O apelido foi uma invenção da imprensa. A imagem do corredor da
África do Sul, Oscar Pistorius, remetia às figuras dos androides do
filme famoso na década de 80.
Um problema genético fez com que ele tivesse as duas pernas amputadas
aos 11 meses de vida. O garoto Oscar aprendeu a se equilibrar sobre
duas próteses, aprendeu a correr e surpreendeu o mundo pela velocidade.
O desempenho dele se equiparava ao de muitos atletas de ponta. Com o
detalhe de que ele não tinha pernas. Sim, pra ele era só um detalhe.
Parecia mesmo algo sobrenatural, quase coisa de androide.
Assim ele ficou conhecido: o Blade Runner do atletismo. Essa foi uma
das minhas perguntas ao corredor. Queria saber se ele se incomodava com o
apelido.
E a resposta: "Nem gosto, nem deixo de gostar. É apenas um apelido que meus amigos não usam, mas que não me incomoda".
Nosso encontro foi num evento de promoção dos jogos paraolímpicos na
última segunda-feira, em Manchester. Rodeado de outros atletas que, como
ele, também superaram limitações extremas e se tornaram campeões,
Pistorius foi a grande estrela do evento.
Todos queriam uma foto com o dono de quatro ouros nas edições das
paraolimpíadas de Pequim e Atenas. Agora Pistorius está treinando para
chegar às Olimpíadas de Londres, pra disputar com atletas sem deficiência.
Depois de provar na justiça esportiva que não leva vantagem sobre os
adversários pelo uso das próteses, ele tem direito a disputar as provas
convencionais do atletismo.
E já fez isso no ano passado. No mundial de atletismo da Coreia do
Sul o atleta ajudou o país dele a conquistar a prata no revezamento.
Também já alcançou o índice olímpico, correu a prova dos 400 metros
abaixo dos 45 segundos e 30 centésimos estipulados pela delegação
sul-africana. Mas precisa repetir o feito até o fim de junho pra se
garantir em Londres.
Se conseguir será a primeira vez no atletismo olímpico que isso
acontece. Mas por que competir uma olimpíada se ele já é consagrado nas
paraolimpíadas, respeitado e admirado no mundo inteiro?
Com serenidade ele responde: "Isso não faz a menor diferença. Sou
apenas eu, correndo a mesma prova, na mesma pista, com as mesmas
próteses, tentando ser o mais rápido que posso o melhor atleta que
posso. Se isso me levar às paraolimpíadas, me sentirei abençoado. Se me
levar às olimpíadas, também", diz.
Seja aonde chegar, Pistorius vai calmo, seguro. Confiante,
sorridente. E me avisou: estará também no Rio de Janeiro em 2016. De
androide, não tem nada. Mas, sem dúvida, é um humano bem especial.
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