Autor da maior audiência das telenovelas da Globo nos últimos 18 anos, Aguinaldo Silva, 71, tem uma dura missão pela frente. Levantar o ibope da faixa das 21h, que desabou de um patamar de 40 pontos na reta final de Amor à Vida, em janeiro, para 30 neste mês de encerramento de Em Família. Para quem já passou dos 50 pontos, não parece ser impossível, mas o experiente Silva sabe que os tempos são outros e adota um discurso humilde, embora persiga o sucesso quase obsessivamente.
"Não me sinto pressionado quando escrevo minhas novelas, independente de qual foi exibida antes e de qual será exibida depois", desconversa o mentor de Império, que a Globo põe no ar no próximo dia 21. Assim como Senhora do Destino, a novela recordista de ibope de Silva, Império será um "novelão" clássico, na definição do autor. Na trama central, contará a história de um anti-herói que do nada constrói uma rede de joalherias.
Entre os compromissos de apresentação da novela à imprensa, na semana passada, Silva concedeu a seguinte entrevista por e-mail:
Notícias da TV - No último dia 28, completaram-se dez anos da estreia de Senhora do Destino, novela que teve média de 50,5 pontos, a maior audiência desde 1996. Por que o recorde de Senhora do Destino não foi batido? Será um dia superado?
Aguinaldo Silva - De lá para cá, muita coisa mudou. E digo isso em vários aspectos. A forma como levar a vida, a agilidade da informação, o poder aquisitivo dos brasileiros e a forma como consumimos produtos de entretenimento são alguns exemplos disso. Acredito que as novelas não mudaram, mas sim a forma como elas são consumidas. Temos outros tipos de mídias e plataformas de exibição, na internet, no mobile. Tudo isso interfere na medição da audiência da televisão.
Notícias da TV - Nesses dez anos, o público de telenovela mudou por causa da TV paga e da internet? Ele exige uma telenovela mais ágil, como os seriados americanos?
Silva - O público não mudou, acredito que seja o mesmo. Como disse acima, o que mudou foi a forma de consumir novela.
Notícias da TV - Como se apresenta Império neste cenário de mudanças e alta competitividade?
Silva - Império vai se apresentar da maneira como gosto de escrever novelas: com muitos ganchos, com foco em trama, e não em temas.
Notícias da TV - É possível traçar algum paralelo entre Império e Senhora do Destino?
Silva - São dois novelões, folhetins clássicos, com muito romance, drama e aventura.
Notícias da TV - O sr. se sente pressionado a dar mais audiência do que Em Família? Tem uma meta?
Silva - Não me sinto pressionado quando escrevo minhas novelas, independente de qual foi exibida antes e de qual será exibida depois. A minha meta sempre foi e continua sendo escrever capítulos que envolvam o público.
Notícias da TV - Na sua opinião, novelas como Em Família, baseadas no "cotidiano", sem um arco dramático de envergadura, não têm mais espaço no horário nobre?
Silva - Como falei, acredito nas novelas e acho que todas têm espaço. O público continua vendo novela! E gosta.
Notícias da TV - Para fazer sucesso, é preciso ser popular?
Silva - Não escrevo pensando em fazer sucesso, acho que isso é consequência. Escrevo porque amo o que faço. Sobre ser popular, acredito que precisamos, sim, nos aproximar da realidade dos telespectadores, mas isso independe de ser popular ou não.
Notícias da TV - Nos últimos anos, vilões como Carminha e Félix fizeram mais sucesso que os mocinhos. Império terá um vilão à altura dos citados ou será mais centrada na mocinha?
Silva - Império terá todo tipo de personagem, alguns com características muito parecidas com um verdadeiro anti-herói, que é o tipo de personagem que mais se aproxima da nossa realidade. Teremos os vilões “clássicos” também. Maria Marta (Lilia Cabral) e Cora (Drica Moraes) são alguns exemplos.
Notícias da TV - A propósito, o que caracteriza os principais personagens de Império?
Silva - Todos sabem muito bem quem são, de onde vieram e onde querem chegar. Essas características já são passadas logo nos primeiros capítulos.
Notícias da TV - Império também terá vários personagens gays. É verdade que o senhor escreverá cenas de sexo entre eles, mas sem beijo? Por quê?
Silva - Também não escrevo minhas cenas pensando nisso. Aliás, beijo gay não é mais novidade, não é mesmo?