Peça-chave no inquérito que apura as agressões cometidas pelo pré-candidato a prefeito do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Carvalho, o perito da Polícia Civil, Francisco Mourão, de 59 anos, diz que não se lembra mais do caso.
Conforme revelou VEJA no ano passado, Alexandra Marcondes Teixeira procurou uma delegacia em 2010 para acusar o então marido de agredi-la com socos e chutes. Na ocasião, Mourão assinou um laudo corroborando o relato de Alexandra - e é justamente sobre este documento que ele vai falar amanhã na Justiça Federal do Rio.
VEJA localizou Mourão por telefone no fim de semana. Sem demonstrar vontade de conversar sobre o caso, o perito afirmou ter dificuldades de lembrar-se de cada vítima que atendeu no Instituto Médico-Legal (IML) em 16 anos de profissão: "Não me lembro deste laudo. Naquela época fazíamos cerca de 50 exames por dia", afirmou o perito, hoje lotado na Delegacia de Homicídios da Barra da Tijuca.
Em 7 de fevereiro de 2010, Mourão escreveu um laudo com uma série de detalhes sobre o estado de Alexandra. Além de descrever escoriações no corpo, o perito relatou uma lesão no dente de número 22 da ex-mulher de Pedro Paulo. "Vou solicitar esse laudo lá na hora. Não estava nem sabendo direito deste caso. Só na terça-feira passada é que vi no jornal que teria que depor", afirmou Mourão, mesmo com a intensa repercussão dos episódios envolvendo Pedro Paulo e sua ex-mulher desde o fim do ano passado. Sobre a ausência de fotos da vítima no inquérito que apura as agressões de Pedro Paulo, mais uma resposta evasiva de Mourão: "Se não fiz fotos na ocasião é porque não achei necessário".
Desde o início deste ano, o caso começou a ter uma reviravolta com novos depoimentos dados por Alexandra e a babá do casal, Ana Paula Bernardes. Alexandra gravou um vídeo dizendo que foi ela quem agrediu Pedro Paulo após descobrir uma traição. E Ana Paula, que depôs como testemunha da vítima em 2010, disse que não havia presenciado nenhuma agressão no passado. A Polícia Federal chegou a pedir o arquivamento do caso, mas o Ministério Público pediu o depoimento de Mourão para concluir as investigações.
VEJA também questionou Mourão sobre o laudo apresentado pela defesa de Pedro Paulo assinado pelo perito Roger Vinicius Ancillotti. O documento desacredita por completo o exame de corpo de delito feito em 2010. Foi o único momento que Mourão mudou um pouco o tom da sua fala: "O que vale é o que eu escrevi no laudo. Nada mais ou nada menos. Estou dentro do túnel Rebouças, tenho que desligar o telefone".
Na Corregedoria da Polícia Civil, Roger Ancillotti é investigado em um procedimento para apurar se o servidor 'violou o código de ética da instituição ou se forneceu informações inexatas' ao atuar na defesa de Pedro Paulo. O perito contratado chega a levantar a hipótese de Alexandra ter praticado autoflagelação para ficar com as marcas detectadas no laudo do IML.
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