RIO - Nas praias de Búzios, os banhistas são obrigados a abrir a carteira e os olhos para ameaças. Paisagens de cartão postal, mar azul e muita badalação atraem milhares de pessoas para o balneário no verão, quase na mesma proporção das irregularidades, algumas arriscadas. Neste fim de semana, uma equipe do @ILEGALeDAI esteve na cidade para um twittaço e constatou: a presença do Choque de Ordem do município e de equipes da Marinha nas areias não foi suficiente para coibir práticas ilegais, como cobrança de consumação mínima por barraqueiros e o uso de jet-skis na beira do mar.
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Veja as fotos das irregularidades em Búzios )
Na Praia da Tartaruga, a areia foi loteada. Centenas de mesas e cadeiras não deixam espaço para quem quer curtir o lugar sem virar refém dos barraqueiros. Todos exigem que os turistas, veranistas e mesmo moradores de Búzios peçam um prato de peixe e salada para dois, que pode custar até R$ 70. O funcionário de uma das barracas contou que a consumação mínima foi instituída por causa do número limitado de mesas permitido, que seria de dez para cada comerciante. Resta aos que preferem não pagar abrir sua cadeira de praia dentro d'água.
Aqui é um lugar público. Se eu quiser usar a areia vou ter que pagar? Eles não podem cobrar um valor sobre a coisa pública
Quando soube da cobrança, o empresário paulista José Carlos Pipisco, que visitava a região com a mulher e a filha, desistiu de usar as cadeiras de plástico das barracas.
— Aqui é um lugar público. Se eu quiser usar a areia vou ter que pagar? Eles não podem cobrar um valor sobre a coisa pública — disse, em tom indignado, o empresário, após recusar a proposta de um barraqueiro.
O casal de consultores Juliana Lacerda e Paulo Henrique Oliveira, que mora no Rio, aproveitou o sábado na Tartaruga com sua cadeira de praia na beira d'água.
— A gente fica refém. Não pode usar nem o espaço público. E, se não usa a mesa deles e quiser consumir, tem que pagar preços abusivos. Para vir, ou você traz suas coisas ou paga o que querem — reclamou Paulo.
Numa das entradas de Geribá, uma faixa pede aos banhistas que não paguem consumação mínima. O aviso informa que a prática fere o Código de Defesa do Consumidor. A divulgação, porém, não chega a constranger: logo adiante, o funcionário de uma barraca deixa claro que, ali, só usa as cadeiras e mesas de plástico quem pedir petisco ou um prato. A ilegalidade se repete ao longo da praia. Em frente a um dos pontos mais movimentados, onde fica o Fishbone Café, os barraqueiros pedem que o banhista consuma pelo menos R$ 60 para usar os equipamentos. A outra opção é o aluguel de duas cadeiras e uma barraca, por R$ 25. Já sabendo dos valores, a família do comerciante Irineu Andrade Silva, de Muriaé, em Minas Gerais, leva lanche e cadeiras e barraca:
— Eles tomam a praia toda. E, se a gente chega com a nossa barraca, eles olham de cara feia.
Os barraqueiros da Azeda não cobram consumação, mas o aluguel de duas cadeiras pode sair caro na praia: ontem, custava entre R$ 14 e R$ 21.
Eles tomam a praia toda. E, se a gente chega com a nossa barraca, eles olham de cara feia
— É o contrário do Rio. Aqui só te entregam a cadeira se você pagar. E uma cadeira é R$ 7. Paguei porque fica difícil sair do táxi aquático com cadeira e barraca — disse a professora de canto lírico da UFRJ Heliana Farah.
O fim de semana de sol também foi um prato cheio para os ambulantes. Alguns vendiam alimentos sem qualquer tipo de condicionamento e proteção ao lado de fiscais de posturas, que pareciam mais observar do que agir contra o festival de problemas. Na Praia de João Fernandes, a família de Mirta Cortopassi, de Buenos Aires, caiu na armadilha da promoção do camarão. O grupo pagou R$ 10 a um ambulante por quatro espetinhos, que ficavam em um tabuleiro, sem cobertura e sob sol forte.
— Não sabia que era proibido ou perigoso. Em Buenos Aires, como é frio, não teria perigo. Agora, não compro mais camarão — disse Mirta.
Todas as irregularidades flagradas pela equipe do GLOBO serão encaminhadas aos órgãos competentes.