Tranquilos até poucos dias atrás com o tiroteio entre PT e oposição, que
mantinha o PMDB distante do alvo central da CPI do caso Cachoeira,
integrantes da cúpula do partido começaram a se mobilizar no fim de
semana para tentar blindar o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e
evitar que seja aprovada sua convocação para depor logo no início dos
trabalhos. Dirigentes peemedebistas não escondiam nesta segunda-feira o
desconforto e a preocupação com a superexposição das relações de Cabral
com o dono da Delta, Fernando Cavendish, em fotos divulgadas pelo
ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ).
A avaliação
feita em conversas reservadas era de que a CPI começa a caminhar com as
próprias pernas, e que a cúpula do PMDB terá que rever sua estratégia
inicial de se manter à margem da CPI que nunca quis. Por isso, apesar do
feriado de hoje, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), chega
a Brasília para uma reunião com o presidente licenciado do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), e com o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB),
para discutir como conduzir o caso e não deixar que o foco da CPI
extrapole o objeto de sua criação: o esquema Carlinhos Cachoeira, Delta e
o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).
A
preocupação é com o descontrole das investigações além dos limites dos
negócios da Delta no Centro-Oeste - que podem atingir os governadores
Marconi Perillo (GO) e Agnelo Queiroz (DF). O governador do Distrito
Federal é o único que já tem pedido de inquérito aberto pelo
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, sob a alegação de que
assessores receberam propina para facilitar contratos em seu governo.
Marconi Perillo é acusado de relações estreitas com o grupo de Cachoeira
e Demóstenes, que teriam indicado servidores em postos de alto escalão
em seu governo. Mas não há ainda inquérito ou gravações que o incriminem
diretamente.
Um dos
representantes do PMDB na CPI, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES)
disse, num primeiro momento, que seria inevitável a convocação de
Cabral.
” Será uma
oportunidade para ele se explicar sobre as denúncias de que privilegiou a
Delta por ser amigo do Fernando Cavendish. Não faria sentido chamarmos
outros governadores acusados de envolvimento na teia da CPI, como o
Perillo e o Agnelo, e deixarmos o Cabral de fora só porque pertence ao
PMDB ou porque governa o Rio”, declarou Ferraço no domingo ao site IG.
Nesta
segunda-feira, depois da mobilização da cúpula peemedebista, Ferraço
estava mais cauteloso, alegando que Garotinho estava fazendo disputa
política: “O Renan me deu liberdade
para agir de acordo com minhas convicções. E minha convicção é que não
vou ser instrumento de lutas regionais. Pode tirar o Garotinho da
chuva!”, disse Ferraço, ontem, ao GLOBO.
Preferindo manter-se no anonimato, um deputado do PMDB faz a mesma avaliação que Ferraço: “A
CPI começa a ganhar rumo próprio. Quem é que vai convocar o Perillo e o
Agnelo e depois botar a cara lá para defender o Cabral? Quem defender
Cabral vira alvo. Como que o Renan, que quer ser presidente do Senado,
vai defender isso? Só por baixo dos panos”.
Nas
conversas de bastidores, peemedebistas avaliaram que a situação de
Cabral se complicou muito no final de semana com a divulgação dos vídeos
e fotos. Mas a ordem interna é não alimentar essa polêmica. “A
CPI é para investigar o Cachoeira e as investigações das operações da
Polícia Federal. Se tem outras ramificações, lá na frente a CPI terá que
investigar. Temos que aguardar o plano de trabalho da comissão para ver
onde e o que tem de ligação com Cachoeira”, disse ex-líder do governo
no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ressaltando que não é da CPI.
Cabral, que
não tem relação estreita com seus partidários no Congresso, está
procurando aproximação maior e sondou pessoas do partido para refutar
suspeitas de que privilegiou a Delta.
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