Preso sexta-feira durante a Operação Guilhotina, o ex- subchefe de Polícia Civil e subsecretário de operações da Secretaria de Ordem Pública (Seop), delegado Carlos Oliveira, já havia montado a espinha dorsal de um grupo de milicianos da favela Roquete Pinto, em Ramos, para atuar na Prefeitura do Rio. Segundo o relatório da investigação da Polícia Federal — que desbaratou quatro grupos de policiais acusados de receber propinas milionárias e de vender armas apreendidas para traficantes da favela da Rocinha, em São Conrado, e do Morro de São Carlos, no Estácio — os policiais ligados a Oliveira haviam formado na Seop o "novo quartel general para suas atividades ilícitas".
Segundo as investigações, Carlos Oliveira chegou a pedir a transferência de policiais presos na Operação Guilhotina para prestar serviços na Seop.
Grampo telefônico da Polícia Federal, feito com autorização judicial, revela que o PM Roberto Luís Dias de Oliveira, o Beto Cachorro, ligou, no dia 14 de janeiro, às 12h27m, para o inspetor Christiano Gaspar Fernandes, peça-chave da milícia da Roquete Pinto, chefiada pelo sargento da reserva Ricardo Afonso Fernandes, o Afonsinho, pai de Christiano.
Na ligação, Beto agradeceu a Christiano pela ajuda na transferência do seu filho para a prefeitura. "O Christiano, tô te ligando aí, meu filho! Pra te agradecer aí, pra te agradecer! Cantou hoje o boletim, meu filho vindo pra prefeitura. Muito obrigado mermo (sic)!", disse o PM, que foi preso na operação e é investigado pelo desvio de armas apreendidas.
Pouco depois de receber o pedido de Beto Cachorro, o inspetor Christiano Gaspar Fernandes entrou em contato com o PM Carlos Teixeira, o Bigu, cuja transferência já havia sido publicada para a prefeitura.
Na ligação, feita às 12h28m de 14 de janeiro, Christiano pede que Bigu fale com o delegado Carlos Oliveira, a fim de que o filho de Beto Cachorro trabalhe em companhia do PM. “O filho do Beto publicou também pra lá. Aí, chegando lá, quando se apresentar, fale com o Dr. Oliveira, de repente bota ele com vocês, pra não deixar ele jogado lá”, diz Christiano num trecho da ligação.
“Eu avisei pro Beto. Aí o Beto , ah, dá uma camisa pra ele. Pô eu não sei nem o que tá reservado pra mim, como é que eu vou dar camisa para os outros?”, indaga Carlos Teixeira.
A resposta de Christiano foi incisiva e não deixa dúvida de que o delegado Carlos Oliveira pode ajudar na questão do filho de Beto Cachorro. “Tá maluco cara! Vocês é que mandam! vocês é que mandam lá”, diz o inspetor na mesma ligação.
Em outra ligação, Ricardo Afonso Fernandes, o Afonsinho, chefe da milícia da Roquete Pinto, conversa com um homem e diz que o delegado Carlos Oliveira está tentando arrumar uma lotação para Beto cachorro na prefeitura. “Ele (Oliveira) já tá lá. Vou ver o seu e o do Beto, né?”, diz Afonsinho durante o telefonema, para completar em seguida: “O Bigu foi logo... acho que é por ordem alfabética que ele falou”, completou.