Se existissem celulares com câmeras e tantos paparazzi durante as três primeiras edições do Rock in Rio, certamente todos os segredos de bastidores do evento teriam se tornado público. Muitos, ainda não revelados, estão muito bem guardados na memória de Amin Khader. Coordenador do backstage nas primeiras edições do evento, atuando como uma espécie de “babá de artistas”, Amin contou para a coluna os maiores "bafões" da história do Rock in Rio, “muitos, até impublicáveis”, diz. Enquanto a 4ª edição do evento começa a esquentar na Cidade do Rock, selecionamos algumas dessas histórias, que incluem, entre as exigências mais inusitadas, 20 acompanhantes para satisfazer as necessidades íntimas de um determinado artista, à festinhas particulares no camarim, com direito a muita mulher e calcinhas espalhadas pelo chão.
“Quero 20 homens grandes e musculosos. Dez negros e dez brancos!”. Essa foi a ordem mais inusitada que Amin recebeu de um astro. Pronto para satisfazer todas as vontades dos seus pupilos, ele cumpria a rigor todas as exigências que recebia. Até as que surgiam em cima da hora, como a contada acima.
Com um molho de chaves pendurado na cintura, Amin era o único que tinha acesso livre aos camarins dos artistas. O produtor encarava a missão sempre com muito profissionalismo e seriedade. “Não foi à toa que trabalhei nas três edições. As pessoas pensam que eu surgi do nada”, reforça ele, que foi chamado para o evento por causa do seu trabalho ao lado da cantora Gal Gosta e de sua aproximação com os artistas. Mas tantas responsabilidades também lhe rendiam gratas surpresas. Como a de encontrar o Axl, vocalista do Guns N'Roses, só de sunga, saindo do banheiro. O encontro fez parte de um acontecimento memorável na história dos bastidores do evento, conta Amin:
“Fui ao camarim após o show da banda avisar ao Axl que os 20 pratos de macarronada que ele havia exigido estavam prontos. Quando entrei, ele estava com uma sunguinha branca apertada e o corpo todo molhado. Fiquei louco!”, conta, aos risos. Como todos os componentes da banda haviam ido embora, Axl, chamou toda a equipe de Amin - 15 pessoas, incluindo seguranças, garçons e o pessoal da limpeza -, para jantar com ele. “Quando Roberto Medina (o criador do Rock in Rio), viu a cena, quase caiu para trás”, lembra.
Se tinha um artista que arrancava suspiros da mulherada era o guitarrista do Scorpions, Rudolph Schenker. “Todas queriam dar pra ele”, revela Amin, que chegou a encontrar no camarim do guitarrista, calcinhas das mulheres que ele recebia para uma festinha particular. “Eram mais de 30 visitantes ao mesmo tempo”, conta.
O promoter quase perdeu os cabelos ao ler as exigências enviadas pela produção de Freddie Mercury, do Queen: uma garrafa de saquê aquecido a 20°. Mas o pior ainda estava por vir. Assim que chegou à Cidade do rock, o megastar exigiu que os corredores do camarim estivessem vazios para que ele pudesse passar. “Quem são essas pessoas que estão aí?”, perguntou Freddie. “São artistas do mesmo gabarito que o seu”, respondeu Amin, se referindo a Ney Matogrosso, Elba Ramalho e Erasmos Carlos. “Não são, porque eles me conhecem, e eu não os conheço. Você tem cinco minutos para tirar todos de lá, senão, meus seguranças farão isso!” ordenou o astro.
Inconformados, os artistas nacionais que, a pedido de Amin, deixaram os corredores livres, gritavam “Bicha!, bicha!”, durante a passagem de Freddie. “O que eles estão falando?”, indagou o artista. “Estão te elogiando”, respondeu o amistoso Amin. “Como? Se eles estão com cara de ódio!”, disse Freddie, que quebrou todo o camarim, sobrando, é claro, para Amin: “Ele me chamou no camarim e perguntou se no Brasil havia furacão. Quando olhei, estava tudo destruído”, conta.
E o ataque de estrelismo estava só começando. Prince, no segundo Rock in Rio, também deu trabalho ao produtor, exigindo que a luz do seu camarim fosse da cor púrpura. “Improvisei com velas vermelhas e roxas”, contou Amim. Outra ordem dada pelo artista era que ninguém olhasse para o seu rosto. “Fiquei chocado”.
Improvisar era algo que Amin tirava de letra. Para atender o pedido de 20 tolhas de Prince, em pleno fim de semana, ele percorreu a todos os motéis da cidade comprando cada uma por R$ 30. Mas ele não teve tanta sorte com as 12 bolas de futebol exigidas por Rod Stewart. “Duas das bolas estavam murchas e não tínhamos como comprar em pleno domingo. Me irritei e disse no bom português: Pega a bola do saco dele!”. Furioso, o empresário do astro retrucou: Eu entender português”. Fiquei na maior saia justa”.
Dos 20 pratos de comida kosher, preparados de acordo com os princípios judaicos, exigidos por George Michael, apenas a metade de um foi consumido pelo cantor. Sobrar comidas e bebidas era um hábito entre os internacionais. “Os artistas brasileiros são os que têm a mania de levar tudo para casa”, explica Amin. “O que eles mais me pediam era uma quantidade absurda de convites para o evento. Agora dar para entender porque mudaram tanto após o Rock in Rio e passaram a fazer tantas exigências, né?”.