Cerca de mil ciclistas por dia percorrem 500 quilômetros nos bairros centrais
Na última segunda-feira, aconteceu no Centro de São Sebastião uma segunda palestra sobre ciclovias, bicicletas e sustentabilidade. Na ocasião, o empresário Eduardo Melchert apresentou, aos cerca de cem presentes, uma recente experiência sobre duas rodas que teve na Europa e apresentou uma proposta de implantação de ciclovia na cidade.
Segundo Melchert, trata-se de um movimento pacífico da sociedade civil organizada, que tem como objetivo maior melhorar a segurança dos ciclistas, além de gerar maior integração social e estimular as pessoas a fazerem exercícios físicos. “Bicicleta é algo barato, que não ocupa espaço, não polui, e é o jeito mais fácil e direto de se chegar aos lugares aonde se quer ir”, incentiva.
Melchert garante que, com uma estrutura segura, a possibilidade de haver um número crescente de adeptos da bicicleta na cidade é muito grande.
Surge a ideia
Ele conta que primeiro foi à Dinamarca, em 2007. Entusiasmado, de volta à cidade, começou a ir de casa para o trabalho todos os dias de bicicleta. “Estou passando por uma transformação super legal. Hoje me relaciono com um monte de gente com quem não me relacionava. Minha vida ficou muito mais interessante. No carro eu estava isolado”, garante.
Riscos
Apesar de estar mais feliz, Melchert também comenta que hoje corre mais riscos de acidentes. Há alguns dias ele está andando com uma câmera filmadora acoplada à sua bicicleta com o objetivo de registrar diversas situações perigosas que ele vive no dia-a-dia, como no trajeto diário da Reserv Du Moulin até o Centro. O filme servirá como documento sobre as necessidades da ciclovia, juntamente com o levantamento de acidentes de bicicleta, que será providenciado junto ao departamento de trânsito do município. “Eu mesmo quando assisto o vídeo me assusto”, comenta.
Ciclovia Viva
“É incontestável que São Sebastião tem uma ciclovia viva. É fato”, diz Melchert. Segundo ele, são cerca de 700 pessoas se deslocando todos dias da Topolândia ao Centro e outras 300 do Bairro de São Francisco ao Centro, ou seja, cerca de mil ciclistas por dia percorrendo 500 quilômetros.
Qual o plano?
Segundo Melchert, para implantar a ciclovia, não basta vontade pública. É preciso primeiro colocar um plano de mobilização detalhado dentro do Plano Diretor, prevendo que o município, um dia, faça uma ciclovia.
Ele conta que já conseguiu parceiros para ajudar a fazer tal plano, para, em seguida, propôr à prefeitura, iniciativa privada e governos estadual e federal a elaboração de um bom projeto executivo, que cumpra todas as etapas de pesquisa. “É preciso fazer um levantamento volumétrico, saber a distância que as pessoas percorrem, faixa etária, riscos, enfim, para que tenhamos a solução correta para cada tipo de situação”, diz Melchert. O passo seguinte, segundo ele, é trabalhar para levantar verba para a execução da obra. “De posse de um bom plano, com técnicos capacitados, as empresas grandes vão ver como algo sério e consistente, e será tranquilo conseguir o dinheiro”, comenta o empresário.
Tentativas
Segundo Melchert, no final de 2009, um pré-projeto de implantação da ciclovia foi apresentado, através do antigo Movimento de Preservação de São Sebastião (Mopress) – onde atuou muitos anos – ao Centro de Experimentação em Desenvolvimento Sustentável (Ceds). “A tentativa era conseguir uma bolsa de R$ 50 mil que custava cerca de 50% do projeto executivo. Mas o projeto não foi aprovado”, lamenta.
O empresário lembra que, na época, contavam com o apoio de Antonio Miranda, um profundo conhecedor do assunto Ciclovia. “Ele passou quatro dias na cidade, fotografamos todo o trajeto da Enseada até o Balneário dos Trabalhadores”, conta. “Ele achou que o trecho do Bairro São Francisco até a Topolândia era fácil de resolver, pois a via é toda plana, e que o custo é viável também”.
Miranda chegou a fazer uma apresentação para a população no Teatro no início de 2010. “Passamos alguns meses tentando audiência com o prefeito, mas não conseguimos falar com ele”. Então, Melchert passou um tempo desestimulado, achando que a cidade não queria isso. Até fazer uma nova viagem, desta vez para a Holanda, um paraíso para ciclistas, onde ficou dez dias com sua mulher pedalando. “Lá existe uma hierarquia de respeito entre ciclistas e motoristas. A bicicleta é prioridade no trânsito”.
Voltou animado novamente, há pouco mais de um mês. “Comecei a pedalar cada vez mais. Foi quando surgiu a ideia de efetivamente implantar a ciclovia aqui”, conta.
Trânsito
Ainda de acordo com Melchert, seria interessante colocar para ciclos em locais estratégicos da cidade, onde as pessoas pudessem deixar suas bicicletas e pegar um ônibus, por exemplo. “Isso seria uma tentativa de desfazer esse nó que é crescente no trânsito local hoje. Temos visto congestionamentos em épocas incomuns. Imagine como será a próxima temporada!”, alerta.
Cidade para pessoas
Segundo Melchert, na Europa existe uma preocupação muito grande em se planejar cidades orientadas para pessoas, de forma a priorizar espaços públicos, pra que as pessoas sejam motivadas a usar esses espaços e se integrarem. “É mais ou menos como a Rua da Praia aqui em São Sebastião. Mas se lá fosse o final de uma ciclovia, por exemplo, isso motivaria as pessoas a se encontrarem ali”, diz.
Turismo
Melchert acredita que, com uma ciclovia, mais turistas olhariam a cidade como uma estrutura interessante de se visitar. “Sorocaba acabou de implantar uma das melhores ciclovias do país e agora eu tenho vontade de ir conhecê-la. Acabei de vir de Santos também, que está com uma estrutura ótima para ciclistas. Lá, a cidade se orgulha de ter uma ciclovia”, conta.
Próximas ações
Uma nova palestra deve acontecer no Portal da Olaria dentro de no máximo 15 dias. Melchert conta que existe uma preocupação em fazer com que todos os pré-candidatos a prefeito tomem conhecimento da proposta para que a coloquem em seus planos de governo. “Estamos abertos a todos que queiram ter conhecimento sobre nossas ideias. O movimento é apartidário”, informa.
Na segunda semana de agosto, a ideia deverá ser apresentada na Câmara Municipal a todos os vereadores e a comunidade. “Estamos organizando também uma Vassourada, que vai consistir numa mobilização de ciclistas para varrer alguns lugares do perímetro entre Centro e Bairro de São Francisco, porque alguns lugares estão com muita areia e cacos de lanterna quebrada, o que pode contribuir para furar o pneu da bicicleta e causar acidentes”, declara. “A ideia é mostrar que já estamos cuidando desse espaço que é uma ciclovia viva, embora o Poder Público ainda não tenha oficializado isso”, diz.
Melchert informa que o Ditraf ainda não participou de nenhuma reunião, mas também está convidado para as próximas.