-se em barraco com Joana Machado. Explicou-se à polícia por dar moto para mãe de traficante
2011
Parado pela Lei Seca, não fez teste do bafômetro. Jovem baleada dentro de seu carro.
2012
Deixou o Corinthians após faltar a 67 sessões de fisioterapia.